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Rio Open corre risco em 2021, mas faz opção sensata ao não encarar pandemia

Quadra Guga Kuerten na final do Rio Open 2020 - Fotojump
Quadra Guga Kuerten na final do Rio Open 2020 Imagem: Fotojump

Colunista do UOL

17/12/2020 08h33

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A organização do Rio Open anunciou, na noite de ontem, que o torneio não será realizado em fevereiro de 2021. Isso não significa, necessariamente, que o evento não acontecerá. A promotora ainda vai conversar com a ATP sobre outras datas disponíveis e estudar a viabilidade de fazer o ATP 500 carioca em outro momento do ano que vem.

Por outro lado, significa que o evento corre o risco de não acontecer. Há muita a coisa a considerar como, por exemplo, os possíveis cancelamentos dos torneios de Indian Wells e Miami, o deslocamento dos outros torneios sul-americanos para março e outros eventuais efeitos-cascata com torneios sendo deslocados aqui e ali. É seguro dizer que não será fácil encaixar o Rio Open em uma data que seja boa ao mesmo tempo para o torneio e para a ATP. Além disso, é preciso considerar todas as incertezas relacionadas à pandemia especificamente no Brasil, onde a corrida pela vacina tornou-se parte de uma guerra política e ideológica que só prejudica a população.

Antes de ir mais longe no assunto, que fique claro: a decisão é da IMM, promotora do torneio. Mesmo com o deslocamento do Australian Open para fevereiro, o Rio Open poderia ser realizado em março, juntamente aos ATPs 250 de Córdoba e Buenos Aires (datas ainda não oficializadas pela entidade), mas o comunicado de ontem é um indício de que essa não é uma possibilidade que vem sendo considerada. E também é preciso dizer: é a decisão mais sensata que a IMM podia tomar.

"A IMM tem rígidos processos de governança, compliance e gestão de riscos. Nossas políticas estabelecem rígidos processos de avaliação de riscos em todos os nossos negócios. De acordo com esses critérios, a realização de eventos do porte dos nossos em meio a pandemia trazia riscos de diversas naturezas, sendo o principal a saúde das pessoas. Diante disso, tomamos a decisão de cancelar os eventos", declara Alan Adler, presidente da IMM.

O comunicado da empresa diz ainda que "As regras de governança e as políticas internas da empresa privilegiam a mitigação de riscos que possam ameaçar a integridade do público que nos privilegia com sua presença, e a reputação das marcas dos nossos parceiros. A determinação foi de que só voltaríamos a realizar eventos quando fosse possível estabelecer protocolos que assegurassem a segurança de colaboradores, fornecedores e das pessoas que nos confiam seu momento de lazer. Como ainda não foi possível efetivar essas medidas, não restou outra medida a não ser a não realização do Rio Open em fevereiro."

A frase de Adler, que se refere também à São Paulo Fashion Week e ao Taste, é correta, e vale aqui tentar entender um pouco do que está escondido atrás do corporativês. Indo além da óbvia questão da preocupação da IMM com a saúde dos espectadores (e não vejo motivo para duvidar de que esse sentimento seja genuíno), o primeiro ponto é a questão de patrocinadores. Ninguém da IMM vai falar oficialmente - e ninguém me disse nem em off - mas nenhum executivo de marketing forçaria a barra para ter seu nome em um evento realizado potencialmente durante um segundo pico de covid. A repercussão e o dano à imagem seriam catastróficos. Isso vale também para a "marca" Rio Open, o que prejudicaria a captação de outros futuros patrocínios - ou "parcerias", como eles preferem.

Outro ponto, não citado pela IMM, é o Australian Open, que não começará em janeiro. Em 2021, o AO será de 8 a 21 de fevereiro, o que tornaria mesmo inviável fazer o Rio Open em sua na data original (15 a 21). A promotora do ATP 500 carioca jamais usa o torneio australiano como argumento, e isso faz sentido. Afinal, seria possível deslocar o Rio Open para março, mas, até onde sei, esse movimento não é fortemente considerado pelos organizadores. Por quê? Justamente pelas incertezas relacionadas à pandemia. Ninguém em plena consciência pode prever que o cenário pandêmico da Cidade Maravilhosa mudará muito em questão de algumas semanas.

E na impossibilidade se se fazer uma previsão razoável, entra em jogo a questão financeira. O Rio Open é um torneio que precisa de cerca de três meses para ser "colocado de pé" porque envolve erguer uma quadra com capacidade para seis mil pessoas, além de toda estrutura de área VIP, praça de alimentação e tudo mais. Imaginem o prejuízo que o torneio teria se, depois de dois meses, ficasse cristalina a impossibilidade de levar a competição adiante? Colocaria em risco a saúde financeira da IMM e, consequentemente, a continuidade do Rio Open. Logo, a opção da promotora pelo caminho mais cauteloso é também, a opção mais sensata.

Coisas que eu acho que acho:

- Como já escrevi acima, acho difícil que Rio Open e ATP achem uma data boa o bastante para ambos. Eu gostaria de ver o ATP 500 carioca em outubro, na semana seguinte à do Challenger de Campinas. Seria, contudo, muito difícil fazer um evento desse porte em outubro e organizar o Rio Open de 2022 novamente em fevereiro, quando o tênis e o mundo voltarem ao "normal".

- Se já é difícil atrair nomes de peso para o Rio Open anualmente em fevereiro, que jogador toparia vir ao Rio de Janeiro no meio da pandemia durante a segunda semana do Australian Open? Ou em março, junto aos ATPs argentinos (que, repito, ainda não foram confirmados oficialmente no calendário)?

- Mudaria algo se o Rio Open fosse disputado em março e sem público? Acredito que não muito no quesito "atrair jogadores", até porque, repito, ninguém garante que a pandemia estará contida no Brasil até lá. Este, aliás, nem deveria ser o fator principal para os promotores. Quem já foi ao torneio carioca sabe que é um evento que não faz muito sentido sem as milhares de pessoas que circulam por lá diariamente.

- Como ilustrado no tweet, a ATP anunciou um calendário para as primeiras semanas do ano que inclui dois ATPs 250 e a ATP Cup disputados na mesma semana em Melbourne. Será confuso, mas foi a solução que a Tennis Australia, federação australiana, encontrou para lidar com o rígido controle das autoridades de saúde do estado de Victoria. A Austrália, lembremos, foi um dos países menos afetados pelo novo coronavírus, e a rigidez explica. A intenção é nobre: com tantos eventos juntos, a meta é dar oportunidade para que mais jogadores disputem partidas oficiais (e ganhem dinheiro) antes do primeiro slam do ano.

- Se eu acho que o Rio Open de 2021 vai ser realizado, de algum modo, em outra data? Não, não acho. E isso, pelo menos até o controle da pandemia, é a opção mais sensata. E assim a edição de 2022 não corre risco.

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