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Competitiva e política, temporada 2021 uniu o melhor e o pior da Fórmula 1

Max Verstappen (Red Bull) e Lewis Hamilton (Mercedes) lado a lado durante o GP da Arábia Saudita - Giuseppe CACACE / AFP
Max Verstappen (Red Bull) e Lewis Hamilton (Mercedes) lado a lado durante o GP da Arábia Saudita Imagem: Giuseppe CACACE / AFP

Colunista do UOL

30/12/2021 04h00

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O ano de 2021 começou com cara de mais do mesmo para a Fórmula 1, após uma temporada de domínio absoluto da Mercedes e com as atenções voltadas ao futuro, com todas as mudanças de regulamento pelas quais a categoria vai passar em 2022. Mas as previsões não poderiam estar mais equivocadas: este ficará marcado como um dos melhores dos mais de 70 anos de história do esporte. E, assim como em outras temporadas clássicas, como 1976 e 1989 ou 90, por exemplo, essa marca vem tanto para o bem, quanto para o mal.

Do lado bom, fica uma competitividade que há muito não se via. O título de pilotos não era disputado até a última prova por pilotos de equipes diferentes desde 2012. Uma decisão na última volta só tinha acontecido uma vez, em 2008, e dois pilotos só tinham chegado ao GP final empatados também em uma oportunidade, em 1974.

Com carros com características diferentes, às vezes parecia que Max Verstappen era o favorito, às vezes Lewis Hamilton retomava a condição em que esteve nos últimos anos. Foram cinco trocas de liderança ao longo do ano. E, no final, em uma decisão polêmica, o título de pilotos ficou com o holandês, e o de equipes com a Mercedes de Hamilton. Isso sem contar as inúmeras disputas que os dois tiveram na pista ao longo do ano, começando de maneira mais respeitosa e depois partindo para encontros mais agressivos a partir da metade da temporada.

Não que as disputas tenham se resumido aos dois: foram seis vencedores diferentes (o que não acontecia, também, desde 2012) de quatro equipes, e 13 pilotos (mais da metade do grid) subiram ao pódio.

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A única dobradinha do ano acabou sendo da McLaren, em Monza
Imagem: Lars Baron/Getty Images

Foi um campeonato longo (22 provas, o mais extenso da história), mas que passou voando. Ou pelo menos para quem acompanhou tudo pela TV. Se, por um lado, a F1 mais uma vez mostrou sua resiliência ao sediar eventos em 20 países diferentes (Áustria e Itália tiveram duas provas cada) em plena pandemia, tendo de refazer seus planos no meio do caminho algumas vezes, o efeito disso também foi sentido entre os profissionais que trabalham na categoria.

E é aí que começa a aparecer o que a F1 tem de pior. O teto orçamentário, adotado neste ano, significa que os funcionários das equipes estão trabalhando mais, e por vezes ficando um mês fora de casa em sequências de três GPs em finais de semana consecutivos, sem grandes expectativas de ganharem mais. Com seus salários fora das contas do teto, pilotos e chefes das equipes continuam somando seus milhões e viajando com seus jatinhos enquanto a F1 em si (e, por conseguinte, as equipes, que recebem uma fatia do faturamento) fatura mais inchando o calendário a qualquer custo.

E foi um campeonato também cheio de ameaças de protesto e brigas por poder, até porque a adoção do teto também significou que o desenvolvimento dos carros na pista não foi tão acelerado e, principalmente no final, Red Bull e Mercedes estavam usando todas as armas possíveis para tentar minar o rendimento uma da outra. Por causa disso, tivemos alguns momentos bizarros, como horas para decidir por uma desclassificação por 0,2 mm e uma multa porque um piloto colocou a mão na asa traseira do adversário. Isso sem contar na corrida que durou apenas quatro voltas atrás de um Safety Car ou na já bem documentada volta decisiva do campeonato.

Pensando bem, a temporada 2021 não poderia ter acabado de outro jeito: disputada e controversa em iguais medidas.

E o que nos aguarda em 2022?

f1 2022 - Divulgação/Fórmula 1 - Divulgação/Fórmula 1
Pilotos da temporada 2021 da Fórmula 1 posam ao lado do carro que será usado em 2022
Imagem: Divulgação/Fórmula 1

É difícil apostar quantos destes elementos estarão presentes no próximo campeonato, que começa em março. O calendário, isso é certo, continuará inchado, agora com 23 corridas (ainda podendo ter interferência da pandemia em provas nas quais é preciso muita antecedência para bater o martelo, como Austrália, Canadá e Singapura, por exemplo). Os mecânicos e engenheiros seguirão exaustos e sob pressão, o que aumenta a chance de erros. Os pilotos e chefes continuarão milionários indo de jatinho de lá para cá. E o caixa vai continuar engordando, recuperando-se do baque de 2020.

Mas e dentro da pista? Com um regulamento aerodinâmico totalmente novo, as apostas terão de esperar até os primeiros testes. No passado, aconteceu um pouco de tudo em experiências como esta: teve equipe que veio do nada e levou campeonato, time do meio do pelotão que passou a ganhar corrida, e teve também poderoso que ficou ainda maior. E, na questão política, será interessante ver qual a pressão do teto orçamentário sobre a capacidade de uma equipe que começar mal reagir (até porque o outro caminho é partir para a espionagem e descobrir se alguém tem algo irregular) e quais serão as feridas que não vão acabar com o ano de 2021.