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Rodrigo Coutinho

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Richarlison 'sobra', mas Matheus Cunha avança casas importantes no Brasil

Colunista do UOL

28/07/2021 09h01

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Richarlison é o grande destaque do time olímpico que disputa mais uma medalha de ouro em Tóquio. Dificilmente o ''Pombo'' não irá ao Catar em 2022 e tem muitas chances de ser titular do time de Tite. Um outro atacante, porém, vem se colocando de forma importante na corrida por vagas entre os 23 atletas da próxima Copa do Mundo. Matheus Cunha tem muita coisa a seu favor neste duelo.

O jogador do Hertha Berlin tem apenas 22 anos e já foi convocado para a seleção principal em outubro de 2020. Já está no radar da comissão técnica há algum tempo. Mesmo com o torneio olímpico não apresentando um nível técnico tão alto, chama a atenção aquilo que Matheus pode acrescentar taticamente. Uma dinâmica diferente da oferecida por Roberto Firmino e Gabigol, seus principais ''rivais'' neste momento.

Se exclui desta disputa os atacantes que atuam mais pelos lados e Neymar, que vem sendo escalado como atacante central por Tite na maioria das partidas e é inquestionável. Cunha, por mais que já tenha atuado pelo lado esquerdo do campo na Bundesliga, é um atacante para jogar pelo meio do ataque, mas não é um camisa 9 apenas de referência e presença de área.

01 - Lucas Figueiredo/CBF - Lucas Figueiredo/CBF
Matheus Cunha durante partida da seleção brasileira olímpica contra a Alemanha
Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Matheus tem mais essa característica se comparado a Gabigol e Firmino. O atleta do Flamengo é um atacante de mobilidade. Atua pelo centro também, mas precisa de liberdade para trabalhar na intermediária. Geralmente do meio para a direita. Ele mesmo produz o espaço que atacará num segundo momento. Tem potência e personalidade para isso, mas dentro de um nível de competição mais alto, as necessidades que esse comportamento gera para os outros jogadores, podem não ser vantajosas.

Já Firmino, como já virou até clichê, é o ''10 que joga com a 9''. Mesmo que a expressão possa parecer exagerada mediante o momento técnico vivido pelo jogador, bem abaixo daquilo que já produziu, ela é real. O atacante do Liverpool não tem como ponto forte gerar profundidade ao time. Se posiciona muito bem entre as linhas de meio e defesa do time rival, atrai zagueiros e abre espaços de infiltração para os companheiros, articula, carimba bem a bola, e serve quem faz as infiltrações.

Justamente por apresentar-se mais completo taticamente neste momento e estar em franca evolução técnica, Matheus Cunha provavelmente ganhará chances nos próximos jogos da equipe comandada por Tite. O próprio momento é de pressão por mudanças e oportunidades a novos jogadores depois da Copa América decepcionante em casa. O paraibano pode ser uma peça que vai fazer a engrenagem ofensiva funcionar melhor.

A começar pela personalidade que demonstra. Não tem medo de arriscar. Precisa aprimorar a concentração nas finalizações, mas o gesto técnico é de alto nível, seja de curta ou de média distância. Não tem o ''jogo de costas'' e a bola aérea como pontos necessariamente fortes de suas valências, mas a capacidade de movimentação na intermediária para tabelar ou servir os companheiros, somada a boas diagonais curtas que faz entre os defensores, atacando as costas da defesa, oferecem justamente a dinâmica que tem faltado muitas vezes.

O Brasil precisa de um atacante que faça bem as duas coisas. Auxilie na construção e seja mais próximo de um ''9 de fato em alguns momentos''. Principalmente quando o 4-4-2 é o esquema escolhido e Neymar é um dos atacantes centrais. Matheus Cunha ainda não pertence aos atacantes de primeira linha do futebol mundial, não se sabe se alcançará este nível, mas é uma peça que merece ser vista na atual proposta de Tite, principalmente por estar constantemente jogando contra zagueiros de nível mais elevado.