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Covid, separação e seca em slams: Soares supera obstáculos até título em NY

Divulgação/USTA
Imagem: Divulgação/USTA

Colunista do UOL

11/09/2020 04h00

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Muita coisa aconteceu desde o US Open de 2016, palco do segundo título de Bruno Soares nas duplas, e o torneio nova-iorquino deste ano, quando o brasileiro finalmente levantou um troféu de slam novamente. Aos 38 anos, o mineiro passou quatro anos sem sequer disputar uma semifinal de torneio desse nível, trocou de parceria, viveu um momento de frustração ao lado do atual parceiro, o croata Mate Pavic, e, durante a pandemia, separou-se da esposa e contraiu covid-19.

Dentro de quadra, o drama nem foi tão grande. Junto com Jamie Murray, Bruno ainda conquistou um Masters 1000 (Cincinnati/2018) e quatro ATPs 500 em 2017-18. Faltava voltar a brigar por títulos de slams, mas em maio de 2019 Murray quis o fim da relação. O mineiro, então, buscou Pavic, 11 anos mais jovem e ex-número 1 do mundo, para seguir competitivo. O novo time, porém, demorou a engrenar. Os dois começaram a atuar juntos na temporada de grama de 2019 e perderam quatro das primeiras seis partidas.

Dúvidas com novo parceiro

"Durante a minha parceria com o Jamie, não teve [momento de desânimo], não. Por mais que depois de 2016 a gente não teve nada muito especial nos grand slams, a gente continuou ganhando título grande, Masters 1000, estava sempre no ATP Finals. Quando eu troquei e comecei a jogar com o Mate, foi um final de ano... Até Xangai, foi bem frustrante porque eu sentia que a gente estava jogando bem e não ganhava. Não conseguia dar sequência, não ganhava 2-3 jogos, não fazia quartas. Era sempre... Um bom jogo, perdia no tie-break, alguma coisa assim. Levamos uma virada em Wimbledon jogando super bem. E foi indo, foi indo, foi indo até que eu já estava meio... 'O que está acontecendo?' Você começa a duvidar um pouco da situação."

Até que veio a conquista no Masters 1000 de Xangai, no segundo semestre, com vitória sobre Marcelo Melo e Lukasz Kubot na final. Uma luz que deixou mais claras as possibilidades da parceria. Ainda assim, faltava um pouco de sorte. "A gente foi para Estocolmo e, na semifinal, ele [Pavic] se machuca. No início do ano, vamos para Doha. Um dia antes de jogar, ele se machuca de novo. Não conseguimos jogar as duas primeiras semanas. Mas eu acho que a gente estava sempre ali, buscando encontrar."

Separação fora de quadra

Soares e Pavic foram eliminados do Australian Open nas oitavas de final, perderam nas quartas no Rio Open e caíram na estreia no ATP 500 de Dubai. Para piorar, junto com os resultados que não eram os ideais, Bruno enfrentou problemas fora de quadra. O período da pandemia foi duro e não só pela falta de competições durante cinco meses. O mineiro separou-se da esposa, colocando fim a um relacionamento de mais de 20 anos.

"Acho que uma coisa que aconteceu comigo [separação] na pandemia me fez repensar várias vezes o momento e tal. Sempre tem aquele incômodo positivo na cabeça de que eu ainda posso render mais. Eu ainda estava trabalhando muito forte fisicamente, que era a única coisa que eu podia fazer."

Covid antes de voltar a competir

Para piorar, nos últimos dias antes da viagem para Nova York, Bruno contraiu covid-19, e o mesmo aconteceu com os dois filhos.

"Eu terminei de treinar um dia e comecei a sentir um cansaço um pouco a mais do que o normal, o corpo bem fraco. Estava com o nariz entupido. Falei 'vou lá testar para tirar isso da cabeça mesmo.' Aí testei positivo, achei melhor não divulgar e não dar muito ibope pra isso. Não via necessidade. Fiquei quieto, isolado mesmo. O único problema é que foi aos 45 do segundo tempo (risos). Foram exatamente os 15 dias antes de eu viajar. Quando fiquei liberado para viajar, que eu estava negativo, eu vim", contou, de Nova York, após o título.

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No Masters 1000 de Cincinnati, que foi disputado em Nova York por causa da "bolha" de segurança, Bruno e Mate perderam na estreia. E, se há males que vêm para bem, a derrota caiu como uma luva nos planos da parceria.

"Para Cincinnati, pesou um pouco a parte física. O ar não era o mesmo. Eu sentia que estava ficando um pouco ofegante mais rápido que o normal. Acho que no final acabou dando tudo certo. Acabei tendo 15 dias em Nova York para me preparar dentro das condições que a gente ia encontrar aqui no grand slam. Acho difícil falar que deu alguma coisa errada estando aqui segurando o troféu."

Motivação e chama acesa

Conquistar um título de slam na reta final na carreira tem um significado diferente. O troféu do US Open, que vem junto com os US$ 200 mil do prêmio em dinheiro, traz também uma afirmação: mesmo aos 38, é possível mais.

"Aos 38 anos, depois de alguns altos e baixos, quatro anos depois do meu último título de grand slam, poder voltar a segurar um troféu desses é uma sensação muito especial. Apesar de eu me sentir muito bem fisicamente e jogando um nível de tênis muito alto ainda, é óbvio que eu já estou no estágio final da minha carreira. Só o tempo vai dizer se vão ser um, dois três anos... Mas você já começa a enxergar o outro lado da coisa. Então, para mim, cada momento desses passa a ter um gostinho mais especial. Eu sei que essa sensação está perto do fim, mas ainda quero muito mais ter essa sensação. [O título] me dá muita força para seguir trabalhando duro e acreditando que quando eu estou jogando o meu melhor, quando eu e Mate estamos conectados, a gente pode encarar qualquer dupla e ganhar qualquer torneio."