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Como estilo de vida 'gamer' de Bortoleto surpreendeu o parceiro de Sauber

"Ele me perguntou: 'o que você faz durante o dia?' E eu disse: 'Fico no simulador o dia todo'. 'Como isso é possível?' Eu disse: 'O que você faz durante o dia?'. 'Eu passo um tempo com minha filha, vou tomar um café', e eu pensei: 'Mas como assim?'"

Esse diálogo foi descrito por Gabriel Bortoleto, falando da surpresa de seu companheiro, Nico Hulkenberg, ao saber como era sua rotina. O pano de fundo da conversa eram as 400 a 500 voltas que ele fez no simulador caseiro para se preparar para a estreia no GP de Singapura, além das 80 a 90 voltas que fez no simulador da equipe dos dois, a Sauber.

É uma geração diferente. Ele também faz muito trabalho de simulador na equipe, mas em casa ele não tem um simulador. Mas é só estilo de vida, diferente, ele tem uma filha para cuidar, uma esposa, ele tem a vida dele, eu não tenho nada disso, tenho uma namorada, mas ela não mora comigo, e o que eu faço? Eu vou à academia, mas você não passa 12 horas lá, você precisa acordar, ir à academia, e quando voltar, precisa fazer alguma coisa. Essa é a única coisa que eu encontro para fazer.
Gabriel Bortoleto

Perguntado pelo UOL Esporte sobre a surpresa em saber mais sobre o estilo de vida do companheiro, Hulkenberg disse que não é algo que faz parte da sua rotina porque ele nunca foi ligado em qualquer tipo de simulador de corrida, mesmo quando era mais jovem.

Acho que é uma mistura de razões diferentes, obviamente uma geração completamente diferente. Eu nunca fui... quando era adolescente, às vezes eu jogava um Playstation ou Xbox, mas nunca me apaixonei de verdade, nunca fez sentido para mim, nunca foi uma história de amor, então eu fazia coisas de vez em quando, mas nunca fiquei apaixonado por isso. E eu acho que é muito pessoal, algumas pessoas realmente gostam de fazer isso, como o Max [Verstappen] e ele, por exemplo, elas amam, vivem para isso, o que também é bom. Acho que para elas realmente faz diferença, ajuda e, de alguma forma, as treina mais, mas para mim, como eu disse, nunca fez sentido.
Nico Hulkenberg

O alemão disse que não se sente menos preparado porque só faz simulador na fábrica da equipe.

E também é verdade que ele tem voltas e mais voltas na vida real em todas as pistas do calendário atual da F1. Afinal, estreou na categoria em 2010, enquanto Bortoleto está em sua primeira temporada.

E, mesmo na comparação com outros novatos do grid, Bortoleto é mais 'viciado' em seu simulador caseiro. Até mesmo Oliver Bearman, que raramente tem acesso ao simulador da equipe, pois a Haas divide o equipamento que é da Ferrari e os pilotos ferraristas têm total prioridade, ficou surpreso quando ouviu sobre o número de voltas que o brasileiro fez antes de Singapura.

Bortoleto explica que, para ele, o simulador faz com que ele sinta que já esteve na pista antes, mesmo sem nunca ter dado uma volta no mundo real. É claro que não é possível reproduzir exatamente o que será encontrado na pista, mas ele trabalha com um nível de detalhamento grande, fazendo alterações manuais nas pistas.

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Inclusive, ele e Max Verstappen trocam esses modelos entre si.

O acerto do carro é bem difícil de simular muito bem, mas existem pistas muito boas feitas no simulador que são muito parecidas com as da vida real, e se você conseguir lidar bem com essas pistas e trabalhar nelas... Tenho amigos que fazem alguns trabalhos de pista para mim, então se eu precisar de uma zebra um pouco diferente aqui ou ali, uma ondulação que não existe no simulador, e eu quiser adicionar coisas assim, nós ajustamos, tornamos realista. E então, quando você entra em uma pista na vida real, em vez de entrar em uma pista que você não pilota há um ano, eu provavelmente sinto como se já tivesse passado por isso.
Gabriel Bortoleto

Mas está claro que Bortoleto não vê isso exatamente como um trabalho, apesar de calcular que fica 7 a 8h no simulador. Ele se diverte também.

Se eu começo do meio-dia, às 13h, logo depois do almoço, e depois passo o dia inteiro pilotando, faço uma parada rápida, descanso, jogo outros jogos e volto, no final do dia você termina às 22h, 23h. Então você passa, não sei, 7, 8 horas, mas fazendo muitas coisas. Você nem percebe, se está disputando com amigos, e aí eles fazem um bom tempo de volta, e aí você precisa bater esse tempo de volta, porque você é competitivo, e então você continua fazendo isso, e quando vê a quantidade de voltas que fez, você pensa, meu Deus, fiz muitas voltas.
Bortoleto

O brasileiro não acredita que os pilotos tenham que fazer tantas horas no simulador para se prepararem. Ele lembra que Charles Leclerc, por exemplo, é um piloto muito rápido, e nunca gostou dos simuladores. Mesmo entre os mais jovens, Isack Hadjar é um que faz o mínimo possível, e mesmo assim tem feito uma boa temporada de estreia. "Depende de cada um", diz o piloto da Sauber, que se prepara para duas pistas desconhecidas pela frente, em Austin, já neste fim de semana, e no México, no próximo.

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