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Rodolfo Rodrigues

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rodolfo Rodrigues: Neto não tinha bons números para ir à Copa de 1990

Neto comemora gol pelo Corinthians em 1990, no Pacaembu - Reprodução
Neto comemora gol pelo Corinthians em 1990, no Pacaembu Imagem: Reprodução

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Nessa semana, o UOL lançou um documentário sobre a Copa do Mundo de 1990, disponível no canal do UOL Esporte no YouTube. Entre as várias histórias envolvendo aquela seleção brasileira de Lazaroni, uma delas que gera polêmica até hoje é a ausência de Neto, então meia do Corinthians. Mas será que o xodó da Fiel foi mesmo injustiçado pelo treinador?

Exímio cobrador de falta, dono de um chute forte, Neto tinha boa visão de jogo, dava ótimos lançamentos e era talentoso. Isso tudo é inegável. Com seu talento, poderia, sim, ter ido à Copa do Mundo de 1990. Apesar de ser considerado por muito com um bom batedor de faltas e só, inclusive por Lazaroni, Neto poderia, numa bola parada ou num lançamento, ter ajudado o Brasil a passar pela Argentina nas oitavas de final. Mas essa seria uma visão muito simples.

Revelado pelo Guarani bem cedo, em 1983, aos 16 anos, Neto teve uma passagem relâmpago pelo futebol carioca, em 1986, quando foi emprestado para o Bangu, e não deixou boas recordações por lá. Principalmente na parte disciplinar. Em 1987, também não se firmou no São Paulo. Em 1988, voltou ao Guarani, foi vice-campeão paulista e jogando muita bola e esteve no elenco da seleção olímpica que ganhou a prata em Seul. No ano seguinte, 1989, foi para o Palmeiras e teve uma passagem regular.

Ainda em 1989, Neto foi para o Corinthians numa troca entre os dois clubes, que envolveu o meia Ribamar, além de dois laterais esquerdos (Dida e Denys). Dono da camisa 10, Neto teve um bom início pelo Corinthians, fazendo boas apresentações na Copa do Brasil. Fez um gol olímpico contra o Flamengo e depois marcou mais um gol na vitória por 4 x 2 nas quartas de final. E só não levou o Pacaembu abaixo naquele dia pois o Corinthians levou um gol no finalzinho do jogo e acabou eliminado.

No Brasileirão de 1989, Neto foi um dos destaque do Corinthians, ao lado de Cláudio Adão e do goleiro Ronaldo. Naquele ano, Neto disputou 23 jogos e marcou 8 gols pelo Corinthians. Números regulares e nada acima da média. Em 1989, a seleção brasileira de Sebastião Lazaroni havia conquistado a Copa América e meias como Valdo e Silas, que jogavam em Portugal, estavam muito bem e com moral com o treinador. Neto, em 1989, estava longe de ser apontado como um possível convocado.

Em 1990, durante o Paulistão, Neto seguiu como principal jogador do Corinthians. Naquele campeonato, o time ficou invicto por 35 rodadas, mas não conseguiu chegar à final da competição, que acabou tendo uma final caipira, entre Bragantino e Novorizontino. Antes da Copa do Mundo, no primeiro semestre, Neto disputou 22 jogos apenas e marcou 7 gols. No Paulistão, foram 13 jogos e somente 4 gols. Números fracos para um meia que buscava um lugar numa Copa do Mundo.

No segundo semestre de 1990, Neto disputou a reta final do Paulisão e o Brasileirão pelo Corinthians, tendo feito 32 jogos e 13 gols. No Brasileirão, o jogador teve uma participação fundamental, principalmente nos mata-matas. Nas quartas de final, fez os dois gols da virada do Corinthians sobre o Atlético-MG, com gols no segundo tempo, num jogo em que muitos corintianos já não acreditavam muito na equipe. Na semifinal, contra o Bahia, marcou o gol da vitória de falta. Já na final contra o São Paulo, foi muito bem, tendo sido o líder do time que ganhou seu primeiro título brasileiro. Mas tudo isso, depois da Copa.

Entre os meias que foram ao Mundial da Itália, Lazaroni levou, além de Valdo e Silas, os vascaínos Tita e Bismarck. Valdo, o melhor de todos, jogava no Benfica e era um dos principais nomes do time que foi vice-campeão da antiga Copa dos Campeões da Europa. Silas, que jogava no Sporting, tinha na bagagem a disputa da Copa do Mundo de 1986 no México e ainda ganhou a camisa 10 de Lazaroni. Habilidoso, acabou decepcionando no Mundial, mas sua convocação nunca chegou a ser discutida.

Já o meia Bismarck, então com 20 anos, era uma das maiores promessas do futebol brasileiro. Campeão brasileiro com o Vasco em 1989, quando fez uma ótima parceria de ataque com Bebeto, Bismarck se destacava pela habilidade, velocidade e pela finalização. No Carioca de 1990, foi o vice-artilheiro do time com 11 gols. E até a convocação para a Copa do Mundo, era um dos principais nomes do Vasco na primeira fase da Libertadores — naquele ano o Vasco foi até as quartas de final, quando acabou eliminado pelo Atlético Nacional-COL.

Naquele momento, na época da convocação, Bismarck estava até mais em alta do que Neto. Em 1989, o jogador carioca tinha ainda disputado o Mundial Sub-20 com a seleção brasileira (que chegou à semifinal) e feito algumas partidas com a seleção principal aos 19 anos. Mas em 1990, entrou apenas em três amistosos pré-Copa e sequer entrou em campo durante o Mundial. Apesar de suas qualidades, não se via em Bismarck um jogador que pudesse entrar e mudar o panorama de uma partida. Algo que pesou depois nessa discussão sobre a ausência de Neto, que era um jogador que poderia resolver um jogo com uma bola parada.

Já o meia Tita, que jogava também como ponta-esquerda, acabou sendo uma das convocações mais surpreendentes de Lazaroni no aspecto negativo. Aos 32 anos, já veterano para a época, Tita acabou convocado mais pela experiência e pelo passado. No Vasco, chegou em novembro de 1989 e disputou menos de 10 partidas no time que conquistou o Brasileirão. Antes disso, tinha tido uma passagem discreta pelo modesto Pescara, da Itália. Jogador que nunca havia disputado uma Copa do Mundo, Tita teve um início de 1990 também regular pelo Vasco. Já pela seleção, tinha sido reserva na Copa América de 1989 (jogou apenas 11 minutos contra a Venezuela) e disputou apenas um jogo amistoso pré-Copa em 1990.

Se Neto não tinha números convincentes para ir à Copa de 1990, Tita também não. Mas ali pesou o fato de Lazaroni não ser muito simpático ao estilo de jogo de Neto e ao seu comportamento extracampo. Tita era velho conhecido do futebol carioca (e do próprio Lazaroni), era um jogador de sua confiança. Mas o tempo mostrou depois que Lazaroni errou na convocação de Tita e Bismarck. Não dá para cravar que Neto teria sido a melhor opção, mas certamente ele poderia ser mais útil naquele Copa em que a seleção não tinha um homem de bola parada.

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Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi informado no texto, Neto não foi titular nas Olímpiadas de Seul, Geovani era o titular. O erro foi corrigido.
Diferentemente do que foi informado no texto, o Vasco foi campeão brasileiro em 1989, e não 1990. O erro foi corrigido.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL