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Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Coutinho: Continuidade e equilíbrio marcarão volta do Coxa para a Série A

Colunista do UOL

05/11/2021 04h00

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O Coritiba está muito perto de retornar para a Primeira Divisão nacional e tem grandes chances de vencer a terceira Série B de sua história. O caminho, porém, foi árduo e incomum no futebol brasileiro. Mesmo depois de uma péssima campanha no Campeonato Paranaense, o ex-presidente Renato Follador, que faleceu de Covid-19 em julho, manteve o técnico Gustavo Morinigo e o elenco que pode dar mais uma conquista ao Coxa.

Antes de partir, Renato foi determinante para que o clube vivesse o atual momento. O que nove entre dez cartolas brasileiros fariam nos primeiros meses de gestão ao verem o clube ter uma das piores campanhas de sua história no fraco Campeonato Estadual e não classificar para a fase final? Certamente demitiriam o treinador, fariam uma limpa no elenco, e recomeçariam o planejamento do zero. Onerando os cofres do clube e gerando ainda mais insegurança.

Follador fez exatamente o contrário. O próprio Morinigo afirmou que o ex-cartola coxa-branca disse algumas vezes em conversas reservadas que não o demitiria no meio da temporada. A troca feita ocorreu no cargo de diretor de futebol. O experiente José Carlos Brunoro foi dispensado. Algo que causou pouco impacto no planejamento iniciado em dezembro de 2020, pouco antes da queda para a Série B.

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Renato Follador, o ex-presidente do Coritiba
Imagem: Divulgação/Coritiba

Manutenção da base e aposta no modelo de jogo

A sequência de Gustavo Morinigo deu continuidade às ideias implementadas pelo técnico paraguaio. Os jogadores puderam assimilar as propostas e hoje as executam em ótimo nível. O Coritiba perdeu só seis das 33 partidas disputadas na Série B até aqui. Possui a melhor defesa da competição e padrões bem nítidos de organização nos diferentes momentos do jogo.

Do time que perdeu para o Rio Branco na última rodada da fase classificatória do Paranaense, sete atletas seguem como titulares, e outros dois deles entram constantemente no time. O único reforço que chegou com status de titular foi o zagueiro Henrique, com passagens por Palmeiras, Fluminense, Napoli e Seleção Brasileira. Revelado pelo próprio Coritiba, conseguiu se reencontrar e ganhar sequência de jogos novamente na carreira.

Ou seja, não houve caça às bruxas depois do vexame no Estadual, e aí os atletas puderam se desenvolver coletivamente ao longo da Série B. Assim como o vice-líder Botafogo, o Coritiba não é um time inegociável em campo. Pode se comportar de forma mais reativa, nos contra-ataques, ou propondo o jogo, mantendo a posse de bola. Geralmente alterna as estratégias de acordo com o cenário das partidas e a capacidade do adversário. É apenas o 7º time em média de posse de bola nesta Série B, 51,1%.

Lados fortes e área ocupada

Quando está em fase ofensiva, o Coritiba libera os dois laterais simultaneamente no campo de ataque. Natanael e Guilherme Biro geralmente atacam bem abertos, dando amplitude ao time e buscando ''espaçar'' a última linha de defesa adversária. Partindo quase sempre de um 4-2-3-1, os pontas têm a missão de flutuar para o espaço entre os laterais e zagueiros rivais, e ali se oferecem para receber nas costas dos volantes ou tabelar com os laterais em jogadas pelos flancos.

Há também ocasiões em que os pontas e os laterais invertem o papel. Enquanto o ponta fica mais preso à linha lateral, Natanael e Guilherme Biro entram em diagonal pro meio. Mas a proposta é sempre ter essa interação para ganhar a linha de fundo. O meia central é mais um a ocupar as costas dos volantes rivais, mas possui mais liberdade para circular pelo campo. Rafinha e Robinho costumam revezar nesta função.

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No detalhe em amarelo os laterais bem abertos no campo de ataque e três jogadores sempre atacando a área para finalizar os cruzamentos
Imagem: Rodrigo Coutinho

Waguininho e Igor Paixão formam a dupla de pontas muitas vezes, mas o próprio Rafinha já jogou assim enquanto Waguininho iniciava no banco. Morinigo costuma variar para não sobrecarregar Robinho e Rafinha com muitos minutos em jogos sequenciais. Léo Gamalho é o centroavante e vice-artilheiro da competição. O grande homem-gol do Coxa é municiado constantemente, e entender como a equipe termina suas jogadas passa muito por ele.

Como busca se instalar no campo de ataque através de passes curtos com frequência, o time de Morinigo acaba buscando os cruzamentos para a área como forma mais comum de finalizar. Léo Gamalho é muito forte no jogo aéreo, mas o Coxa conta com pontas que entram na área para finalizar, como Igor Paixão e Waguininho, além do lateral do setor contrário da jogada, que também busca estar presente nos metros finais do campo neste momento.

A saída de bola sempre é feita com três jogadores alinhados. Um volante, na maioria das vezes Willian Farias, entre os zagueiros, e Val, o outro volante, mais a frente para ser alvo do primeiro passe e distribuir a construção. Aliás vale a pena ficar de olho em Val. Chuta muito bem de média distância e inverte as jogadas com qualidade.

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A saída de bola sempre feita com três jogadores alinhados, um dos volantes entre os zagueiros
Imagem: Rodrigo Coutinho

Mesmo não tendo um elenco tão farto, Morinigo dispõe de atletas com nível técnico superior à média da Série B, por isso tem uma construção ofensiva mais qualificada também. Matheus Sales, por exemplo, é reserva, mas está entre os melhores ''passadores'' da competição. Robinho e Rafinha também se destacam nesse aspecto.

Uma outra forma para chegar ao campo de ataque em condições de finalizar são os passes longos em profundidade. Luciano Castán, Willian Farias e Henrique tentam esse tipo de jogada às vezes. Buscam a velocidade dos laterais e de Rafinha, Igor Paixão ou Waguininho. Igor é um jogador que funciona muito bem nesse contexto. Possui qualidade no enfrentamento individual, velocidade, repertório de drible, e pega bem na bola. É outro jovem atleta do Coxa que merece atenção.

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Alguns números de destaque do Coxa na Série B 2021
Imagem: Fonte: Opta

Defesa segura

Não chega a ser um sistema defensivo como o da Chapecoense na Série B de 2020, mas o Coritiba conseguiu ter segurança para se proteger ao longo da competição. Marca quase sempre em bloco médio, sem perseguições longas, e com os atletas defendendo o espaço. Monta duas linhas de quatro compactas e o homem mais próximo da bola tem a incumbência de pressionar o adversário.

Por mais que a intensidade da abordagem de marcação não seja tão alta, o bom posicionamento geral acaba garantindo partidas sem ser vazado. No 2º turno houve uma queda de produção nesse aspecto e a área de Wilson não tem sido tão bem protegida em determinados jogos, mas nada que não possa ser ajustado.

Identificação com o clube e espaço aos jovens

Dos 13 jogadores mais frequentes na equipe, cinco são revelados pela base do Coxa. Natanael, Guilherme Biro e Igor Paixão são os mais jovens e titulares absolutos. Willian Farias e Henrique os experientes que retornaram. Além disso, Rafinha, Wilson e Robinho possuem muito tempo de Coritiba e são identificados com a torcida. Essa sinergia faz a diferença na hora de entender as necessidades de retornar ao protagonismo nacional.

A política que resultou na atual campanha e no iminente retorno para a Série A precisa ser seguida nas próximas temporadas. Mais do que isso! Entender que o ano de 2022 requer a montagem de um elenco melhor, sem extrapolar o teto de gastos do clube, mas com a ciência de que o caminho para o protagonismo é passo a passo. Sem atropelar objetivos e desfazer projetos em meio a uma temporada. 2021 é um grande exemplo para o futuro do Coritiba.