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Rodrigo Coutinho

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Espanha vai oferecer jogo aberto ao Brasil na final olímpica

Colunista do UOL

06/08/2021 04h00

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A Espanha será um adversário totalmente diferente dos outros encarados nestes Jogos Olímpicos pelo Brasil. A começar pelo caráter mental de um duelo que definirá a medalha de ouro, passando pelo estilo de jogo dos espanhóis, e chegando na parte técnica da equipe que conta com seis atletas que estiveram na última Eurocopa. A boa notícia é que o Brasil terá espaços para jogar.

A Fúria chegou ao Japão repleta de expectativas. Afinal de contas, nos 23 nomes convocados pelo técnico Luis de la Fuente, meia dúzia deles foi participativa de forma importante na Eurocopa que terminou há menos de um mês. Unai Simón foi o goleiro titular na competição. Eric Garcia e Pau Torres se revezaram na zaga principal. O talento jovem de Pedri ganhou destaque no meio-campo. E Oyarzabal e Dani Olmo foram bastante utilizados no ataque.

O elenco espanhol ainda conta com Marco Asensio, Ceballos - lesionado -, Merino e Soler. Ou seja, sobra em comparação a qualquer outro que esteve disputando essas Olimpíadas. A proposta em campo também é a mesma das últimas seleções do país. Jogo posicional, predominância das ações a partir da posse de bola, e um 4-3-3 como plataforma tática.

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Estrutura tática posicional da Espanha perceptível em grande parte dos jogos
Imagem: Rodrigo Coutinho

O problema tem sido transformar toda essa conjuntura de fatores positivos em desempenho de alto nível. E aí entra algo básico para avaliar esse contexto. Assim como as demais seleções, a Espanha não teve um período de preparação grande. Por mais que tenha muita qualidade técnica e Luis de la Fuente como treinador de vários desses atletas desde a Euro sub-19, há problemas coletivos que o Brasil pode aproveitar.

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Números de Espanha e Brasil nos Jogos Olímpicos mostram eficiência maior do Brasil, mesmo ficando menos com a bola em comparação aos adversários desta final
Imagem: Rodrigo Coutinho

Um fator importante a ser entendido não só por jogadores e comissão técnica, mas também por torcida e imprensa é que, muito provavelmente, a Espanha será a ''dona da bola''. Primeiro pela maior capacidade de retenção e organização que suas peças de meio-campo têm em comparação ao Brasil, e segundo pela experiência de Merino, importante neste setor.

Não que o Brasil não possa lutar pela posse e tentar se impor desta forma. Mas é necessário a compreensão quando o adversário reúne mais condições para isso. É do jogo! Desta forma, uma boa estratégia é subir mais as linhas de marcação para tentar anular a progressão espanhola de forma natural no campo de jogo. Tentar forçar erros na saída de bola ou ligações diretas, algo que a Fúria não se sente confortável em fazer.

Há uma dúvida no ataque e que implica diretamente na questão citada acima. Rafa Mir é o único centroavante de ofício do elenco. Não vinha sendo titular até ser decisivo nas quartas de final contra Costa do Marfim e ganhou chance na semifinal contra o Japão, mas decepcionou e pode dar lugar a Asensio, que fez o gol da vitória e voltaria ao time. Desta forma, Oyarzabal retornaria ao centro do ataque.

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Rafa Mir, atacante espanhol, comemora um de seus três gols marcados ao lado de Oyarzabal
Imagem: Amr Abdallah Dalsh / Reuter

Rafa Mir poderia ser um bom alvo para ligações diretas caso o Brasil suba a marcação. Se ele não jogar, a Fúria perde essa condição. É um time de troca de passes curtos, ocupação perfeita dos espaços no campo de ataque, com cada jogador preenchendo um setor e se mexendo dentro dele, buscando a partir daí as interações de forma natural.

Se o ponta fica aberto, o lateral apoia como um meia ou dá suporte por trás da linha da bola. Se o ponta entra na direção do bico da grande área, o latera ultrapassa pelo flanco. Os meias circulam por dentro, sempre um mais a direita e o outro à esquerda. Articulam, mas infiltram quando a bola chega na linha de fundo. Zubimendi fica na ''base'' das jogadas, auxiliando na distribuição e comandando as pressões pós-perda. A questão é que tem faltado agressividade e contundência pra criar.

É um time totalmente voltado a manter-se em fase ofensiva, no campo de ataque, e reage bem ao perder a bola, tenta retomá-la rápido. No próprio campo, porém, a história muda. Os espaços já aparecem com mais facilidade e o Brasil tem potencial para aproveitá-los, principalmente em duelos individuais dos atacantes com os zagueiros espanhóis. Por isso subir a marcação talvez seja a melhor solução.

Outro ponto que o Brasil pode aproveitar é o número de falhas na bola parada aérea defensiva. Marcando com predominância individual, os espanhóis não têm uma média de altura elevada, e costumam perder os duelos físicos. Levaram dois dos três gols assim no torneio olímpico. Diego Carlos, Richarlison, Nino e Matheus Cunha, se este último jogar, precisam ficar atentos e serem agressivos nos escanteios e faltas laterais a favor da Seleção.

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Seis jogadores da Espanha marcando individualmente, dois marcando por zona na primeira trave e mais dois no rebote
Imagem: Rodrigo Coutinho

O Brasil não é o favorito diante da Espanha e isso pode até ajudar, dar mais leveza ao time num momento decisivo. Não quer dizer que seja impossível vencer ou que a equipe entrará em campo derrotada, mas sim compreender o que é necessário para se aproximar da segunda medalha de ouro da história.