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Rodrigo Coutinho

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Do jogão no Beira-Rio à 'final' no Maracanã, o que mudou em Fla e Inter

Colunista do UOL

18/02/2021 04h00

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Inter e Flamengo se reencontram neste domingo, no Maracanã, em uma espécie de ''final'' do Brasileirão 2020. O último embate entre eles foi possivelmente o melhor jogo da competição. Mas uma boa dimensão da loucura que é o futebol brasileiro é o fato de os dois times terem tido mudanças significativas em relação ao 2 a 2 de 26 de outubro no Beira-Rio.

A começar pelo banco de reservas. Eduardo Coudet e Domènec Torrent eram os comandantes do Colorado e do Rubro-Negro na ocasião. O debate da qualidade dos técnicos estrangeiros em comparação aos brasileiros, inclusive, voltou com toda a força após a agradável partida. De fato, foi um jogão! Não sabemos se neste final de semana veremos uma repetição. Pelo contexto mais decisivo é difícil crer nisso, mas são times diferentes do que eram.

Coudet, em desavenças com a antiga diretoria do Inter, preferiu aceitar uma proposta do Celta de Vigo. Abel Braga foi contratado e conseguiu superar o péssimo início que teve, recolocando o Inter na ponta. Dome não resistiu a pressão e acabou demitido após a goleada sofrida para o Atlético Mineiro, menos de 15 dias depois do empate no Beira-Rio. Rogério Ceni foi o escolhido e precisou vencer momentos complicados até a subida de produção do time mais recentemente.

Time-base e Esquemas Táticos

Fruto das mudanças no comando, mas também de lesões, boa e má fase de atletas, os times mudaram um pouco o ''11 inicial'' e a plataforma tática adotada. O Inter atuava em um 4-1-3-2, esquema preferido de Coudet, e passou a jogar no 4-1-4-1 com Abel Braga.

Heitor, Zé Gabriel, Uendel, Rodrigo Lindoso, Marcos Guilherme e Abel Hernandez perderam espaço no time. Rodrigo Moledo, ainda de fora, e Thiago Galhardo, não são titulares em virtude de lesões, mas o camisa 17 pode retomar a vaga diante do Flamengo. Rodinei, Lucas Ribeiro, Moisés, Rodrigo Dourado, Caio Vidal, Bruno Praxedes e Yuri Alberto ascenderam sob o comando de Abel Braga.

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As mudanças do Inter entre Coudet e Abel
Imagem: Rodrigo Coutinho

No Flamengo, as mudanças não são tão profundas. Até porque, no jogo do 1º turno, Gabigol, Bruno Henrique, Arrascaeta e Rodrigo Caio foram desfalques muito sentidos. Mas o time-base de Dome tinha algumas diferenças em relação ao de Ceni. O esquema mais utilizado pelo catalão era o 4-2-3-1. O ex-goleiro vem adotando o 4-4-2.

Thiago Maia, hoje lesionado, era titular. Natan formava a zaga com Rodrigo Caio. Diego vem atuando com mais frequência ao lado de Gerson no meio-campo e Arão foi recuado para a defesa.

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As mudanças do Flamengo entre Dome e Ceni
Imagem: Rodrigo Coutinho

Modelos de Jogo

Nas ideias postas em prática por cada treinador, há pontos que precisamos considerar. Com o argentino, o Colorado marcava muito a saída de bola adversária, inclusive fez um gol desta forma contra o Flamengo no 1º turno. Com Abel essa postura varia um pouco mais. Geralmente adota a estratégia nos minutos iniciais, mas recua bastante o bloco de marcação depois dos 20 minutos ou quando faz um gol.

A principal diferença está na postura da equipe com a bola. Antes o Inter fazia mais questão de ficar com a posse. Muitas vezes atacava com ligações diretas, como continua fazendo com Abel Braga, mas até pelas transições defensivas mais agressivas, voltadas a retomar rápido a bola no campo de ataque, o Colorado ficava com ela durante mais tempo.

Atualmente a proposta de jogar em contra-ataques aparece com frequência, e o espaço dado a Caio Vidal e Yuri Alberto tem a ver com isso. O que não mudou foi a eficiência protegendo a área e a precisão para converter em gols as poucas chances que cria. O Colorado sabe jogar de maneira reativa. Rodrigo Dourado na cabeça de área fez o time crescer ainda mais neste sentido.

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Colorado fica menos com a bola, mas cria mais chances claras com Abel
Imagem: Fonte: Opta

No Flamengo o ''conceito maior'' não mudou. Com Dome ou com Ceni o time busca fazer jus ao fato de ter o melhor elenco do país e quer ter a bola o tempo inteiro. A diferença é que com o catalão atacava de forma posicional, quando cada atleta precisa obedecer a um posicionamento prévio dentro do campo. Com o brasileiro, há mais liberdade de movimentação e trocas de posição entre os jogadores, algo mais próximo do que se fazia com Jorge Jesus.

Outra mudança importante com Ceni foi a fixação de Filipe Luís alinhado aos dois zagueiros para fazer a saída de bola com três peças. Desta forma, Bruno Henrique e Arrascaeta se revezam dando amplitude ao time pela esquerda. Isla se solta pela direita e Everton Ribeiro flutua para o meio. A liberdade posicional também dada a Gabigol é determinante para a crescente do atacante na reta final.

Defensivamente houve melhora. Ainda não dá pra dizer que o Flamengo tem uma retaguarda confiável. A média de gols sofridos não é baixa, mas as transições entre ataque e defesa subiram muito de produção e intensidade, além da compactação dos setores quando o oponente tem a bola durante mais tempo. A sequência de jogos de Rodrigo Caio também é fundamental nisso. Diego Alves vive uma temporada às voltas com lesões e Hugo segue na meta sem comprometer.

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Flamengo melhorou em basicamente todos os aspectos com Ceni, só precisa finalizar melhor suas chances reais de gols
Imagem: Rodrigo Coutinho

Líderes com a ''cara'' do Brasileirão

Inter e Flamengo vão disputar o título nessas duas últimas rodadas com méritos. Foram os times que se mostraram mais capazes, mas o caos que pautou a vida dos dois clubes em diversos momentos da temporada não deixa dúvidas: entender o Brasileirão não é para amadores.