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Cercada de boatos sobre crise, Ferrari se distancia dos campeões da F1

Essa foi mais uma semana normal para a Ferrari: especialmente o jornal Corriere della Sera, o mesmo que lançou os boatos de que Fred Vasseur estava perdendo apoio e poderia ser sacado a qualquer momento em junho, publicando sobre discussões internas envolvendo o chefe da equipe (que acabou tendo o contrato, que venceria no final do ano, renovado) e insinuando que Lewis Hamilton não está sendo ouvido quando pede por mudanças internas. Mas as notícias não vêm só de uma publicação, volta e meia fala-se na saída de profissionais. Algumas confirmadas, outras não.

Isso é uma constante em Maranello quando as coisas não vão bem. O mesmo processo foi vivido por Mattia Binotto e pelos que passaram pela chefia da Scuderia desde o fim da era Jean Todt. O próprio Todt, na verdade, viveu isso nos primeiros anos, antes dos títulos em série.

É fácil ver como esse clima de eterna crise, que vai se misturando a uma empolgação também exagerada quando o time esboça uma reação aqui ou ali, dificulta formar uma equipe vencedora. E vai distanciando a Ferrari das bases que sustentaram as últimas dinastias da F1.

Desde que a Ferrari ganhou o último título, o mundial de construtores de 2008, fora o caso especial da Brawn GP, os campeonatos ficaram nas mãos da Red Bull em oito oportunidades, da Mercedes, em sete, e da McLaren nos últimos dois. Em comum, projetos de longo prazo.

Ok, Andrea Stella só assumiu o comando da McLaren em 2023, mas houve uma correção de curso ali. O italiano já fazia parte do topo da operação da equipe e só não ocupou o cargo antes porque, efetivamente, não quis. E, quando chegou, não reestruturou tudo.

Já Christian Horner, na Red Bull, manteve várias peças ao seu lado desde antes do domínio com Vettel até sua segunda fase, com Verstappen. E Toto Wolff, junto com Niki Lauda, também mexeu pouco na estrutura da Mercedes até eles começarem a ganhar.

Mas o que os boatos constantes de crise têm a ver com isso?

Simplesmente, é mais difícil contratar em meio a tanta incerteza. Ninguém quer se comprometer a sair de uma equipe em que há estabilidade para correr o risco de assinar um contrato e, quando finalmente começar no novo emprego (lembrando que os profissionais, dependendo da área que atuam, têm que ficar na "geladeira" por seis a até 12 meses antes de poder começar a trabalhar em uma equipe rival), correndo o risco de já ter um novo chefe. Com uma nova proposta. E que, sabe-se lá se vai querer os mesmos profissionais contratados pelo antecessor.

Dentro da equipe, fica aquele clima de medo de que todo mundo está por um fio. E quem vai inovar, quem vai arriscar em um clima desse?

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No comando da Ferrari há tanto tempo quanto Stella é chefe da McLaren, mas tendo vindo de fora da Scuderia, Vasseur sente que esse é um momento crítico em que ele precisa fazer a equipe acreditar no processo, mesmo se eles não começarem bem ano que vem.

A Ferrari diz ter contratado 65 profissionais sob o comando do francês e diz ter perdido apenas 18. Essas pessoas demoraram para serem convencidas, cumpriram ou estão cumprindo o período de geladeira, e ainda não tiveram tempo de mostrar serviço.

Há quem possa dizer que Ferrari é assim mesmo. Que quem trabalha lá - e, principalmente, quem lidera - tem que aprender a trabalhar nesse clima. Então, seguindo a mesma linha, tem que aprender a ver os rivais se organizarem e continuarem somando títulos.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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