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REPORTAGEM

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Guilherme Clezar entra no mercado financeiro

Acervo pessoal/Guilherme Clezar
Imagem: Acervo pessoal/Guilherme Clezar

Colunista do UOL

19/06/2021 09h55

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Enquanto se recupera de cirurgias recentes realizadas nos dois pés, o gaúcho Guilherme Clezar, 28 anos, mergulha de cabeça no mercado financeira. Já era uma paixão sua há algum tempo, e ele vai aproveitar a pausa para trabalhar no escritório Origem Invest, filiado ao Safra Invest, do banco Safra, em Porto Alegre. Neste fim de semana, Clezar publicou em sua conta no Instagram um texto contando um pouco de sua história. Reproduzo abaixo, na íntegra. É bastante interessante ver a relação que ele enxerga entre o tênis - e as habilidades que adquiriu no esporte - e a nova profissão.

Quando eu tinha 21, meus pais falavam "por que tu não faz uma faculdade?", e eu respondia com aquela cabeça de menino: "Quando eu parar de jogar, dou um jeito." Muita coisa passou e hoje, aos 28, estou aqui, formado em administração, licenciado como assessor de investimentos e prestes a fazer parte do escritório Origem Invest, filiado ao Safra Invest, do banco Safra, em Porto Alegre. Este texto é para contar a vocês como isso aconteceu.

Eu fui número 13 do mundo como juvenil, e quando a gente tem a cabeça de juvenil, a gente acha que vai chegar, que em 3-4 anos vai conseguir ser top 100, que vai jogar todos grand slams e zerar a vida. Quando chega no profissional, a gente descobre que não é assim. Todo mundo batalha, treina, mete raça, viaja e passa por dificuldade. E todo mundo joga bem também.

Com 24-25 anos, eu não tinha chegado perto dos 100 do mundo. Tinha sido 153, mas ainda não tinha conseguido dar "aquele" passo realmente para ter uma carreira sólida, que me colocasse em um patamar acima. Ali bateu um desânimo muito grande. Felizmente, nessa época eu me aproximei do Larri Passos, que foi muito importante para mim. Ele me agregou valores como pessoa. Uma coisa que te prepara para a vida inteira é saber que tu tem que acordar, trabalhar, saber que nada vai vir fácil. Todo dia tem que ir lá e batalhar, correr atrás das coisas que tu quer. Nada vem de graça.

Quando a gente viaja e não está jogando nem treinando, fica com um tempo ocioso que pode ser até perigoso. A gente começa a ver besteira e ocupa a cabeça com coisas que não são boas. Depois que eu dei uma amadurecida, pensei em ocupar a cabeça com coisas que pudessem me dar munição no futuro. Vi que a carreira de tenista, obviamente, não iria durar pra sempre, e eu sabia que em algum momento teria que fazer outra coisa. Não sabia o quanto eu ia acumular financeiramente com o tênis nem se eu ia viver para o resto da vida com aquilo. "Quero ter caminhos na minha vida." Foi isso que eu pensei.

"Por que mesmo eu não faço uma faculdade?" Tinha tempo livre, iria me agregar, então comecei a fazer e comecei a gostar de ter a cabeça ocupada. Acabei a faculdade em três anos e meio. E minha entrada no mundo dos investimentos foi engraçada. Depois que eu parei de treinar com o Larri, comecei a viajar com o Ricardo Hocevar e o Fernando Roese. O Ricardo começou a me falar sobre ações, e meu pai também era bastante ligado nisso. Ele falava "todo mês tu compra 100 ações da Itausa". Comecei a fazer isso, mas sem saber onde eu estava pisando.

Obviamente, eu ainda estava focado no tênis. Eu treinava cinco horas por dia e, quando acabou a faculdade, eu ficava vendo coisa idiota no tempo livre. Ficava no Instagram e nessas baboseiras que, no fim, não agregam muito. Então comecei a ocupar meu tempo vendo vídeos sobre investimentos no YouTube. Ficava 2h, 3h pesquisando. Fui me aprofundando, conhecendo os indicadores das empresas, como elas trabalhavam...

A primeira ação que eu comprei foi a Itausa, que é muito popular no mercado. Todo mundo começa com ela porque é a holding controladora do Itaú, então é uma ação teoricamente segura. É o banco que tem o maior market cap do Brasil. A segunda foi a Mahle metal leve. Essa aí eu comprei porque assinei uma carteira recomendada de uma casa de análise, e uma das ações que estavam lá era a Mahle metal leve. Ela é do ramo de autopeças e era uma empresa bastante segura e que distribuía bastantes dividendos.

O tenista é muito favorecido quando migra para o mercado financeiro. A gente passou por tanta dificuldade e tanto perrengue que a gente cria uma carcaça, consegue traçar um plano muito bom e segui-lo. De uns 2-3 anos para cá, comecei a investir o dinheiro do meu pai e o da minha namorada. Hoje, na família, todo mundo me tem como referência.

A pandemia foi uma loucura. Chegou um momento em que não teve carteira de gestor que não desvalorizou 40-50%. Nesse momento... tem uma frase no mercado financeiro que diz "compre ao som de caminhões e venda ao som de violinos". Quando tem crise, é o momento de comprar porque está todo mundo querendo se desfazer das ações, e elas vão estar relativamente baratas em empresas que, a longo prazo, são boas e vão ser favorecidas. Eu sempre tive uma carteira balanceada. Eu balanceava sempre em renda fixa, fundo de ações, fundos imobiliários. Tinha uma boa diversificação. Ela poderia ter caído muito mais se eu não tivesse esse balanceamento, mas mesmo assim ela caiu. Foi aí que eu tive essa frieza - que veio do esporte - para poder fazer umas compras nesse momento crítico. As ações que eu comprei na pandemia já se valorizaram bastante. Desde que eu comecei a investir, a minha carteira está com uma rentabilidade de mais ou menos 60%.

Neste ano, eu fui diagnosticado com Síndrome de Haglund. É uma saliência no osso que fica raspando no tendão. Eu jogava uma partida e tudo bem. Jogava duas, começava a sentir muita dor. Na terceira, eu quase não conseguia andar. Operei os dois pés. Falei com a ATP e pedi um ranking protegido. Tenho que ficar seis meses sem jogar. Nesse período, fiz a prova para obter a licença como assessor de investimentos e passei com mais de 90%. Seis meses são um tempo legal para acertar a vida. Até setembro, vou me ajeitar aqui, ver o que tenho de opções e ver como ficam os meus pés. Quando setembro chegar, verei se tenho vontade de voltar a jogar.

Nada ensina tanto na vida quanto uma derrota, e no tênis a gente perde toda semana. O esporte é uma escola que deixa a gente com uma carcaça para o que vem depois. Qualquer atleta profissional tem isso muito latente e é por isso que depois que ele para de jogar, ele se dá bem na vida. Por ter esse fogo dentro de si, por querer mais, por correr atrás das coisas e não esperar que elas caiam do céu. A vida de tenista ensina isso mais do que qualquer coisa. No esporte, se tu tão tem isso, se tu não tá disposto a acordar e matar um leão por dia, o circuito te come vivo. E é isso que eu levo para essa nova fase da vida.

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