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Estreia de GP de Miami de F1 fez mais barulho fora do que dentro da pista

Largada do GP de Miami, com Max Verstappen partindo para cima de Carlos Sainz - Jared C. Tilton/Getty Images/Red Bull
Largada do GP de Miami, com Max Verstappen partindo para cima de Carlos Sainz Imagem: Jared C. Tilton/Getty Images/Red Bull

Colunista do UOL

09/05/2022 04h00

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A estreia do GP de Miami foi um final de semana em que aconteceu um pouco de tudo, mas talvez não da maneira como a Fórmula 1 sonhava. Desde campeão do mundo fazendo protesto colocando a cueca por cima do macacão, passando por outro campeão ameaçando sair da categoria por uma briga para manter seus piercings. Na pista, em um mesmo evento que reuniu um sem-número de VIPs e foi um sucesso de público, não houve tanta ação quanto se esperava, em prova vencida por Max Verstappen. Com o resultado, o holandês diminuiu a desvantagem em relação ao líder do mundial Charles Leclerc, que foi segundo, para 19 pontos.

O paddock estava pegando fogo com Michael Jordan de um lado, as irmãs Williams de outro, David Beckham, Shawn Mendes, e muitos personagens da F1 radicados nos EUA. Mario e Michael Andretti estavam por lá, com o filho se movimentando na tentativa de convencer a categoria a abrir uma vaga para sua equipe no futuro. Andretti já tentou comprar a Alfa Romeo e a Haas, encontrou as portas fechadas, em um momento de franca valorização do esporte, e agora sabe que seu caminho seria conseguir uma nova licença. Para isso, contudo, ele precisa do apoio dos outros times, que resistem porque teriam que dividir seus ganhos com os direitos comerciais em mais uma parte.

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Lewis Hamilton, Michael Jordan, David Beckham e Tom Brady no paddock do GP de Miami
Imagem: Reprodução/Twitter

Mas o crescimento da F1 nos EUA, que já tinha ficado claro na primeira vez em quase dois anos que a categoria tinha corrido no país, em Austin, e que mais uma vez foi flagrante, pode ajudar Michael. Tanto, que ele conversou com o presidente da FIA, Mohamed ben Sulayem, em Miami e ganhou o apoio público de Christian Horner, além de estreitar seus laços com a Alpine, que deve fornecer motores caso o projeto saia do papel.

Quem também apareceu foi Romain Grosjean, que acabou sendo um personagem interessante por seu testemunho sobre uma das polêmicas do momento. O francês teve queimaduras sérias nas mãos em um acidente no final de 2020, e contava que estava usando a aliança no dia (e não deixou de usar em nenhuma corrida depois). E a região em que a joia estava escapou praticamente ilesa.

Isso virou assunto desde que a nova direção de prova da F1 decidiu aplicar com rigor uma regra que consta há anos e que proíbe o uso de quaisquer joias por questões de segurança - e o fogo é a grande preocupação. Lewis Hamilton não está gostando nada dessa nova normativa que, ele entende, e é apoiado por Sebastian Vettel nessa visão, é direcionada a ele. Hamilton não tirou o piercing que tem no nariz em Miami e disse que não vai tirar. A FIA lhe deu até o GP de Mônaco para voltar atrás.

Outra norma que está sendo levada mais à risca é a obrigatoriedade das cuecas dos pilotos serem anti chamas, a exemplo do restante de sua roupa. Muitos brincaram com a situação e Vettel desfilou pelo pit lane com sua cueca normal em cima do macacão, já que ele não pode mais usá-la por baixo.

Toda essa rigidez acabou pegando mal para a direção de prova depois dos problemas de segurança da pista de Miami, vistoriada também pela FIA. O asfalto estava se soltando em alguns trechos e foi refeito duas vezes em pouco mais de 24 horas. Mas a grande queixa dos pilotos era com a mureta de concreto ao invés de um material que absorve mais a energia em caso de acidente na saída da curva 14. Após bater, sofrendo um impacto de 42 vezes a força da gravidade e sentir o pescoço, Carlos Sainz avisou que a proteção tinha de ser trocada. Seu pedido não foi atendido e Esteban Ocon bateu ainda mais forte no sábado.

Tudo parecia meio surreal para todo lado que se olhava. Atrás do que a TV mostrava, a Fórmula 1 estava acomodada de um jeito diferente. Caixas e mais caixas de materiais das equipes estavam enfileiradas nas rampas de acesso do estádio Hard Rock, ou guardadas dentro do próprio estádio, cujas arquibancadas serviam até de escritório para as equipes. Curiosamente, uma equipe de técnicos que trabalha na transmissão só pôde ser alojada dentro de um dos vestiários.

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Caixas das equipes da Fórmula 1 guardadas dentro do estádio Hard Rock em Miami
Imagem: Julianne Cerasoli/UOL Esporte

No início da semana, falou-se muito nas extravagâncias dos preços e da marina falsa, e inclusive teve jornalista que levou bronca por brincadeiras com o fato de barcos estariam "ancorados" em uma cobertura de plástico.

Miami prometeu ser um grande evento, e não apenas uma corrida, e de fato chamou a atenção a quantidade de convidados nas equipes até mesmo na quinta-feira, em que não há qualquer atividade de pista. Era tanta gente que chegou a faltar comida para os convidados.

Mas, pelo menos na TV e para os fãs que esgotaram os 80 mil ingressos, o show funcionou. Agradou o acesso a várias áreas da pista, que foi projetada justamente para que mesmo quem não tinha ingresso para sentar em uma arquibancada pudesse se locomover de um lado ao outro e aproveitar várias atividades diferentes. Tudo isso faz com que a F1 veja em Miami um exemplo para outras provas no calendário - o que, para alguns 'dinossauros' na temporada, como Mônaco, serve mais como um aviso.