Como um italiano está resgatando a paixão para a McLaren voltar ao topo
Ele escolhe cada palavra, calmamente, pausadamente. Olha no olho do interlocutor, é daquelas pessoas que fazem você também pensar em cada palavra que diz para se fazer entender com precisão. Depois de 20 minutos de entrevista exclusiva, sinto como se tivesse saído de uma aula de como aproveitar o máximo de cada sentimento, de cada passo do processo. E imagino qual o impacto que Andrea Stella deve ter no dia a dia de um time que vive uma guinada impressionante em sua história.
Andrea Stella assumiu o controle da McLaren meio de sopetão. Ele estava sendo preparado para substituir Andreas Seidl quando o alemão fosse para a Audi provavelmente em 2025, mas tudo se movimentou antes do previsto com a ida de Fred Vasseur para a Ferrari no começo de 2023, o que fez Seidl deixar a McLaren e Stella ser promovido.
Experiência não faltava. Ele foi engenheiro de performance de Michael Schumacher e Kimi Raikkonen, e depois engenheiro de pista do finlandês e de Fernando Alonso. Foi com o espanhol para a McLaren, como chefe de operações de corrida e dali foi subindo de cargo. Diretor de performance, diretor de corrida e, em dezembro de 2022, se tornou o chefe da McLaren. Um italiano no comando da tradicional equipe britânica.
Isso vem carregado de uma série de estereótipos na Fórmula 1. Quantas vezes não ouvimos que a Ferrari jamais terá sucesso quando for chefiada por italianos, pois eles agem muito com o coração e pouco com a razão. Preconceitos que Stella desafia, não tentando se distanciar das emoções, mas usando-as (e convencendo a McLaren a usá-las) a seu favor.
Emoções geram memórias, que engenheiros usam como dados
"Não é que eu cheguei na McLaren com a receita perfeita, estou na minha própria jornada também e considero que estou em evolução constante. Mas algo que certamente é claro para mim há muito tempo é que as emoções podem ser muito importantes. As emoções são a melhor maneira de criar memórias duradouras e quando você tem memórias, você tem dados que você pode usar para fazer seu trabalho corretamente", explicou Stella com exclusividade ao UOL Esporte.
"Então, neste caso, as emoções são realmente muito funcionais do ponto de vista técnico. Ao mesmo tempo, se pensarmos de onde vem a energia para as pessoas, a energia vem das emoções. Não há muita energia associada à lógica. Assim como as emoções são um fator muito importante fator mesmo em um ambiente de alta engenharia."
Isso, lembrou Stella, vale para as emoções dos italianos tanto quanto para as emoções dos ingleses, embora eles as expressem de maneiras diferentes. "É uma questão de ir além das concepções simplistas sobre emoções. Basta pensar nas sutilezas pelas quais, no ambiente britânico, elas podem se aplicar de maneira um pouco diferente da Itália. Mas acho que essa abordagem é válida em qualquer lugar."
Não foi a lógica que fez a McLaren nascer, lembra Stella
Stella não se vê como alguém que está trazendo emoções para a McLaren, é claro. Afinal, o time nasceu do sonho de um piloto neozelandês, que veio de muito longe para se estabelecer no automobilismo europeu. "E não acho que essa foi uma decisão pautada pela lógica", lembra ele com um sorriso."
Mas ele entende que pode ter ajudado o grupo atual da McLaren que uma pitada de paixão também pode ajudar na engenharia. "Provavelmente talvez eu tenha contribuído para o desenvolvimento da equipe utilizando todos esses fatores, que é fundamentalmente explorar o talento e garantir que suas emoções apoiem a exploração e o desenvolvimento do talento das pessoas."
É inegável que a receita de Stella vem funcionando. A equipe que ele assumiu começou 2023 mal preparada e amargando as últimas posições do grid. Eles terminaram o ano colecionando vitórias. E, em 2024, deram mais um passo, estavam na briga pela vitória em todas as últimas quatro etapas, venceram em Miami e agora devem trazer mais novidades no carro para a próxima etapa, na Espanha para criar, quem sabe, mais memórias geradas pelas emoções.
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