Quando a Ferrari vai aprender a parar de viver de crise em crise?
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Uma série de reportagens assegurando que há muita insatisfação interna a respeito da liderança de Fred Vasseur na Ferrari. O contra-ataque bem claro do francês, dizendo que a Scuderia já mudou de chefe algumas vezes, de direção técnica, de pilotos, mas há algo que nunca muda. A imprensa italiana sentiu o golpe e até já foi buscar apoio da FIA pelo que entende como uma interferência em seu trabalho.
A briga está comprada e a pergunta que fica é a quem interessa tudo isso? Avaliando friamente, a Ferrari não está tão mal quanto parece quando você lê as manchetes. A recuperação deles após um erro na atualização levada ao GP da Espanha foi algo que há tempos não se via em Maranello. Embora haja falhas de comunicação muito bem documentadas entre engenheiros de pista e seus pilotos, eles evoluíram muito em toda a execução de corrida, especialmente nos pit stops, que estão entre os melhores do grid de maneira consistente.
É tudo um trabalho de base iniciado na era Binotto e que Vasseur foi inteligente o suficiente para continuar. E dou exemplos: quando Binotto assumiu, a Ferrari não tinha um lugar na fábrica para que os mecânicos treinassem pit stops. Não tinha um simulador de última geração ou um túnel de vento atualizado.
São coisas que exigem muito trabalho e investimento nos bastidores e cujo resultado não é imediato. Mas, na Ferrari, tudo tem de ter resultado imediato devido à enorme pressão sofrida por todos lá. E era isso que Vasseur apontava. "A McLaren teve tempo para trabalhar tranquila no que eles precisavam para voltar ao topo", comparou.
É fato que a decisão de mudar bastante o projeto do carro no último ano de regulamento foi uma aposta que ainda não pagou dividendos. Era realmente um risco. E digo "ainda" porque a atualização da suspensão traseira, que tem levado a vários comprometimentos no acerto do carro que impedem que a Ferrari tire o máximo do que tem em mãos, vai chegar nas próximas corridas e tem cara de ser decisiva para a renovação ou não do contrato de Vasseur, que vai até o final do ano.
É bom lembrar que as decisões técnicas que levaram à queda de desempenho entre 2024 e agora foram tomadas por quem não está mais na Ferrari - Enrico Cardile foi contratado pela Aston Martin e deu lugar a Loic Serra, que ficou com a missão de 'consertar' o carro.
Ao mesmo tempo, é difícil ignorar que exemplos da história recente da F1 apontam para a vantagem de começar e terminar um projeto sem mudanças constantes de comando. As duas equipes mais vencedoras dos últimos 15 anos - Mercedes e Red Bull - não mudaram a chefia neste período e a última pode ser até um exemplo do que acontece quando as peças começam a cair.
E a McLaren, você pode perguntar: Zak Brown já sabia que Andrea Stella, que estava bem perto do topo da organização, era o seu líder perfeito, mas demorou para convencê-lo disso. Stella só continuou o trabalho que tinha ajudado a fundar, mas com seu estilo de liderança que elevou a mentalidade do time.
Só que a Ferrari não tem um Andrea Stella.
A solução para a Ferrari é confiar no processo

Talvez ajude aos ferraristas refrescar um pouco a memória e lembrar que, no final de 1996, o primeiro ano da era Schumacher, a cabeça do chefe Jean Todt, que tinha basicamente o mesmo tempo de Ferrari que Vasseur tem hoje, quase rolou. Foi o então bicampeão que o segurou. E eles venceram cinco campeonatos de pilotos e seis de construtores juntos.
É sempre a mesma história - assim que os resultados não vêm na Ferrari, a imprensa começa a apontar culpados e vira um caos, mas para mim é uma questão de focar no processo e entrar os resultados quando importa.
Carlos Sainz, ex-piloto da Ferrari
É claro que os atuais pilotos da Ferrari estão frustrados. Qualquer um ficaria, respondendo sempre às mesmas perguntas, sabendo que não há estratégia no mundo que vai fazer um carro que não pode ser configurado da maneira como foi concebido ser competitivo, ainda mais frente a projetos muito mais maduros.
Isso sem falar em Lewis Hamilton e todos os questionamentos internos sobre a incapacidade que ele tem demonstrado de se "reprogramar" e se ajustar a não apenas um carro diferente, mas todo um modo de trabalho. Além de toda a pressão extra que a simples presença dele traz à equipe.
Gostaria de poder contar o que está acontecendo. Há muita coisa acontecendo nos bastidores e há muitas coisas que eu gostaria de explicar, mas não posso entrar em muitos detalhes sobre o que aconteceu este ano, os problemas que tivemos, o que está acontecendo dentro da organização. Meu objetivo é tentar influenciar essas mudanças de forma positiva para que haja sucesso a longo prazo. Há muitas mudanças que precisam ser feitas. Da minha parte, é preciso construir as bases, porque não estamos lutando pelo campeonato. É claro que estamos fora do campeonato e precisamos garantir que no próximo ano tenhamos um ótimo carro, então não devemos perder muito tempo nos preocupando ou focando neste carro. Quero garantir que o carro no próximo ano seja significativamente melhor desde a primeira corrida.
Lewis Hamilton, piloto da Ferrari
Pilotos e o chefe estão alinhados, e isso ficou muito claro no fim de semana do GP do Canadá. A grande pergunta que fica de tudo isso é de onde vem o ruído captado por parte da imprensa italiana. O atual projeto, com Vasseur, com Hamilton e tudo mais, é tudo o que o CEO da Ferrari, John Elkann, queria, é há uma dificuldade na mídia italiana de saber, de momento, o que passa pela cabeça dele.
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