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Luisa Stefani: "Não tenho dúvida que a gente pode ganhar um slam"

Luisa Stefani (esq.) comemora vitória no WTA 125 de Newport Beach em 2020 - Divulgação/Oracle Challenger Series
Luisa Stefani (esq.) comemora vitória no WTA 125 de Newport Beach em 2020 Imagem: Divulgação/Oracle Challenger Series

Colunista do UOL

12/02/2020 09h44

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O caminho de Luisa Stefani, que acaba de entrar no top 50 do ranking mundial de duplas, não é dos mais comuns no tênis profissional. A paulista começou na modalidade apenas aos 10 anos. Aos 14, deixou o Brasil e foi morar com a família na Flórida. Lá, jogou pelo high school - equivalente ao ensino médio brasileiro - e deu sequência aos treinos no tênis universitário.

Hoje, aos 22 anos, Luisa se tornou um raro caso de brasileiro que deixa o circuito estudantil e rapidamente mergulha na elite do esporte. Em 2019, sua primeira temporada completa como profissional, ela conquistou títulos de todos os tipos em todas as superfícies.

Começando em janeiro, conquistando o W25 (torneio feminino com US$ 25 mil de premiação) de Guadalupe, depois venceu outros W25 em São Paulo e Curitiba, em março. Em junho, ao lado de Bia Haddad, foi campeã do W100 de Ilkley, na grama. Na reta final da temporada, juntou-se à americana Hayley Carter, e o sucesso foi quase imediato. Juntas, foram vice no WTA de Seul, campeãs do WTA de Tashkent e levantaram mais um troféu no W60 de Colina, no Chile. Luisa ainda terminou o ano vencendo um WTA 125 em Houston.

O início de 2020 foi ainda mais animador. Luisa e Hayley alcançaram as oitavas de final o Australian Open e, logo na sequência, venceram o WTA 125 de Newport Beach, nos Estados Unidos. Tantos resultados bons deixaram Luisa como #45 do mundo em duplas e com chances de disputar todos os grandes eventos do circuito.

Antes de Luisa embarcar para o Oriente Médio para os fortíssimos WTAs de Dubai e Doha, sentamos para um longo papo na MEM Tennis, aqui em São Paulo. Ela contou o início de sua trajetória, ressaltou o quanto a universidade fez bem para seu crescimento como pessoa e atleta e mostrou otimismo com os resultados recentes. Ela já acha, por exemplo, que pode conquistar um slam em breve. Confira a íntegra do papo!

Eu sei que você começou a jogar tênis com 10 anos, o que é tarde para o tênis. Mas onde foi? Como? E por quê?

Eu fazia muitos esportes. Eu tenho um irmão mais velho, que chama Arthur. A gente sempre fez vários esportes. Eu fazia todos esportes da escola. Jogava vôlei, basquete, fazia natação fora, taekwondo, fazia futebol também fora da escola. Adorava esporte no geral.

Nessa competição toda, por que o tênis ganhou?

A gente ia pra praia todo verão, meus avós tinham casa no Guarujá. Eu e meu irmão, a gente adorava brincar de frescobol. Minha mãe era meio ruim, aí ela decidiu se inscrever na aula de tênis, numa academia em Perdizes que se chama B. Sports, para ela melhorar e conseguir jogar frescobol com a gente. Ela gostou e colocou eu e meu irmão para jogar também. Não foi nada planejado, era só para a gente fazer mais um esporte. A gente fazia aula em grupo sábado de manhã e começou a gostar. Depois passou para duas aulas por semana, depois três, depois tive que tirar o futebol e os outros esportes para fazer mais tênis. E decidi que queria jogar só tênis.

E por que o tênis?

Eu não tinha uma razão específica. Eu me apaixonei, gostei, falei "meu, acho que esse é o esporte. Gostei." Eu também amava jogar vôlei, mas não era tão alta e tal. Apaixonei e fui. Eu jogava feliz. Não era nem "quero ser número 1 do mundo." Não. Foi tipo "gosto de jogar, quero jogar sempre, estou fissurada."

Você foi para os Estados Unidos em 2011?

Eu tinha acabado de fazer 14 anos.

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Você já foi para jogar tênis por alguma high school?

Foi um pouco de tudo. Foram várias coisas que meus pais levaram em consideração. São Paulo estava muito caótica. Muito trânsito, estava ficando mais caro, qualidade de vida, tênis, oportunidades, tudo. Acho que meus pais já estavam pensando em se mudar, tinham algumas opções. Aí a gente fez uma clínica de tênis de uma semana nessa academia que eu treino, a Saddlebrook. Quando eu treinava na B. Sports, eles levaram um grupo de alunos para fazer uma clínica e ver como era. A gente gostou, e aquilo foi impactante no sentido de ver o nível, de ver como era diferente o tênis lá fora e no Brasil. E quando a gente teve essa oportunidade de sair, meus pais queriam dar a oportunidade para mim e pro meu irmão de a gente aprender inglês e também ter a chance de treinar numa academia de alto rendimento nos Estados Unidos, que a gente viu que fazia muita diferença. Quando surgiu a oportunidade, eu e meu irmão, a gente falou "vamos". A gente era pequeno, é difícil tomar uma decisão dessas. Se a gente tivesse falado não, provavelmente a gente não teria ido, mas a família foi toda [os pais hoje moram no México]. E acabou dando certo. A gente foi um tempo antes, para visitar algumas academias, e a gente acabou ficando com a Saddlebrook e estou fiel, estou lá ainda.

Você teve resultados bons como juvenil e chegou a ser top 10. Jogar tênis universitário era a sequência do que vocês tinham planejado?

Não foi o que eu tinha planejado. Acho que talvez meus pais tinham essa visão de levar as crianças para os Estados Unidos, treinar e melhorar no tênis e aí eles têm a oportunidade ir para o college com bolsa. Acho que essa era uma mentalidade mais dos meus pais. Ter esse plano B para já estar meio que vinculado para a vida, só que para mim era muito claro que eu queria melhorar no tênis e ser profissional. Eu queria ir para o profissional direto, mas estando lá a gente tem muito mais noção do tênis universitário. Às vezes, eu escutava e via na televisão amigos que estavam no tênis universitário. E quando eu fiz meus últimos dois anos de juvenil, eu cheguei no top 10, mas eu não tive - talvez eu esteja me cobrando, mas não achei que tive resultados excepcionais que eu falava "meu, tô preparada, tô com nível." Principalmente nas simples. Na dupla, eu fui bem. Semi de Roland Garros, semi de US Open, são resultados bons, que mostram que eu tinha um nível pra ir, mas eu acho que tive algumas oportunidades no juvenil para clicar e falar "meu, é agora" e acabou que eu terminei bem ranqueada, mas foi uma decisão bem difícil. Eu lembro que estava jogando Banana Bowl em março de 2015, e eu tinha vários coaches de faculdade falando. Eu tinha estado numas quatro faculdades e aí estava ficando muito na minha cabeça. Eu joguei um jogo - a menina jogava bem, mas perdi no Banana Bowl e estava assim "nossa, quero decidir agora porque não dá." Minha cabeça estava fritando. Não conseguia focar no jogo. Não conseguia focar em outra coisa.

Esse processo de ficar na expectativa de receber convites, de visitar e depois ter que decidir deve ser muito louco.

Esse foi o lado bom. Quando eu comecei a ir bem no juvenil, eu tive muitas propostas. É muito melhor ter mais opção. E no começo do ano, eu decidi que eu ia, com certeza. A segunda parte, mais difícil, era decidir para onde. Em março, depois do Banana, eu saí da quadra e falei "mãe, decidi. Vou para Pepperdine."

Por que Pepperdine?

Eu adorei o coach [o sueco Per Nilsson]. A gente clicou muito bem. A gente conversava bastante no processo de recrutar e tal. Eu meio que confiei nele, na pessoa que ele é. Ele parecia muito mais verdadeiro que algumas faculdades que os caras só te recrutam para você ir lá jogar e ganhar para eles. Eu senti que ele entendia de tênis, gostei da filosofia de treinador e parecia que ele estava muito animado para poder me ajudar e me treinar. Eu senti essa sinceridade e? É em Malibu (risos).

O lugar ajuda!

O lugar é lindo. Eu fui para lá visitar, é na praia, do lado da praia. Eu amo a Califórnia. Eu amo a vibe do lugar. Até hoje, é um dos meus lugares favoritos.

Pais americanos não costumam gostar quando o filho atravessa o país para fazer faculdade. Como foi com os seus?

Meus pais não ficaram muito animados porque eles estavam na Flórida. Meu irmão já estava estudando em Ohio, que é longe. Eu podia ter ido para Miami, para a Geórgia, que era bem mais perto, e eu falei "quero ir pra Pepperdine, tchau." (risos) Mas eu acho que eles também gostaram da ideia porque eles gostaram mais do lugar e do técnico, apesar de ser tão longe. Mas eu já viajei tanto, não tenho problema em ficar longe, então não foi muito um detalhe que eu levei em conta. Acho que me ajudou até.

E foi o que você estava esperando?

Acho que foi mais! O primeiro primeiro ano foi um dos melhores anos da minha vida no geral. Tanto dentro da quadra quanto fora. Eu conheci muita gente. As amizades que eu fiz no primeiro são as minhas melhores amigas até hoje. No ano passado e neste ano, na Austrália e na Nova Zelândia, eu visitei várias nos torneios - a gente tinha um time muito internacional, então agora eu vou para os torneios e quando eu vejo minhas amigas, eu jogo melhor. Na Austrália, eu tinha duas das minhas melhores amigas. Isso é bem importante para mim, as conexões que eu fiz lá. O amadurecimento também. Acho que eu sempre me virei bem sozinha, mas morar fora de casa e começar a formar minhas próprias filosofias, meu jeito de pensar e estudar, ver outras coisas, saber lidar com o time? Jogar pelo time, saber lidar com pessoas diferentes no time é importante. É uma qualidade que, se você tem, - e eu melhorei muito e aprendi que vai me ajudar muito na vida. No tênis, eu joguei muito bem. Até hoje, amo aquele ano. Perdi muito pouco. Aproveitei muito na quadra, estava muito confiante. Talvez o nível não fosse tão alto quanto no profissional, mas ao mesmo tempo nos torneios maiores, o nível era bom. No último jogo que fiz no primeiro ano, perdi pra Danielle Collins [atual #50 do mundo, já foi #23]. Tinha um bom nível. Os outros anos foram diferentes porque muitas meninas saíram do time, e aí muda muito a energia. Também aprendi a lidar com a pressão. No primeiro ano, eu ganhei muito, e no segundo eu tinha que jogar sendo a favorita. Isso fez diferença. Depois eu saí por um semestre, queria ir direto para o profissional, mas acabei me perdendo. Eu fiquei com saudade, não tinha as coisas muito organizadas. Tipo, financeiramente, o treino e tal. Então falei "quero voltar mais um semestre e tentar ir bem no torneio nacional", que é importante, que eu valorizo, pelo menos. E foi isso. Foi muito mais do que eu esperava. [O tênis universitário] me deu muita coisa. Eu sou muito agradecida e recomendo muito, sempre.

Luisa Stefani em Tashkent -  -

Você não chegou a se formar, né?

Não. Eu tranquei depois de dois anos e meio. Pretendo voltar quando eu terminar ou quando der [Luisa estudou publicidade].

Ano passado foi seu ano inteiro como profissional. Foi quando você se sentiu pronta de verdade?

Quando eu decidi voltar [para a faculdade] por um semestre, falei "vou tentar, vou ficar com a cabeça boa e, depois deste semestre, vou jogar [profissional] com certeza. Não tem outra opção, é o que eu quero fazer." E quando eu saí da segunda vez, estava muito mais preparada mentalmente e confiante que, tipo, com o tempo as coisas iam acontecer. Eu estava com um treinador novo, que é o Sanjay [Singh], um indiano que eu tinha conhecido antes. A gente conseguiu fazer um programa legal, eu confiei e "vamos começar juntos". Senti que era a hora, basicamente.

E onde foi que a dupla passou a ser?

Prioridade?

Eu ia te perguntar se já é prioridade.

Sim.

É que agora você já está top 50 e fica difícil conciliar com as simples, né? Você sempre teve resultados de duplas bons. Em que momento do ano passado veio essa decisão?

Acho que em abril mais ou menos. Não que eu fiz prioridade em abril, mas eu joguei os torneios do Brasil em março. Nas simples, não fui bem. Em dupla, fui bem com a Paulinha [Gonçalves]. E aí meu ranking, que era 200, eu entrei para 180. Nas simples, meu ranking ainda era decente, era 430-450. Aí eu decidi tentar jogar os torneios maiores. A Bia [Haddad Maia] iria estar em Praga depois da Fed, então joguei a Fed e eu tinha combinado com a Bia de jogar Praga, que era um WTA. Entre os dois, eu decidi jogar na Itália, em Santa Margherita di Pula, para não deixar totalmente as simples. Foi uma semana ruim. Perdi a primeira do quali, cheguei lá de última hora, falei "não devia nem ter vindo." Mas chegamos em Praga, ganhamos um jogo muito bom, perdemos para as meninas que foram campeãs do torneio, a Melichar e a Peschke. E aí foi indo. Eu tinha um calendário de torneios maiores e, querendo ou não, meus resultados de dupla sempre foram melhores, e eu fui subindo. Não é que eu fiz prioridade, mas eu queria continuar jogando os torneios maiores e falei "meu, vou tentar assinar para as simples nesses torneios." E aí não sei se eu não esperava, mas obviamente eu queria ir bem na dupla para subir na dupla e levar as simples sem se preocupar muito.

Imagino que seja uma tentação também?

É. Exato.

Você está ali e começa a ver? "Tem Roland Garros, eu entro."

Exato. Era uma das metas também.

E imagino que seja outro estilo de vida também porque os hotéis são melhores, a estrutura toda é melhor, então isso vai te atraindo? E você vai vendo "olha, a vida aqui é mais legal", independentemente de ser simples ou dupla.

Com certeza. Os torneios maiores também pagam mais, então me dava uma tranquilidade. Sem patrocínio, eu estava viajando com meu coach nessas semanas na Europa. Indo para os torneios maiores, tenho a oportunidade de treinar com as melhores jogadoras, tenho hotel e comida pago, vou jogar dupla que uma das minhas metas era entrar em Roland Garros? Na verdade, era semana a semana. Eu joguei simples em alguns dos torneios, não fui bem, mas ainda estava treinando simples. Só que quando eu comecei a ir bem na dupla, decolou e eu tive que decidir: "Vou pra WTA ou vou ficar jogando W25?" E foi essa a tentação, uma tentação de ter esse estilo de vida, mas também de não parar uma coisa que estava funcionando. Pensei "bom, minha dupla está indo bem, vou aproveitar essa oportunidade para jogar os torneios maiores, continuar treinando, jogando em alto nível." Querendo ou não, a confiança na dupla também me ajuda nas simples. E quando a Hayley [Carter, a atual parceira] me chamou para aquela gira na Ásia, deu muito certo. A gente subiu mais ainda e eu falei "não dá, não vou parar de jogar, sei lá, posso entrar em Grand Slam - para jogar W25, W15, W60", qualquer ITF de simples, que não estava rendendo tanto. Ainda assim, acho que vai vir, e conversava com alguns profissionais que estão na dupla e jogavam simples também. Aí se meteram na dupla e, com o tempo, vão levando as simples.

Com quem você conversou?

A Gabriela Dabrowski [#7 du mundo em duplas] - a gente perdeu dela na Austrália - é uma delas. Ela tá no top 10 de duplas ainda, tá na academia em que eu treino, a Saddlebrook. Desde pequena, eu via ela treinar, treinava junta, e a gente conversa. Também busquei gente nos slams. Alguns duplistas, alguns técnicos que falaram assim: "Luisa, você está indo bem, vai se meter, então vai levando a oportunidade." Acho que é o que eu ainda estou fazendo e acho que melhorei muito também. Espero que isso me ajude nas simples. agora, com esse ranking melhor ainda, minha ideia é subir mais e ter bons resultados nos Premiers e nos slams para garantir um ranking ainda melhor nas duplas, chegar a top 30, top 20 no futuro próximo, e aí eu consigo tirar umas semanas de WTA para jogar alguns ITFs e levar as simples.

Não desistiu totalmente?

Não total. Zero.

Luisa Stefani em Luxemburgo -  -

Eu ia te perguntar se a dupla já era um caminho sem volta.

Não. Porque também entrando nesses torneios grandes, eu acho que se meu nível estiver lá, quando eu jogar simples, vai haver oportunidades. E, óbvio, eu não queria deixar meu ranking cair muito para eu não ter que começar do zero, mas ao mesmo tempo eu sinto que este ano ainda eu vou jogar simples, vai dar certo e é só confiar nessa mentalidade. Deixar uma coisa levar a outra, não forçar muito a barra. Além disso, acho que das 20 que estão no top 20 de duplas, a maioria está metida em simples, então isso me motiva também a saber que dá para fazer os dois e muitas delas estão lá.

Fala um pouco do Australian Open agora? Vocês fizeram oitavas. Estava nos planos? Foi surpresa ou é aquele torneio que você entra sem expectativa, mas achando que dá para fazer algo legal?

Acho que é mais isso. Surpresa? É, pode ser uma surpresa. Era uma semana que eu estava tentando? A gente teve um começo de ano? Não vou dizer ruim? É, ruim. A gente perdeu (risos). A minha ideia era ir bem em janeiro para garantir Dubai e Doha, jogar esses Premiers nessa época do ano. Ia depender dos nossos resultados. E nas primeiras duas semanas, a gente perdeu na primeira rodada [no WTA de Auckand e no WTA de Hobart], já foi metade. Mas aí, quando cheguei em Melbourne, comecei a treinar na quarta, uma semana antes, e aí a mentalidade era diferente. Eu estava muito animada de estar lá e falei "meu, não importa. A gente chegou aqui e a gente mereceu." Roland Garros do ano passado foi muito legal, foi meu primeiro slam, mas ao mesmo tempo eu entrei de última hora, fiquei sabendo que ia jogar no mesmo dia e foi tipo?

Não teve um pré-torneio, né?

É. E este [Australian Open] a gente mereceu, a gente conquistou estar lá. Querendo ou não, quando você entra num grand slam, a energia é diferente. A gente treinou muito bem aquela semana, e eu sentia a gente preparada. Eu acreditava que dava para ganhar. Ganhar cada jogo, aproveitar cada jogo, jogar cada ponto e estar no momento. Eu estava realmente vivendo no momento e deixei levar. "O que acontecer, tá bom." E joguei muito bem, fiquei muito feliz com o nível que eu estava jogando, com a Hayley também.

E o jogo que vocês perderam parecia que estava mais para vocês?

Estava encaminhado, é. A gente perdeu chance. Acho que a gente merecia aquele jogo até o final, que deu uma mudada, mas também é mérito delas de dar uma reviravolta. Eu acho que sobrava para a gente ali ter ganhado aquele jogo. Doeu um pouco. Fazer quartas seria?

E chega uma hora que você começa a acreditar que pode ganhar o torneio.

Claro. Sim! Depois do segundo set daquele jogo? Obviamente, eu não estava pensando em ganhar o torneio, mas tinha esse feeling de se a gente continuar jogando assim, a gente tem boas chances de fazer, tipo, uma surpresa. Então foi legal.

E foram campeãs na semana seguinte [no WTA 125 de Newport Beach].

Foi bom também que foi de última hora. A minha parceira estava bem abalada no dia que a gente perdeu o jogo [no Australian Open]. Eu também, mas por um lado eu estava bem motivada e tranquila porque eu falei "dói, mas ao mesmo tempo a gente jogou bem?"

Você é otimista, né?

Sou, acho que sou. Sou bem otimista. Porque eu estava assim: "eu quero estar triste, mas não consigo". Foi uma semana muito boa. Muito legal. Foi um dos meus jogos favoritos. O segundo set? Eu falei com meu coach que eu estava na quadra num momento do segundo set das oitavas e estava muito feliz. Tipo, eu não podia estar mais feliz. "É um dos melhores sentimentos da minha vida." Eu estava assim, exalando! E aí, tudo bem, o jogo seguiu, mas depois do jogo eu falei "acho que a gente vai ganhar um grand slam, a gente vai ganhar tudo este ano!" (risos) Eu estava inspirada. Bateu uma louca assim e falei "vamos mandar muito bem." Aí baixou a poeira, tinha um voo direto para Los Angeles, tinha o torneio de Newport Beach, eles estão um dia atrás [no fuso horário], ainda dá pra fazer a inscrição. Falei "vou jogar lá."

São 18 horas de diferença, certo?

Dezenove! Era o dia inteiro. Acaba nem ficando tanto, são cinco horas ao contrário. Aí convenci a minha parceira porque ela tinha ganhado ano passado lá. A gente olhou o ranking para ver se entrava em Doha e Dubai, e ela não tinha subido muito. Ela falou que tinha ganhado em Newport no ano passado, e os pontos estavam caindo. E a ía gente foi direto e valeu a pena. Deu para tirar o rancor do "perdemos", mas ao mesmo tempo a gente estava jogando muito bem. Foi uma semana muito boa para não deixar a derrota das oitavas abalar tanto.

1° AO ? Bora

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Depois que acabou esse high do Australian Open e a cabeça voltou para o lugar, você ainda acha que pode ganhar um slam já?

Sim. Eu sei que não vai ser fácil e sei que tem muita coisa que precisa fazer. Jogos, treinos e se sentir bem, mas eu não tenho dúvida que a gente pode ganhar. Agora? para fazer acontecer, é longe, é um caminho a mais.

No seu tênis, o que precisa melhorar mais?

Eu acho que preciso melhorar minhas armas. O que eu faço de melhor no jogo são meu saque e meu jogo de rede. Se eu ficar ainda melhor nessas duas coisas, vou ficar melhor ainda, vou ajudar mais minha parceira nesse sentido e aí arrumar os ajustes de fundo de quadra. Eu acho que estou bem mais sólida do que era antes, então continuar melhorando nisso - um pouco de tudo - mas acho que melhorar minhas armas, principalmente. Continuar meu jogo de rede e melhorar minhas devoluções, que acho que este ano foi o que mais fez diferença. Fisicamente, me sinto bem. É um dos pontos fortes, não me machuco muito. E aí sincronizar com a minha parceira o que a gente vai fazer para a frente, ainda mais que a gente vai começar a jogar sempre juntas, então planejar um padrão de jogo para melhorar juntas, como um time.

Vocês não treinam juntas hoje em dia, né?

Não, mas ela passou uma semana na pré-temporada comigo para a gente treinar. Agora a gente vai viajar bastante junto, então naturalmente a gente vai conseguir treinar mais. Faz bastante diferença.

Pra terminar, o que dá para tirar de produtivo de uma semana dessas de Fed Cup [o Brasil perdeu por 4 a 0 para a Alemanha e não venceu nenhum set]?

Acho que de produtivo é que a gente teve mais uma oportunidade de jogar com um time de grande nível e potência mundial. Se a gente tivesse jogado o Zonal, que ainda assim é batalha todos os dias e uma semana bem puxada mental e fisicamente para o time - só que a gente está jogando com todos os times da América do Sul. E quando a gente joga com esses times da Europa, como quando a gente jogou com a Eslováquia ano passado e agora a Alemanha, a gente vê a diferença entre as tops 100, o jeito que elas levam o profissionalismo em quadra, a atitude, tudo? Ter a oportunidade de vivenciar, não só ver de longe como elas levam as coisas e joga, isso vai fazer a diferença para a gente. Por mais que a gente tomou meio que um pau (risos), por mais que tenha sido uma derrota dura, no resultado pelo menos - obviamente a gente fez tudo que dava para ter feito - mas acho que dessa experiência de ver a diferença de nível na hora vai ajudar a gente a saber lidar com esse tipo de nível e situação no futuro.

Agora vem a Polônia fora de casa. É um sonho pensar em vitória?

Putz, eu acho que não é sonho. Não quero levar elas para um nível muito alto, mas elas têm duas no top 50 [Magda Linette e Iga Swiatek]. Eu acho que a gente vai usar essa derrota aqui para mexer os pauzinhos para quando a gente for para lá. Com certeza, a gente vai para lá com a mentalidade e a confiança de levar isso para casa. Afinal, eu não quero voltar para o Zonal. Se for para voltar, vai ser deixando tudo lá na Polônia. Acho que a gente tem a condição e tem que ter essa mentalidade de que a gente vai para ganhar e dar a cara a bater lá.

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