Bortoleto conta por que não quer testar muito com F1 e ri de especulações
Muita coisa aconteceu nas últimas duas semanas do piloto brasileiro Gabriel Bortoleto, mas várias outras coisas a mais foram escritas sobre ele. Afinal, as duas corridas no pontos largando em último em Monza, com direito a vitória na prova principal, o primeiro teste com a F1 e agora a liderança do campeonato da Fórmula 2, conquistada no último final de semana, no Azerbaijão, ajudam seu nome a ser comentado na categoria principal.
E há também a enorme expectativa no Brasil, que não vê um piloto como titular na categoria desde 2017, o que tem gerado uma chuva de especulações sobre a possibilidade de correr na Sauber e sobre o papel da McLaren, equipe com a qual tem contrato de piloto de academia, nesse processo.
Bortoleto tem preferido manter o foco na sua campanha na Fórmula 2 e contou em entrevista exclusiva ao UOL Esporte que tem até evitado ir ao paddock da F1.
Julianne Cerasoli: Como foram as últimas 2 semanas para você, com seu nome em todos os lados, principalmente após aquela corrida de Monza?
Gabriel Bortoleto: Continuei minha vida normal, nada muda. Mas obviamente o que eu vi foi muita energia positiva vinda de todos os fãs brasileiros. Foram duas semanas bem intensas, bastante simulador que eu fiz para essa pista de Baku para a McLaren, e para a Áustria também, onde eu fiz o teste. E depois o teste no Red Bull Ring.
JC: E como foi o teste? Foi aquilo que você esperava de um F1?
GB: A Fórmula 1 é um negócio bem diferente. É um estafe maior. É como se fosse uma equipe inteira da F2 para cuidar só de um carro. É tudo muito mais específico, detalhado, muitos sensores. E a pilotagem é até difícil de explicar. As freadas são impressionantes, as curvas de alta, força G, é tudo impressionante naquele carro. Só tenho que agradecer à McLaren pela oportunidade.
JC: E deu vontade de fazer mais, certamente. Tem algo programado?
GB: Com certeza, se Deus quiser ando logo. A gente tem uma possibilidade de fazer mais um teste, mas eles querem que eu foque bastante na F2. Porque eu diria que pode não ser bom fazer muitos treinos de Fórmula 1, porque você se acostuma com um carro muito diferente. A gente está em uma posição muito boa, lutando pelo campeonato e queremos ficar assim. Mas talvez eu faça mais um teste antes do Qatar [próxima etapa da F2, no final de novembro].
JC: A McLaren tem garantido que eles não querem te liberar e aceitariam negociar algum tipo de empréstimo para a Sauber. Como é essa situação para você, entre querer estrear o quanto antes na F1 e prestigiar quem está te dando as oportunidades?
GB: Eu não tenho muito o que comentar. Tem tanta coisa no ar, tem tanta coisa que as pessoas falam, mas a verdade é que a gente continua focado na Fórmula 2, e talvez agora nesse período entre uma corrida e outra conversas comecem a aparecer mais. Eu vejo umas notícias que me fazem dar risada até com a minha família. A gente fica vendo coisa na internet que nem nós sabemos se é verdade ou mentira.
A McLaren trabalha muito pelo meu sucesso e eles querem me ver na F1 um dia. Eu tenho certeza disso, por isso eu sou parte da academia deles, porque eles querem produzir pilotos. Eu nem sei o que tem dentro do meu contrato na McLaren. Eu sei das partes que me interessam que são os treinos de F1 e as sessões de simulador. Eu deixo com os advogados e com o pessoal da A14 [seus empresários] e eu confio nele porque eles tomaram conta do contrato desde o começo. Eu acho que essa coisa de me liberar ou não é mais coisa de rumor de internet.
JC: Como você lida com essas negociações? Você diz aos empresários o que quer e deixa que eles cuidem de tudo?
GB: Exato, eles sabem que eles tão fazendo, não tem o que eu fazer. Eu não posso chegar e sair batendo na porta da equipe falando o que eles têm que fazer, falando que quero um lugar na F1. Não é assim que as coisas funcionam. Eu tenho que fazer o meu trabalho e é isso. As pessoas acham que eu digo isso porque não quero abrir nada. Mas é a verdade. Se eu não performance na Fórmula 2, as oportunidades não vão aparecer. Eu tenho que fazer o meu trabalho aqui bem feito e, para fazer o trabalho do jeito que estou fazendo, tenho que estar focado aqui. Não posso ficar pensando em F1 e nem fico indo no paddock da F1. Em Baku eu só fui lá para comer e para ir no banheiro quando deu bandeira vermelha na minha corrida.
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Quero receberO pessoal da A14 que está cuidando de tudo e eu confio totalmente no que eles decidirem. Obviamente, eu vou ter a decisão final, mas confio que eles vão tomar as melhores providências.
JC: O pessoal está tão ansioso que tirou conclusão até de uma foto sua conversando com o Binotto [que chefia a operação da Audi]. Como é sua relação com ele?
GB: Foi engraçado porque eu estava fazendo o grid com o pessoal da Band e brinquei com eles. ‘Ah, o Binotto tá ali, vou falar com ele’. Fui comprimentar só por brincadeira. Só falei ‘oi, tudo bem?’
Claro que eu conheço ele e outros chefes de equipe. A gente vive no mesmo ambiente, não é que eles estão em Marte. Ele falou ‘parabéns pela corrida’. Tiraram a foto e começaram a falar um monte de coisa.
JC: A conversa virou a assinatura do contrato...
GB: Já garantiram que eu ia ser anunciado. Meu Deus! Eu dou risada com a minha família. Está todo mundo sabendo de coisa antes de mim.
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