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Rodolfo Rodrigues

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Mbappé tem razão: futebol sul-americano está distante do europeu

Mbappé e Dembélé posam para foto com a bandeira da França - Reprodução/Getty Images
Mbappé e Dembélé posam para foto com a bandeira da França Imagem: Reprodução/Getty Images

Colunista do UOL

27/05/2022 13h23

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O atacante Mbappé deu uma declaração sincera nos últimos dias sobre o favoritismo da França e dos europeus na Copa do Mundo do Qatar em 2022, disse ainda que Brasil e Argentina não enfrentam boas equipes e que o futebol daqui da América do Sul não está no mesmo nível da Europa. "Argentina e Brasil não jogam partidas de alto nível para chegar à Copa do Mundo. Na América do Sul [o futebol] não está tão avançado como na Europa. E é por isso que quando olha as últimas Copas do Mundo foram os europeus que ganharam".

Alguns boleiros opinaram, dizendo que não é tão fácil assim jogar aqui na América do Sul, como o volante Fabinho, o ex-atacante Loco Abreu, dizendo que é complicado jogar na Bolívia, Colômbia, Equador. Mas não era esse o ponto e Mbappé. É muito claro que os sul-americanos estão muito distantes dos europeus em todos os sentidos no futebol. Clubes, seleções, treinadores, árbitros e até mesmo jogadores atualmente. Já não temos tantos craques como protagonistas como antes.

Na próxima Copa do Mundo, no Qatar em 2022, o futebol sul-americano completará um jejum de 20 anos sem título. Nunca, na história das Copas, desde 1930, ficamos 4 edições seguidas sem conquistas. No Mundial Sub-20, onde Argentina e Brasil são os maiores campeões, não há título para a América do Sul desde 2011. Na Copa do Mundo, desde o título do Brasil em 2002, os sul-americanos chegaram apenas em uma final, com a Argentina em 2014. Os europeus foram campeões nas 4 últimas Copas e tiveram 3 vice-campeões. Com isso, ultrapassaram os países da Conmebol em títulos (12 a 9).

Nos confrontos entre países da América do Sul contra os da Europa, a desigualdade é enorme. O Brasil, desde o título de 2002, enfrentou 10 seleções europeias em Copas com 3 vitórias (Croácia, 2 vezes, e Sérvia), 2 empates (Portugal e Suíça) e 5 derrotas (França; Alemanha; Holanda, 2 vezes; e Bélgica), sendo eliminado nas 4 vezes por europeus. Já a Argentina, depois de perder a final de 2014 para Alemanha, já acumula 6 jogos sem vitória contra europeus. Na última Copa, empatou com a Islândia (1 a 1) e perdeu para Croácia (3 a 0) e França (4 a 2).

Nas Eliminatórias, Brasil e Argentina garantiram classificação de forma invicta. As duas seleções não perdem há muito tempo para os rivais do continente, venceram as últimas edições da Copa América e realmente não têm adversários aqui. O Brasil fez sua melhor campanha nas Eliminatórias com 14 vitórias, 3 empates e nenhuma derrota. Marcou 40 gols e sofreu apenas 5. O aproveitamento de 88,2% é o maior de uma seleção na história das Eliminatórias Sul-Americanas desde 1998.

No mesmo Mundial de Clubes da Fifa, desde o Corinthians, campeão em 2012, nenhum time da Conmebol foi campeão, no maior jejum de títulos desde o início do Mundial Interclubes, em 1960. No antigo formato, entre 1960 e 2004, quando havia apenas o confronto entre o campeão da Europa e o da Libertadores, os sul-americanos tiveram a hegemonia do torneio com 22 títulos contra 21 dos times da Uefa. No atual Mundial de Clubes da Fifa (entre 2000 e 2020), foram 13 títulos dos europeus e 4 dos sul-americanos, sendo apenas 1 nas últimas 14 edições.

Não basta mais se agarrar à tradição. O futebol sul-americano precisa evoluir. Os europeus criaram ainda um calendário que favorece demais suas seleções com a Liga das Nações, um torneio realizado nas datas Fifa, que praticamente acabou com os amistosos entre seleções sul-americanas e europeias. O Brasil vai à Copa do Mundo sem pegar seleção da Europa e sem poder testar sua seleção diante dos principais países.

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