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Rodrigo Coutinho

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Repertório amplo do Furacão sobe o time de patamar na temporada

Colunista do UOL

24/06/2021 04h00

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Único time com 100% de aproveitamento no Brasileirão 2021, o Athlético Paranaense vem mostrando um futebol convincente e particularmente ''adaptável'' em suas partidas. Não se restringe a só uma de forma de jogar. Apresenta organização para se fechar e explorar os contra-ataques ou se instalar no campo adversário e trocar passes até gerar os espaços. Um belo início de trabalho do português Antônio Oliveira.

Ele tem apenas 38 anos e é o treinador mais jovem da Série A. Chegou ao Furacão no meio do ano passado e foi auxiliar técnico de Paulo Autuori no último Brasileirão. O curioso é que o experiente profissional segue na comissão, como diretor técnico, e muito da filosofia implementada na última competição foi mantida, o que facilita o desenvolvimento dos jogadores e entrosamento do time. Antes de desembarcar em Curitiba, Antônio Oliveira trabalhou no Santos, e como auxiliar em diversos países. Além de Portugal, Irã, Eslovênia e Kuwait.

Time-base e esquemas

Desde o jogo contra o Grêmio a equipe vem dando sequência a uma formação com linha de cinco na defesa quando não tem a bola. Quando recupera a posse, solta os alas e o Athlético se desenha numa espécie de 3-4-2-1, a mesma variação vista em diversos clubes e seleções ao redor do mundo. Em outros momentos, pode utilizar o 4-2-3-1, com Jadson entrando na equipe e Zé Ivaldo perdendo vaga.

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O time-base com três zagueiros
Imagem: Rodrigo Coutinho

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O time quando Jadson inicia jogando
Imagem: Rodrigo Coutinho

Modelo Ofensivo

Seja qual for o esquema, é importante frisar a capacidade de ocupação de espaços da equipe. Cada jogador se estabelece em uma faixa do campo, visando a oferta de linhas de passe de forma constante. Desta forma a bola circula com fluidez e velocidade. O Furacão troca em média 15 passes por minuto de posse. É o segundo melhor do Brasileirão neste dado tão importante, só está abaixo do Flamengo. Mostra que a bola circula com rapidez, determinante para abrir brechas nos sistemas defensivos rivais.

Essa preocupação é vista no equilíbrio entre os alas e os pontas/meias. Marcinho, que vem muito bem, é o titular pela direita. O excelente Abner é o dono da esquerda. O ex-jogador do Botafogo quase sempre ataca aberto, deixando Nikão flutuar da direita para o meio, abrindo o corredor para suas ultrapassagens. Já Abner reveza com Vitinho pelo outro lado. Como o camisa 28 é mais rápido e driblador que Nikão, às vezes se coloca bem aberto, visando o duelo de 1x1 contra o lateral rival, e deixa Abner apoiar pelo meio.

A dinâmica entre ponta e lateral ganha a companhia dos meio-campistas para formar triangulações pelos flancos, e ganhar a linha de fundo para cruzar e encontrar Matheus Babi na área. Com três zagueiros, Richard faz esse apoio pela direita e Christian, com um pouco mais de liberdade, pela esquerda. Com linha de quatro atrás, Jadson e Christian têm essa função e Richard fica mais preso, pronto para as transições defensivas.

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Triangulação pela direita. Marcinho mais aberto e o ponta/meia do setor oferecendo apoio por dentro, além de Richard formando o triângulo por trás
Imagem: Rodrigo Coutinho

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Pela esquerda, Vitinho quase sempre mais aberto e Abner atacando por dentro. Christian se projetando para formar a triangulação
Imagem: Rodrigo Coutinho

Além de promover essas trocas de passes curtos, o Furacão também aposta nos passes em profundidade ou em inversões de jogo para o ala atacar a profundidade. Thiago Heleno se especializou nesse tipo de passe nos últimos anos. Marcinho e Abner também buscam Babi ou um dos meias e pontas em profundidade quando a intermediária ofensiva está mais congestionada.

Não à toa o Athlético é o time que mais acerta passes em profundidade no Brasileirão, 58,3%. E é o segundo que mais acerta passes para o terço final do campo, 80,4%, novamente só fica atrás do Flamengo. Tudo isso sendo apenas o 15º time em posse de bola no campeonato, média de 45,3% por jogo, o que corrobora a tese da multiplicidade de repertório.

Diante do cenário, acertar as finalizações é primordial. É o quarto melhor da competição em aproveitamento de chances criadas. 39,5% das oportunidades construídas vão para o fundo das redes. Por mais que não tenha sempre o controle do jogo através da bola, é letal quando chega na área.

Modelo Defensivo

Ter a melhor defesa da competição significa dizer que o Athlético sabe se proteger dos ataques adversários. Não é obra do acaso os 0,23 de média de gols sofridos por jogo. A base que sustenta esse dado é a compactação entre os setores e a coordenação da última linha de defesa, que gruda no setor de meio-campo e mostra boa resposta quando precisa ''correr pra trás'' em ''bolas descobertas'', quando o adversário não tem ninguém pressionando e fará um passe em profundidade.

Montar uma linha de cinco atrás aprimorou esses aspectos e protegeu melhor os espaços nas proximidades de sua área. O Grêmio que o diga, sofreu para encontrá-los. Se a pressão na bola varia um pouco, pode ser melhor e mais regular, a proteção do terço defensivo rubro-negro é basicamente impecável. Quando atua com linha de quatro atrás, Richard se preocupa mais em se aproximar dos zagueiros e fechar os espaços centrais em cruzamentos ou jogadas laterais.

São 17 faltas cometidas em média por jogo, o que dá o tom de uma transição defensiva forte ao perder a bola e da utilização da ''falta tática'' como recurso em momentos críticos. É o segundo time mais ''faltoso'' do campeonato. O Flamengo novamente lidera esse ranking.

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O 5-4-1 compacto no momento defensivo. O time todo em poucos metros
Imagem: Rodrigo Coutinho

Projeção

Mesmo não tendo o elenco mais poderoso e o melhor time tecnicamente do Brasileirão, o Furacão vem dando mostras que pode competir de igual para igual com qualquer um ao se basear num leque tão amplo na parte tática. Como todos os times, passará por oscilações e perderá jogadores importantes para suspensões e lesões. Ter o respaldo da diretoria será importante nesses momentos.

Há boas reposições em alguns setores. Khellven vinha muita bem antes de Marcinho se tornar titular. Nicolas fez uma Série A consistente pelo Atlético-GO em 2020 e é um reserva confiável para Abner. Erick, Léo Cittadini, Fernando Canesin, Terans, Carlos Eduardo e Renato Kayzer são outros suplentes que mantêm a competitividade do time.

Talvez o Furacão não tenha ''lastro'' neste momento para almejar o título, mas vai brigar por uma vaga direta na Libertadores se nada de absurdo acontecer no meio do caminho. Está bem vivo também na Copa do Brasil, vencida em 2019, e na Copa Sul-Americana, conquistada em 2018. Não falta hierarquia para buscá-las.