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Rodrigo Coutinho

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Ausência de Matheus Cunha quebra a dinâmica ofensiva da Seleção

Colunista do UOL

03/08/2021 07h41

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Matheus Cunha não é o principal atacante brasileiro do momento, mas como já abordamos aqui, possui características específicas para o funcionamento do time e encaixa com a forma de jogar de seus companheiros de ataque na Seleção Olímpica. Lesionado, o camisa 9 brasileiro não entrou em campo na semifinal diante do México, e a equipe sofreu bastante para encaixar a movimentação ofensiva ao longo do jogo. Sem um trabalho coletivo mais consolidado, naturalmente faltaria repertório a um time recentemente formado.

Pela primeira vez neste torneio olímpico o Brasil enfrentou um adversário de nível técnico e hierárquico parecido. A Alemanha passou longe de ter seus melhores jogadores disponíveis. Já o México tem a seleção basicamente formada por atletas titulares na liga local, que é de bom patamar competitivo, alguns deles integrantes de seguidas convocações para a seleção principal, como no time brasileiro.

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Como México e Brasil começaram o jogo. André Jardine não teve Matheus Cunha lesionado, e optou pela entrada de Paulinho, com Richalrlison jogando como centroavante
Imagem: Rodrigo Coutinho

O Brasil foi superior na maior parte do 1º tempo. Agressivo com a bola, bem posicionado no campo de ataque e trocando passes com velocidade, empurrou o time do México pra trás e teve duas boas oportunidades. Uma delas desperdiçada por Guilherme Arana após passe de Bruno Guimarães e belo corta-luz de Claudinho. E a outra em cobrança forte de falta de Daniel Alves na entrada da área. Ochoa foi muito bem em ambas.

Mesmo com um bom desempenho e transições defensivas organizadas, faltava mais movimentação perto da área, infiltrações em cima da última linha mexicana. O cenário fez com que o Brasil forçasse alguns cruzamentos, 12 ao todo no 1º tempo, apenas um certo. A boa dupla de zaga adversária respondia bem. O gramado também prejudicou bastante a resolução de jogadas em espaços curtos. Irregular, deixava a ''bola viva'' o tempo inteiro, e dificultava domínios e tabelas mais rápidas.

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Laterais bem espetados e abertos, pontas flutuando pra dentro, se oferecendo como base para tabelas com Arana e Dani Alves, e se aproximando de Claudinho, Bruno Guimarães e Richarlison pelo meio
Imagem: Rodrigo Coutinho

Bruno Guimarães foi bastante participativo nas saídas de bolas. Se alinhando aos zagueiros pelo lado esquerdo, liberando os laterais, e proporcionando o movimento de flutuação dos pontas mais à frente. Douglas Luiz, centralizado na frente do trio de iniciação dos lances, também foi importante nesta fase, e mostrou-se eficiente em algumas coberturas nas transições defensivas.

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Movimento feito constantemente por Bruno Guimarães na saída de bola, formando uma primeira linha com três junto aos zagueiros, concentrando a maior parte da iniciação dos lances pela esquerda
Imagem: Rodrigo Coutinho

O México se beneficiou de uma queda de concentração do Brasil nos últimos minutos e criou três boas jogadas. Antuna serviu Romo e o volante finalizou para a boa defesa de Santos. Na sequência foi a vez do próprio Antuna, em contra-ataque após erro de Claudinho no meio, bater em cima de Diego Carlos dentro da área. Martin também levou perigo em uma cabeçada após cobrança de escanteio nos acréscimos.

A quebra de ritmo do Brasil se manteve na segunda etapa. A mobilidade se reduziu e Richarlison não se achou atuando mais fixo entre os zagueiros. A Seleção seguia marcando forte e retomou a concentração inicial, mas a fluência com a bola não era a mesma. Bruno Guimarães começou a errar bastante na distribuição dos passes.

Jardine tentou mudar o cenário ao sacar o discreto Paulinho e colocar Gabriel Martinelli em seu lugar. Reinier também foi a campo na vaga de um inconstante Claudinho. O México ofereceu pouco na 2ª etapa e a partida ficou ruim, muito picotada e repleta de faltas, média de uma infração a cada três minutos, O jogo só saiu do marasmo já na reta final. Richarlison cabeceou na trave um bom cruzamento de Daniel Alves, mas foi mais uma jogada forçada, sem tanto trabalho de articulação.

O cenário não mudou tanto durante a prorrogação. Malcom entrou no lugar de Antony e o México se limitou a defender e esperar um erro brasileiro na recomposição defensiva, algo que não aconteceu. A Seleção só assustou em um chute de Arana da entrada da área e saiu vencedora na disputa por pênaltis. Mesmo dominando as ações, o time mostrou que tem uma questão importante a ser resolvida no ataque caso Matheus Cunha não jogue a final olímpica.