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Rodrigo Coutinho

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Bi olímpico tem altos e baixos, mas deixa importantes recados a Tite

Colunista do UOL

07/08/2021 11h11

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Foi da forma que era pra ser. Essa é a principal sensação deixada pela vitória que deu a segunda medalha de ouro da história olímpica para a Seleção Brasileira. A atuação teve momentos de oscilação, exatamente como foi a campanha, mas será que dava pra ser muito diferente? O time brasileiro bateu uma Espanha mais experimentada internacionalmente, com entrosamento superior, e de ótimo nível técnico. Merece ser exaltado por driblar as muitas adversidades do período de preparação e por deixar um legado para Tite.

Guilherme Arana e Matheus Cunha pedem passagem e merecem oportunidades no time principal. Douglas Luiz, Nino e Bruno Guimarães mostraram-se sólidos na competição. Daniel Alves, mesmo falhando na final, provou-se novamente um líder técnico em campo. Pode estar no Catar tranquilamente. Antony comprovou sua evolução tática. E Richarlison, que foi mal na final, reforçou a sensação de ter muita personalidade para vestir a ''amarelinha''.

O Brasil foi um time organizado e equilibrado no 1º tempo. Como esperado e antecipado aqui, a Espanha teve mais a posse de bola. Tem bases mais sólidas para jogar assim, e possui jogadores com capacidade maior de retenção de bola em relação a Seleção. Mas a equipe dirigida por André Jardine mostrou saber o que fazer para evitar um controle adversário. Tanto que finalizou o dobro de vezes dos espanhóis e foi para o intervalo com a vantagem no placar.

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Como Brasil e Espanha começaram o jogo. Seleção voltou ao 4-4-2 com o retonro de Matheus Cunha
Imagem: Rodrigo Coutinho

Matheus Cunha balançou a rede nos acréscimos do 1º tempo, aproveitando bobeira da dupla de zaga e do lateral Cucurella. Daniel Alves e Guilherme Arana foram muito importantes na construção da jogada, e o camisa 9 mostrou o porquê merece chances na seleção principal na conclusão do lance. Antes disso, Richarlison já havia perdido um pênalti e finalizado com perigo na rede pelo lado de fora, após mais uma intervenção criativa de Guilherme Arana. O lateral do Atlético Mineiro foi um dos mais consistentes desta campanha.

A Espanha circulou a bola com desenvoltura no ataque, mas foi pouco agressiva perto da área. Chegou com perigo só em duas ocasiões nos primeiros 45 minutos. Em uma delas, Diego Carlos salvou cabeçada de Oyarzabal em cima da linha. Muito disso também é mérito do Brasil. Por mais que tenha dado alguns espaços entre as linhas de meio e defesa, e nem sempre ter conseguido pressionar a bola com intensidade, buscou isolar a sua grande área. Comportamento eficaz da última linha. Muitas vezes auxiliada por Antony acompanhando Cucurella até o final e ajudando Daniel Alves a cobrir o lado direito da defesa.

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Brasil se defendendo com duas linhas de quatro, tentando compactar os setores e não trazer a última linha para perto da área.
Imagem: Rodrigo Coutinho

Quando tinha a bola, a Seleção se instalava no campo de ataque com a mesma dinâmica vista em três dos cinco jogos das Olimpíadas. Matheus Cunha e Richarlison como dupla de ataque. Antony e Claudinho equilibrando a ocupação de espaços e os movimentos com os laterais. Os volantes participando ativamente da circulação de bola na intermediária ofensiva. A Espanha oscilou na hora de marcar. Quando se postava próxima da própria área, era mais permissiva na abordagem de marcação.

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Como o Brasil ocupou os espaços no campo ofensivo hoje. Voltou a ter Claudinho flutuando da esquerda pro meio, Arana ocupando o corredor neste setor. Na direita, a lógica inversa: Daniel Alves entrando em diagonal pro meio e Antony sempre aberto. Richarlison e Matheus Cunha como dupla de ataque, e Douglas e Bruno na 'base' da jogada, distribuindo os passes
Imagem: Rodrigo Coutinho

Atrás no placar, só restou aos espanhóis serem ainda mais ofensivos. O Brasil passou a marcar muito atrás e explorar os passes em profundidade em contra-ataques. Richarlison recebeu de Matheus Cunha aos 6' e acertou o travessão. 11 minutos depois a Fúria empatou! Soler, que havia entrado no intervalo, na vaga de Merino, atacou o espaço entre Arana e Diego Carlos, Bruno Guimarães demorou a fazer a cobertura, e o cruzamento encontrou Oyarzabal. O atacante finalizou de primeira na segunda trave e marcou um belo gol.

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Antony, em destaque no alto da imagem, encaixado em Cucurella e formando quase que uma linha de cinco na defesa. Fez esse movimento constantemente para auxiliar Daniel Alves
Imagem: Rodrigo Coutinho

Por mais que a Espanha tenha tido uma imposição maior neste período da partida, faltou ao Brasil reagir mais. Tentar tirar o bloco de marcação de tão perto da área e buscar períodos de linhas mais adiantadas, como no 1º tempo. Soler e Bryan Gil deram mais agressividade aos europeus, e André Jardine demorou a mexer na equipe. Claudinho já não tinha mais forças para auxiliar nos contra-ataques no 2º tempo. Richarlison sentiu o jogo mentalmente e tomou muitas decisões erradas.

A Seleção até conseguiu trocar mais passes na reta final do jogo, mas chegou perto de levar a virada em dois chutes de fora da área no travessão. Desgastado, pressionava ainda menos o adversário com a bola. Na prorrogação, Jardine sacou Matheus Cunha, que certamente não tinha mais condições físicas de continuar, e botou Malcom. Mudou o esquema para o 4-2-3-1, com o ex-corintiano pela esquerda e Claudinho fixo pelo meio.

A mexida renovou o fôlego brasileiro, e a Seleção passou a dominar as ações no tempo-extra. Teve três boas oportunidades nos primeiros 15 minutos, mas não conseguiu balançar as redes. Algo que aconteceria no início da 2ª etapa. Antony fez bela jogada em contra-ataque e lançou Malcom, que deixou Jesus Valejo pra trás e bateu na saída de Unai Simon. A Espanha não teve forças físicas e mentais para buscar o empate. Mais uma final ganha pelo futebol brasileiro em Yokohama!