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Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Coutinho: Red Bull e Athletico são o presente do futebol brasileiro

Colunista do UOL

19/11/2021 16h00

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Quem está atento às transformações do esporte já percebeu que há uma nova ordem se estabelecendo no país. A consolidação do Athletico, que busca o bi da Sul-Americana, e o crescimento fulminante do Red Bull Bragantino, integram este cenário. Neste sábado duelarão pela conquista do segundo torneio de maior relevância da América do Sul, e provam que não são o futuro, mas sim o presente do que é necessário para ser vencedor no futebol brasileiro.

O Botafogo acaba de voltar de mais uma Série B. Cruzeiro e Vasco permanecerão no calvário da ''Segundona''. O Grêmio tem muitas chances de ser rebaixado novamente, e São Paulo e Santos ainda correm sérios riscos. Todos integrantes dos 12 gigantes que nos acostumamos a decorar desde que acompanhamos futebol nos primeiros anos de vida. Deixaram de ser grandes? Não! Mas o ''grupo de elite'' foi rompido, e a final reflete exatamente isso.

O Furacão é certamente o clube que mais reverteu essa ordem nas últimas duas décadas. Tem um título brasileiro, outro de Copa do Brasil, vice-campeonato de Libertadores, e venceu a mesma Copa Sul-Americana, em 2018. Fez campanhas de destaque em outras temporadas, revelou vários jogadores e possui estrutura de ponta, paga salários em dia, investe na base e em contratações importantes no mercado do continente.

Já o Bragantino evoluiu de outra maneira, e tem seu sucesso ainda muito recente. Adquirido pela austríaca Red Bull em 2019, o clube demorou menos de três anos para se destacar entre os melhores times da elite do futebol brasileiro, alcançar uma final sul-americana e se garantir no principal torneio do continente. De quebra, mostrando que não entrou no mercado nacional para brincadeira, tirou jovens de valor de Flamengo, Palmeiras e Internacional, deixando nítido qual é o norte da ''franquia''. Comprar e revender com valorização monetária e ganho esportivo.

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Como as equipes devem iniciar o jogo
Imagem: Rodrigo Coutinho

Totalmente alicerçados nestas filosofias chegaram à decisão em Montevidéu vivendo temporadas diferentes. Enquanto o rubro-negro oscilou e trocou de técnico com o ano em curso, os paulistas cumpriram uma trajetória mais sólida e regular, o que acaba fazendo do time de Bragança Paulista o favorito para o duelo. Há dos dois lados, porém, ferramentas interessantes para a consagração na tarde deste sábado. Vamos a elas!

Athletico: melhora recente e poder de adaptação

O torcedor do Furacão vinha bem desanimado para a final da Copa Sul-Americana até o segundo jogo da semifinal da Copa do Brasil, contra o Flamengo, no Maracanã. Alberto Valentim havia estreado no comando 26 dias antes e o time tinha vencido apenas um de seus primeiros sete jogos. Além dos resultados, o desempenho era preocupante, algo que aconteceu na reta final do bom trabalho do português Antônio Oliveira, mas em menor escala.

A grande atuação defensiva no Maracanã, a perfeição no aproveitamento dos contra-ataques, e a competitividade demonstrada em outros dois duelos contra o poderoso Flamengo na Arena da Baixada, nos últimos 30 dias, mudaram o curso das coisas para os paranaenses. Bons desempenhos contra o mesmo Red Bull Bragantino desta final, Ceará e Internacional deram a certeza que o time encorpou.

Valentim foi bem ao dar continuidade no modelo de jogo mais utilizado em 2021. A começar pelo esquema tático. O 3-4-3 com Nikão e Terans, referências técnicas do time, próximos de Renato Kayzer, e Marcinho e Abner de alas, atende a algumas demandas que o time executa bem no momento ofensivo. Como a flutuação da dupla de meias nas costas dos volantes rivais, e a constante amplitude com os alas no campo rival.

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Furacão defendendo em bloco baixo num 5-4-1 e se preparando para sair no contra-ataque, cenário que deve se repetir muitas vezes na final de logo mais
Imagem: Rodrigo Coutinho

Pelo lado direito há algumas variações com Marcinho atacando em diagonal pelo meio e Nikão mais fixo pelo lado. Depende do momento da partida e da leitura dos próprios atletas. A equipe usa muito as inversões de lado para aproveitar o avanço dos alas. Elas partem muitas vezes dos próprios zagueiros, principalmente dos pés de Thiago Heleno e do colombiano Nicolas Hernández, que ganhou vaga no time titular pela esquerda.

Outro a conquistar espaço foi o volante Léo Cittadini, que vem formando a dupla de meio-campistas com Erick. Ambos possuem boa iniciação das jogadas. O primeiro através de passes e visão de jogo. O segundo com mais dinâmica de movimentação e capacidade de se desmarcar ou infiltrar. A finalização é constantemente feita com cruzamentos para a área, por isso muitos jogadores buscam essa região para finalizar.

A principal estratégia para a final talvez seja aguardar o Red Bull Bragantino e explorar contra-ataques. Em comparação ao rival da final, está abaixo no funcionamento ofensivo e tem problemas de transição defensiva. Então, recuar o bloco de marcação, se compactar, e proteger a área, pode ser uma boa alternativa, como aconteceu no Maracanã. Há condições de produzir bons contra-ataques.

Red Bull: a melhor fase ofensiva do Brasil

Toda vez que analisamos um time de futebol ou uma partida, é importante separar a observação nas fases que um jogo se divide. O momento ofensivo é uma dessas fases. Quando uma equipe se organiza para se estabelecer no campo de ataque e produzir os ataques que não são oriundos diretamente de uma roubada ou recuperação de bola. Nesse ponto, o Red Bull Bragantino apresenta os padrões mais nítidos e bem executados do futebol brasileiro hoje.

Com mais de um ano de trabalho no clube, Mauricio Barbieri pôde colocar em prática as ideias que acredita. E mostra que as exercita muito bem no dia a dia. O Massa Bruta tem um jogo fluído e vistoso. Intenso nos movimentos na maioria dos jogos e envolvente. Artur é o ponto de desequilíbrio na ponta direita, vive uma temporada decisiva, mas o time não depende apenas dele para criar.

Ser refém de destaques individuais, aliás, não é mesmo a cara do Massa Bruta. Perdeu Raul, Lucas Evangelista(ainda é dúvida para a final) e Claudinho, meio-campo titular no início da temporada, e mesmo oscilando em alguns momentos, manteve um bom desempenho geral. Barbieri conseguiu adaptar e desenvolver Jadsom, Eric Ramires e Bruno Praxedes nas respectivas funções, e manteve a dinâmica no setor.

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Exemplo da ocupação de espaços do Red Bull no campo de ataque. Pontas bem abertos. Laterais dando um suporte por trás da linha da bola e muitas vezes atacando por dentro, e os meias por trás de Ytalo
Imagem: Rodrigo Coutinho

A equipe executa o ''ataque posicional'', quando cada jogador ocupa uma faixa do campo e se mexe naquele espaço, sem muitas trocas de posição e sem acumular atletas no setor da bola de maneira empírica ou aleatória. Há quem diga que esse sistema ''engessa'' os jogadores. O Red Bull prova que não. São 93 gols em 64 jogos na temporada. Os atletas interagem entre si dentro de cada setor e criam as linhas de passe de forma natural.

Seja com passes curtos até chegar na meta rival ou trabalhando em inversões longas para os pontas, sempre bem abertos, o Red Bull circula a bola com velocidade e tem uma produção ofensiva bem satisfatória. É necessário destacar também as rápidas reações ao perder a bola no campo de ataque, e a capacidade de subir a marcação com coordenação e abordagem agressiva ao adversário.

O ponto fraco fica nas oscilações de intensidade que a equipe costuma apresentar de um tempo para outro nas partidas, ou até mesmo lapsos de concentração em períodos importantes dos jogos. O ritmo é muito alto e nem sempre se sustenta isso, aí acaba cedendo espaços. Além de Artur; Cuello, Léo Ortiz, Ytalo, Aderlan, Fabricio Bruno, Helinho e Cleiton realizam ótima temporada.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL