Brasil de prata, mulheres de ouro.
O estranho contraste olímpico entre ganhar uma medalha de bronze e perder uma de ouro fez o sábado ter saltos de alegria do vôlei e choro pela derrota do futebol. Parabéns a todas e também aos técnicos Arthur Elias e José Roberto Guimarães. Está claro, diante do contexto histórico, que a seleção bicampeã do vôlei alcançou menos do que poderia — e não é fracasso.
As mulheres do futebol fizeram mais do que se imaginava, principalmente depois da derrota de virada para o Japão.
Quebrar o tabu contra a França, vencer a Espanha campeã mundial, colocar o Brasil no mesmo lugar em que esteve em Atenas e Pequim, quando a Europa ocidental ainda não investia na modalidade como faz hoje.
Quando a Copa do Mundo começou, em 1991, 61 anos depois dos homens, as potências eram China, as escandinavas da Noruega e da Suécia, a Alemanha. O Brasil não era figurante.
A figuração ficava com Espanha, França, Inglaterra, Holanda, hoje muito fortes.
A concorência aumentou e nosso investimento foi muito mais lento. O nosso, como população. O da CBF, também, mas hoje há pelo menos campeonatos regulares e nós, pais e mães, em geral, não presenteamos naturalmente nossas filhas com uma bola de futebol, como se faz com o menino que começa a andar.
Neste cenário, o trabalho precisa ser muito mais árduo, porque não se vai tirar qualidade da quantidade, como no masculino. A ausência do time dos homens dos Jogos de Paris também faz parecer uma guerra dos sexos, que não precisa existir. O Brasil ficou fora como em 1980, 1992, 2004. Mas foi bicampeão olímpico em 2016 e 2020.
Claro, com investimento muito mais pesado do que no feminino. O que nos faz voltar ao fato de que a medalha de prata é de heroínas.
Que seja o primeiro passo para que o país seja mesmo, de verdade, em que se jogue futebol entre meninas e meninos, homens e mulheres, como se vê nas praias do Rio de Janeiro, em alegres disputas de altinhas e futevôlei.
O trabalho de Arthur Elias, respaldado e com investimento, fará chegar à Copa do Mundo de 2027 na condição de candidata ao título. O país do futebol feminino ainda são os Estados Unidos. A paixão pelo jogo faz as mulheres do Brasil entrarem no seleto grupo dos mais poderosos do planeta. Podem permanecer.
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