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Opinião

'Pior GP que já experimentei.' Será? É preciso filtrar o que Hamilton diz

Uma das coisas mais fáceis de fazer nos meus quase 15 anos de cobertura na Fórmula 1 sempre foi ler qual Lewis Hamilton está aparecendo para fazer as entrevistas. Se é o monossilábico, que vai balbuciar palavras, com o olhar distante e com pelo menos um passo de distância em relação ao entrevistador. Ou se será o piloto sorridente, eloquente, que fala com cada interlocutor como se quisesse seduzi-lo.

Nas últimas três corridas, nós tivemos essas duas facetas do heptacampeão falando com a imprensa após um GP. No último domingo, na Espanha, foi a primeira. Na Itália, duas semanas antes, foi a outra.

Provavelmente, o que realmente acontece com Hamilton não está nem em um extremo, nem no outro.

"O que você quer que eu diga? Eu tive um dia muito ruim e não sei o que dizer", disse ele depois do GP da Espanha, e aqui estou juntando três respostas para ter uma fase completa. Tenho certeza de que eles não vão [encontrar uma solução]. Provavelmente sou eu [o problema]. Foi uma das piores corridas que eu experimentei em termos de equilíbrio do carro".

Então esse é o fim de Lewis Hamilton? É melhor ele aceitar que não é mais o que já foi e ir procurar outra coisa para fazer da vida?

Ele mesmo disse que só queria mesmo era ir para casa, esquecendo-se da empolgação de duas semanas antes. Em Imola, tudo tinha sido fantástico.

"Não lembro da última vez que senti que tinha um carro de corrida com o qual eu conseguia progredir. Finalmente tive uma conexão, uma sinergia com o carro hoje e a sensação foi ótima. Diria que foi até melhor do que a sprint na China", disse Hamilton após o GP da Emilia Romagna, citando a corrida curta que venceu na segunda etapa do ano.

Os pilotos atualmente só falam com a imprensa logo depois de saírem do carro. O procedimento é ir para a pesagem e passar diretamente para o chamado cercadinho, onde eles respondem basicamente as mesmas perguntas diversas vezes, para as TVs e para a imprensa escrita logo em seguida.

Nem sempre foi assim. Os pilotos antes falavam só com as TVs, iam para suas equipes, e mais um menos uma hora depois da bandeirada tinham uma entrevista com a imprensa escrita. Sem estarem no calor do momento e tendo tido a oportunidade de falar com a equipe, na maioria das vezes já tinham um discurso bem diferente sobre o que tinham dito anteriormente.

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Não temos mais esse segundo momento, então essas entrevistas feitas quando um piloto que teve um dia difícil menos queria responder qualquer coisa são analisadas e repetidas como se significassem mais do que a empolgação ou a decepção de um piloto.

E, com Hamilton, especialmente agora na Ferrari, o efeito de tudo é amplificado. Ele é o piloto mais vencedor da história, correndo pela equipe mais vencedora da história, e essa dificuldade que sempre teve de esconder suas emoções mais latentes - e que faz tanta gente se identificar com ele - acaba custando mais caro.

Mas isso não significa que Imola ou Barcelona tenham de ser levadas ao pé da letra.

Hamilton tem tido muita dificuldade de entender por que Imola aconteceu, porque Barcelona aconteceu. Está sofrendo mais do que outros pilotos que mudaram de equipe para se acostumar com todas as novidades. Tem pilotado de uma maneira que não é natural para ele.

Está devendo e sabe disso.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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