Efeito Bortoleto nas pistas: 'É como com Guga, todos querem encontrar um'
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O Brasil passou sete temporadas sem representante na Fórmula 1 como titular, depois de uma sequência que vinha desde 1970, sempre tendo pilotos na categoria máxima do automobilismo, e a pergunta era 'o que está errado com o automobilismo brasileiro?'. Nos últimos quatro anos, os pilotos do país colecionaram dois títulos da F3 e dois da F2, e Gabriel Bortoleto acabou com a seca na F1. E o efeito é quase imediato.
"É igual na época do Guga, todo mundo acha que vai encontrar o próximo", compara o empresário Geraldo Rodrigues, da ReUnion.
Felipe Drugovich foi campeão da F2 em 2022, depois Bortoleto ganhou a F3 em 2023 e a F2 em 2024, e neste ano Rafael Câmara abocanhou o título da F3.
É uma onda brasileira que vai além do piloto da Sauber e que não veio do nada. Os pilotos brasileiros que estão se dando bem agora perceberam há anos o que tinha que ser feito: ir para a Europa muito cedo para correr ainda de kart por lá e com um planejamento financeiro de médio prazo.
O hoje empresário Gastão Fráguas seguiu essa cartilha há 30 anos.
Comecei tarde no kart, aos 15 anos, em 1992. Tive um convite para ir à Europa correr de kart em 1995, era algo inédito na época, e fui campeão mundial. Quem tem condição, tem que ir. Minha visão sempre foi essa. Porque você aprende a trabalhar em um ambiente mais profissional, fica mais inserido no sistema do automobilismo europeu.
Gastão Fráguas, ex-piloto e empresário
Fráguas ajudou Bortoleto, assim como Rafa Câmara, que entra na F2 em 2026 como um dos favoritos. Ele também apoiou a carreira de Caio Collet, hoje na Indy NXT. Todos eles fizeram esse caminho.

"As pessoas estão se convencendo que não tem outro jeito. Culturalmente, as famílias querem estar perto de seus filhos, mas se você quiser andar em altíssimo nível, não tem como fugir. Tem que sair do bem-bom de casa."
O sucesso recente dos brasileiros parece mesmo ter comprovado de uma vez por todas que esse é o caminho. Tanto é que a A14 Management, empresa da qual Fernando Alonso é um dos sócios e que cuida da carreira da Bortoleto, está tendo de rejeitar pedidos.
Estamos recebendo sondagens de outros pilotos brasileiros e também que não são brasileiros, mas também por causa do Gabriel. Mas a A14 sempre será uma empresa muito pequena, cuidando de um grupo pequeno de pilotos, então não mudou nada para nós. Infelizmente, eu tenho que negar todas essas propostas.
Albert Resclosa Coll, empresário de Gabriel Bortoleto, da A14 Management
Rodrigues observa dois fenômenos: havia uma tendência das famílias que queriam apostar na carreira automobilística de optar pelo caminho dos EUA, muito mais barato que as categorias de base da F1 na Europa. Agora, há um apetite maior para fazer o investimento bem mais pesado e apostar em um caminho como o de Bortoleto, Drugovich e Câmara. Os três saíram do Brasil antes dos 15 anos para ir correr de kart na Europa.
Uma carreira de mais de 50 milhões de reais
De fato, é uma aposta alta. É comum nas categorias de base do automobilismo que os pilotos tragam investimento. Às vezes é a família que investe, mas na maioria dos casos há dois caminhos: conseguir patrocínio ou tentar entrar para um programa de jovens pilotos de times de F1, que abatem parte desse custo na maior parte das vezes.
Mas é raro que alguém tenha apoio desses programas desde o kart. Atualmente, para se fazer um bom programa no kart europeu, é necessário um investimento de 300 mil euros por ano.
E os números só vão subindo: 800 mil a 1 milhão para a Fórmula 4, com a opção de disputar vários campeonatos, 1 a 1.2 milhão de euros para a FRECA, que é um passo intermediário entre a F4 e a F3, depois 1.6 a 2.5 milhões de euros para a Fórmula 3 e, por fim, 2.5 a 3.5 milhões de euros para uma boa vaga na Fórmula 2.
Ou seja, os custos ultrapassam os 50 milhões de reais. Não é a toa que Rodrigues diz que a grande busca na ReUnion atualmente é por 'queimar etapas'. "Tem muita gente querendo ir direto para a FRECA."
É possível gastar muito menos, mas isso também significa testar menos e estar em equipes com menor estrutura. O que vai afetar os resultados e, com isso, as oportunidades. Uma carreira como a de Bortoleto, por exemplo, foi construída evitando essas 'armadilhas' de ficar com vagas mais baratas, embora ele tenha testado muito menos que outros pilotos badalados que chegaram com ele na F1, como Kimi Antonelli e Ollie Bearman.
Já o chamado Road to Indy fica, em sua totalidade, desde a USF Junior, em torno de 2.5 milhões de dólares, valor abaixo de uma temporada de F3 na Europa
Ou seja, mesmo com a ânsia de ir atrás do 'novo Guga' e da disposição renovada das famílias de fazerem mais esforço, ter uma carreira que leve à F1 saindo do Brasil segue sendo um desafio. "Por isso que campeões são poucos", define Fráguas.



























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