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Dobradinha da Mercedes na F1 teve cara de vitória em casa em Interlagos

Hamilton cumprimenta Russell durante pódio do GP de São Paulo de Fórmula 1 -  Peter Fox/Getty Images
Hamilton cumprimenta Russell durante pódio do GP de São Paulo de Fórmula 1 Imagem: Peter Fox/Getty Images

Colunista do UOL

14/11/2022 04h00

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Foi a dobradinha de uma equipe oficialmente alemã, mas muito inglesa, na primeira dobradinha dos britânicos na Fórmula 1 desde 2010. Em Interlagos. Mas nem em Silverstone George Russell, Lewis Hamilton e a Mercedes presenciariam as cenas que viram no palco do GP de São Paulo neste domingo. Como se fosse uma torcida de futebol, os brasileiros entoavam os nomes dos membros da equipe - dos pilotos à treinadora de Hamilton, Angela Cullen - enquanto comemoravam a primeira vitória do time no ano.

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Torcida celebra vitória de George Russell em dobradinha da Mercedes em Interlagos
Imagem: Julianne Cerasoli/UOL Esporte

Emocionado e encharcado de champanhe não só do pódio, mas também jogado pelos companheiros de equipe, Russell correu para a galera, ao coro de "Ruuuuusell". Pedia bonés para jogar para a galera. Mas foi quando Lewis Hamilton apareceu para comemorar a dobradinha com o companheiro que Interlagos veio abaixo.

O inglês juntou o "boa tarde" e o "tudo bem" ao "obrigado" que já tinha no seu repertório ainda curto de português, e parecia se esforçar para reconhecer o carinho que recebeu desde que foi a Brasília para se tornar oficialmente cidadão honorário brasileiro.

Ao mesmo tempo, sua família tinha dificuldade em processar o que estava acontecendo. "Estava falando com minha mãe e ela acha incrível eu ser tão reconhecido num país tão longe do nosso, e pediu para agradecer a todos", disse o inglês, aproveitando para lembrar que ele se sente mais querido no Brasil do que na própria Inglaterra. E não é exagero dele.

Curiosamente, Hamilton não era o único piloto que foi primeiro a Brasília. Max Verstappen, assim como no ano passado, foi primeiro visitar o sogro Nelson Piquet na fazenda da família na capital, e desta vez se certificou que pousaria no aeroporto em que estava de olho desde 2018. Ele lembrava de quando eu o entrevistava no topo de um prédio em 2018 e ele notou que os aviões estavam voando bem baixo. "Por que eu fiquei horas no carro se o aeroporto é ali?". Expliquei que estávamos perto de Congonhas, e ele se interessou mais ainda quando soube que a pista era curta, meio perigosa até. "Dessa vez eu quis pousar no certo", disse o bicampeão, hoje em dia voando com seu próprio jatinho. Ele lembrou ainda que aquela entrevista tinha sido feita com "uma coisa estranha" como tema. Era capoeira.

Outro inglês que recebe muito carinho dos brasileiros é Lando Norris, que parece ser o preferido entre as crianças e adolescentes. Mas o piloto não teve uma experiência das melhores desta vez. Comeu algo que não fez bem na quarta-feira, dia em que também foi ver o Palmeiras, time que adotou por aqui, jogar contra o América-MG, passou a quinta-feira no hotel e comeu muito pouco nos dias seguintes. "Perdi uns 3kg", dizia ele ainda abatido e sem muitas forças para celebrar o aniversário de 23 anos no domingo.

Quando ele nem sequer apareceu para as entrevistas na quinta-feira, correu no paddock o rumor de que Sebastian Vettel tinha dado uma de suas festas de despedida na quarta, o que explicaria a história. Mas fui perguntar para Esteban Ocon e ele se surpreendeu. "Festa do Seb? A festa é quinta em Abu Dhabi!"

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Sebastián Vettel usou uma camisa da Fundação SOS Mata Atlântica nesta quinta-feira no Autódromo de Interlagos
Imagem: Julianne Cerasoli/UOL Esporte

Já em clima, sim, de despedida, Vettel queria conhecer algum projeto de reflorestamento próximo de São Paulo, então sugeri o SOS Mata Atlântica, que ele visitou na quarta-feira. Aprendeu sobre uma vegetação que não conhecia, comeu jabuticaba, e colocou a preservação da área na lista de afazeres depois da aposentadoria da F1. Aliás, está ficando mais claro o que ele pretende fazer pelo menos inicialmente, espalhando suas mensagens por meio de venda de camisetas com mensagens sobre o meio ambiente e inclusão, cuja renda deve ser revertida para apoiar projetos.

Não que o alemão tenha deixado a competitividade de lado. Na quinta-feira, a Aston Martin trouxe os jogadores brasileiros de tênis de mesa Cazuo Matsumoto e Jessica Yamada para dar uma aulinha para os pilotos. Ele e Lance Stroll bateram uma bolinha sem muito sucesso, e Vettel quis treinar mais com Matsumoto. Só saiu de lá quase empurrado pela equipe uma meia hora depois da primeira vez que disse que "agora é a última". Será que na Fórmula 1 a história não será a mesma?