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Rodrigo Coutinho

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Por que todo mundo quer Kanu?

Colunista do UOL

24/03/2021 09h53

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Um dos nomes mais citados no atual mercado de transferências do futebol brasileiro é o zagueiro Kanu. O atleta do Botafogo foi cobiçado oficialmente por ao menos três clubes nacionais e pelo Cruz Azul, do México. O valor da aquisição de seus direitos econômicos vem sendo o entrave até aqui. O Glorioso não esconde que dificilmente o venderá por menos de R$ 16 milhões.

O destaque de Kanu veio um pouco mais tarde do que se imaginava. Na base do Botafogo desde o sub-17, o defensor chamava a atenção, mas acabou recebendo poucas chances desde que se profissionalizou em 2017. Chegou a ser emprestado para a Cabofriense no ano seguinte, mas voltou ao alvinegro e só teve sequência na equipe titular sob o comando de Paulo Autuori, em 2020, e a partir daí se desenvolveu.

A torcida do Botafogo sabe que segurar o jogador mediante o assédio de outros clubes mais poderosos financeiramente é muito difícil, e enquanto isso vai aproveitando aquilo que Kanu pode oferecer. Afinal, o que o fez chamar tanto a atenção assim?

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Os números de Kanu desde que se tornou titular
Imagem: Fonte: Opta

Em primeiro lugar é importante frisar o alto nível do zagueiro dentro de uma temporada extremamente caótica para o Glorioso. O clube foi rebaixado pela terceira vez em sua história em 2020, fez um péssimo Campeonato Estadual e foi eliminado precocemente na Copa do Brasil. Muitas vezes o sistema defensivo esteve mal, mas Kanu evitou uma situação ainda pior.

Requisito importante no futebol de hoje, a velocidade é um dos pontos diferenciais do zagueiro natural de Duque de Caxias, Baixada Fluminense. Kanu, em comparação a outros defensores, é extremamente ágil nas mudanças de direção e nos duelos em velocidade com os atacantes rivais.

Se somarmos a isso a qualidade na saída de bola, se encaixa perfeitamente em equipes que jogam com mais posse de bola, se instalando no campo adversário, buscando encontrar espaços e exigindo dos zagueiros participação eficaz no momento ofensivo, além de recuperações rápidas nas transições defensivas. Reage bem ao ser pressionado nas saídas de bola também.

É seguro nas bolas aéreas. Ganha em média duas de cada três disputas pelo alto que se envolve, mas pode ser um pouco mais contundente na área ofensiva. Não só por não ter marcado gols ainda, mas por finalizar poucas bolas em escanteios e faltas laterais favoráveis ao Botafogo. Crescer nisso agregará mais valor ao seu jogo. É importante para um defensor ser perigoso neste tipo de lance em um futebol que se decide muitas vezes desta forma.

Outro destaque é o posicionamento. Protege a área muito bem e dificilmente se afoba em perseguições ou coberturas em tempos errados. Até por isso se vê poucas vezes ''vendido'' em duelos. Desde que se tornou titular, levou apenas sete cartões amarelos em 54 jogos. Ótima média. O número de faltas que sofre é quase o mesmo que faz. O que corrobora o estilo sóbrio.

Um ponto em que pode melhorar é a virilidade em alguns duelos. Quando encara atacantes mais fortes fisicamente, que fazem bem o trabalho de pivô, costuma ter mais dificuldades. Nada que comprometa o seu futebol, mas em jogos de alto nível é importantes estar sempre a altura. É destro, mas pode jogar pelos dois lados da defesa pelo bom uso da perna esquerda. Vem atuando mais pelo lado canhoto inclusive.

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Mapa de calor de Kanu. Jogando pelo lado esquerdo da defesa, mesmo sendo destro
Imagem: Sofascore

Kanu é um bom exemplo para o Botafogo e para diversos clubes brasileiros com menos poder aquisitivo. Fez parte do elenco sem muitas vezes ser relacionado durante quase três temporadas. É verdade que neste período se desenvolveu em treinamentos, mas esse processo poderia ser acelerado caso ganhasse mais oportunidades.

Quantos zagueiros inferiores a ele tiveram mais minutos do que mereciam durante os últimos três anos no Botafogo? Muitas vezes jogadores que vieram de fora, gerando custos e salários maiores ao clube. Olhar para o produto interno e saber a hora de lançar é determinante para a recuperação de muitos clubes brasileiros.