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Medida contra calor pode estrear em Miami mesmo sem aprovação dos pilotos

Depois de relatos de vômitos e até desmaios dentro do carro durante o GP do Qatar de 2023, a Fórmula 1 trabalhou para criar um sistema de refrigeração que pudesse ser usado pelos pilotos em corridas mais quentes. Mas, como tudo na categoria, a performance está sendo privilegiada pelos pilotos, que têm optado por não usar o sistema que estreia neste ano. Em Miami, contudo, eles podem não ter escapatória.

Isso porque a regra que estreia neste ano diz que, caso a previsão do tempo indicar que o índice de calor (um cálculo semelhante à sensação térmica, levando em consideração a temperatura e a umidade relativa do ar) passe dos 30,5ºC em algum momento durante a sprint ou a corrida, o diretor de prova pode declarar o estado de "perigo de calor". E a previsão no momento é de que a sensação térmica passe dos 33ºC em Miami neste fim de semana.

Quando isso é declarado, todos os pilotos são obrigados a instalar os sistemas de refrigeração. Trata-se de uma uma versão da vestimenta antifogo que eles já usam com tubos, pelos quais corre um líquido que é alimentado por um equipamento colocado junto ao cockpit.

Se não houver o tal "perigo de calor" declarado oficialmente, os pilotos são livres para usar ou não o sistema.

Pilotos não querem peso a mais

A F1 veio de duas corridas disputadas sob calor - especialmente o GP da Arábia Saudita, mesmo tendo sido realizado à noite - mas quase ninguém se animou em usar o novo sistema. O motivo? O peso.

É por isso que Lewis Hamilton ficou surpreso ao saber que George Russell tinha corrido com o sistema no GP do Bahrein. "Sério? Ficaria surpreso se foi isso mesmo, porque são 5 kg. Você tem que adicionar 5 kg ao carro, e ninguém mais faria isso."

Hamilton não está errado. Quando o "perigo de calor" é declarado, todos têm que adicionar 5 kg ao carro referentes ao equipamento, ou seja, usar o sistema é algo que só faz sentido nesse tipo de situação, pois isso significa perder mais de um décimo por volta na maioria das pistas.

Mas a Mercedes parece ter desenvolvido um sistema mais leve, permitindo a seus pilotos se refrescarem durante as provas sem perder tanto rendimento por causa do peso a mais. Ou o carro já está tão abaixo do peso mínimo que isso não faz diferença: eles colocariam um lastro para chegar no peso mínimo e, ao invés disso, instalam o sistema.

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O fato é que Russell usou e aprovou a novidade.

Definitivamente deu para perceber quando liguei a água gelada. No começo da corrida, a água estava a 16ºC e a sensação é muito boa quando você está em um cockpit em que faz mais de 50ºC. Claro que dá para melhorar, mas trabalhamos muito no nosso sistema e queríamos testá-lo.

Aperto no cockpit e incômodos

Nem todo mundo fez essa lição de casa e é por isso que muitos pilotos são reticentes em usar a novidade, dizendo que a posição do equipamento limita os movimentos no cockpit ou incomoda de alguma maneira, por causa dos cabos.

Mas Hamilton tem um motivo a mais para não querer adotar o sistema. Ele é conhecido por sequer usar a hidratação durante as provas, evitando carregar a garrafa que pesa cerca de 1 kg.

"Só tive duas corridas na carreira que foram difíceis. No meu primeiro ano, na Malásia, minha garrafinha não funcionou, então cheguei no final desidratado. E Singapura ano passado foi bem difícil também", disse ele, que bateu na primeira curva do GP do Qatar de 2023, aquele que gerou a regra.

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"Eu amo isso, tem que ser assim mesmo, o topo do topo entre os atletas. Precisa ser difícil. E os carros de hoje são mais fáceis de pilotar em comparação a quando eu comecei. São muito mais pesados. Não quero usar se eu puder evitar. Do meu lado, quero entender como me preparar melhor", afirmou.

Entendo que é difícil, e não queremos ver pilotos desmaiando. E acho que é bom que eles tenham a tecnologia mas, para mim, não é algo que eu queira ver no meu carro.

Hamilton e os outros que não gostam do sistema podem até não usá-lo, mas terão que tê-lo no carro caso a direção de prova determine o tal "perigo de calor".

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