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OpiniãoEsporte

Bruno Henrique e o regulamento embaixo do braço

Já é famoso o texto da propaganda de uma das casas de apostas regulamentadas pelo Ministério da Fazenda: "Isso que é jogar com o regulamento debaixo do braço".

Não é bem assim, como o caso Bruno Henrique indica.

A regulamentação das apostas esportivas é contraditória com a proibição do jogo no Brasil desde 1946, embora existam tantas outras contradições, como a Mega-Sena.

A diferença é que já provoca uma série de doenças ligadas ao vício. Era impossível não regulamentar levando em conta a realidade de que se pode apostar pelo celular até em sites registrados em paraísos fiscais.

A indústria não gerava emprego nem pagava imposto no Brasil antes da regulamentação.

Só que a doença se espalha e chega aos jogadores, agravada pela cultura do "O que é que tem?"

Se em países onde as populações têm mais acesso à educação formal já correram risco de serem banidos de suas carreiras jogadores como Buffon, Tonali e Paolo Rossi...

Se já foi preso jogador da Itália de 1980 como o atacante Giordano, investigados da seleção inglesa como Sturridge e Trippier... Se tudo isso acontece na Europa, imagine aqui onde se pergunta "O que é que tem?"

O que é que tem tomar um cartãozinho contra o Santos para não viajar a Fortaleza, que é longe e tem campo ruim, e ajudar um irmão que está precisando de uma grana?

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Situação hipotética até que se comprove culpa após o indiciamento.

O que é que tem ajudar um tio, vizinho ou familiar a arranjar um dinheirinho? O que é que tem já ter bom dinheiro na conta bancária e fazer propaganda de apostas esportivas, mesmo sendo formador de opinião.

Não é crime fazer propaganda... Um departamento comercial de uma empresa de comunicação pode fazer dentro das regras. Uma pessoa física vender o anúncio pode gerar conflitos de interesses, como mostra a decisão da atriz Paolla Oliveira de não gravar comerciais de bebidas alcoólicas, alerta produzido por ela mesma depois de ser escalada para interpretar Heleninha Roitman, em "Vale Tudo".

O que é que tem?

O que é que tem ser desembargador e não se julgar impedido de tomar uma decisão judicial que beneficie um vizinho, amigo, familiar ou sócio de algum destes?

No caso da indústria das apostas, se for estelionato, tem que a polícia vai bater à sua porta e você terá de responder: "Mas eu não fiz nada de mais!"

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Nem de menos.

Outro dia alguém disse para não usar a palavra ignorância, porque podia ser confundida com burrice, mesmo que o sinônimo no dicionário seja "desconhecimento".

Pois muita gente neste país não sabe o significado da palavra estelionato. Não é por isso que não se usará esta expressão no processo contra Bruno Henrique.

Se alguém preferir um sinônimo mais popular, vamos lá: é 171! É fraude! Picaretagem!

O passo decisivo é conscientizar quem está pessoalmente nesta indústria que a matéria-prima é o jogo limpo.

Individualmente, todos. Do roupeiro ao narrador, do craque ao cabeça de bagre. Se clubes e pessoas ganham seu pão de cada dia com esporte é porque se acredita na lisura dos resultados.

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Quem ajuda a fabricar outra percepção na sociedade deve ser convidado a se retirar.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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