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Rodrigo Coutinho

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Guia da Libertadores - Tudo sobre o Grupo C

Colunista do UOL

15/04/2021 04h00

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Dando prosseguimento ao raio-x de cada grupo da Libertadores 2021, chegou a vez de falarmos do C, que tem o Boca Juniors como cabeça de chave e o acompanhamento de Barcelona de Guayaquil, The Strongest e Santos, que eliminou Deportivo Lara e San Lorenzo nas fases prévias. Confira!

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Tevez, aos 38 anos, disputará mais uma Libertadores pelo Boca Juniors
Imagem: Rodrigo Coutinho

Fugir do clichê de indicar o Boca como um dos favoritos ao título de uma Libertadores é difícil, mas desta vez dá para arriscar. O time treinado por Miguel Ángel Russo segue sem mostrar um futebol condizente com o ótimo elenco que possui. Se nas duas últimas edições do torneio algo parecido aconteceu, ao menos defensivamente o time era muito competitivo, algo que tem faltado em 2021.

Descartar a força dos Xeneizes não é prudente. Por mais que não possa ser apontado neste momento como um time que vai lutar pelo título, o Boca tem jogadores capazes de fazer a diferença, principalmente se chegar na reta final da Libertadores livre das lesões que o atormentam. Salvio e Pavon, de volta após estadia na MLS, são os principais exemplos. Marcos Rojo foi contratado e vem ganhando sequência na zaga, agora formada por três homens na maioria dos jogos.

Russo tenta resgatar o equilíbrio defensivo que caracterizou o time desde o trabalho de Gustavo Alfaro, mas sabe que precisa também desenvolver a parte ofensiva. É cobrado por isso e parte da torcida já pede a sua demissão. A realidade é que, desde que assumiu em janeiro de 2020, não é perceptível o padrão que tenta dar para a equipe ao atacar. Em grande parte do tempo, pouca mobilidade e aleatoriedade, sem um plano definido do que fazer com a bola. Refém de individualidades que nem sempre aparecem.

A campanha no Campeonato Argentino e irregular, mas a boa notícia é o crescimento de alguns jovens. Medina, de apenas 18 anos, vem formando dupla com Campuzano no meio. Maroni voltou de empréstimo da Sampdoria e, ao lado de Villa, joga próximo de Tevez no 3-4-3 utilizado. Varela e Zeballos são outros que ganharam minutos e destaque. O Boca deve se classificar, mas precisa melhorar muito como time.

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Damian Diaz segue se destacando com a camisa do Barcelona
Imagem: Rodrigo Coutinho

Se há um time visto como ''baba'' aqui no Brasil, e que pode de fato complicar a vida de Boca Juniors e Santos, essa equipe é o Barcelona de Guayaquil. O péssimo futebol apresentado pelo maior campeão equatoriano na edição de 2020 ficou pra trás. Os comandados do argentino Fabian Bustos ganharam corpo com a evolução coletiva e a chegada de novos jogadores.

Bustos assumiu o time em 2020 e demorou alguns meses para conseguir fazer o Barcelona mais competitivo. Acabou eliminado na 1ª fase da Libertadores e fez uma campanha de recuperação no Campeonato Equatoriano. No fim sagrou-se campeão e ajudou a quebrar um tabu de oito anos sem conquistas. Perdeu o centroavante Jonatan Álvez para 2021, mas ganhou Garcés, que se destacou no Delfín, além do zagueiro Léon(ex-Independiente del Valle), o lateral-esquerdo Quiñonez e o meia Sérgio Lopez. Os dois últimos, destaques em equipes menores do Equador em 2020.

Lidera a edição de 2021 do torneio nacional com três pontos de vantagem para o segundo colocado. Em casa deverá dar trabalho. Tecnicamente está abaixo de Santos e Boca, mas taticamente vive uma fase mais avançada. A última vez que perdeu em seus domínios foi para o Flamengo, em setembro de 2020. Fora de casa é uma incógnita, até por quê tem dificuldades para jogar mais fechado.

O destaque fica por conta da boa circulação da bola no campo de ataque, o apoio constante dos laterais, sempre buscando tabelas e triangulações com os meias abertos, e Damian Diaz, o camisa 10 da equipe. O experiente argentino tem total liberdade e costuma resolver as coisas para o Barcelona. O ponto fraco é o espaço que costuma aparecer entre os setores, fruto de uma marcação por encaixes por vezes displicente.

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Raul Castro é uma ilha de boa técnica no meio-campo do time boliviano
Imagem: Rodrigo Coutinho

Outro azarão da chave é o boliviano The Strongest, que depois de dois anos volta a disputar uma fase de grupos da Libertadores. Não há nada de muito diferente do convencional. Jogar na altitude e imprimir um estilo quase que insano de jogo direto e de velocidade é a arma dos ''tigres''. Defensivamente os aurinegros de La Paz têm muitos problemas.

Para se ter ideia da dependência da altitude, o último resultado diferente de derrota fora de casa, em Libertadores, aconteceu em 2017. Já a última vitória completou cinco anos de aniversário. Aconteceu sobre o São Paulo, em 2016. É o atual vice-campeão boliviano e conta com uma legião de atletas que integram a seleção local, o que em nível técnico não representa tanto.

O técnico Alberto Illanes assumiu o comando do time no ano passado e comanda uma equipe invicta em 2021. O The Strongest é o atual segundo colocado na liga boliviana e possui dois brasileiros no elenco. Os pontas Rafinha, ex-Flamengo, e Willie, ex-Vasco. É provável que disputem uma vaga entre os titulares por darem aquilo que o time precisa: velocidade nos contra-ataques e ataques à profundidade após as muitas ligações diretas.

O atleta mais talentoso do plantel é o meia Raul Castro, camisa 10 do time, e titular recente em partidas da seleção boliviana. Ele arrisca bons chutes de fora da área e tenta dar o mínimo de elaboração de jogadas quando a bola para no meio-campo. Os irmãos José e Jesus Sagredo, os zagueiros Martelli e Valverde, o volante Wayar, e os meias Ramiro Vaca e Ruddy Cardozo são outras caras conhecidas que estão no grupo.

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O Peixe de Marinho quer o tetra da Libertadores
Imagem: Rodrigo Coutinho

Depois da Libertadores 2020, duvidar do poder de superação e reinvenção do Santos não é aconselhável. O clube inicia mais uma temporada na Libertadores e novamente se vê em dificuldades. Perdeu jogadores importantes, teve lesão grave recente de um titular absoluto, e desenvolve novas ideias com o técnico argentino Ariel Holán. Dá para acreditar que o Peixe pode ir longe de novo?

Mesmo com pouco tempo de trabalho, já é perceptível o modelo desenvolvido por Holán. Ele traz novamente ao clube o ataque posicional implementado por Sampaoli em 2019 e Dorival Junior anteriormente, mas com o ritmo de circulação da bola mais parecido com o do time do técnico brasileiro. A intensidade do argentino e os muitos ataques diretos com Cuca deram lugar a uma equipe que elabora mais as jogadas, não imprime velocidade com tanta frequência.

Sandry era peça primordial para fazer o meio-campo funcionar nesse contexto, mas sofreu lesão no joelho e ficará fora de combate até pelo menos os últimos meses do ano. Pirani vem jogando e se saindo bem, mas é uma prova do que o Santos terá. Jovens jogadores em processo de maturação e buscando seu espaço. O clube segue proibido de contratar em virtude de dívidas.

A questão é que para uma base tão pródiga, não trazer alguém de fora abre espaço para jovens que provavelmente não teriam sequência. E nisso se descobre grandes talentos, como o do zagueiro Kaiky Melo, de apenas 17 anos, mas muita segurança e qualidade para sair jogando. Fez gol importante contra o Deportivo Lara e foi bem contra o San Lorenzo. Mesmo com todas as questões citadas, o Peixe não deve em nada ao Boca Juniors hoje, e deve duelar com os argentinos pela liderança do grupo.