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Decepção por perda de mundial de Hamilton escondeu feito da Mercedes na F1

Toto Wolff é chefe da equipe Mercedes desde 2013 e venceu oito títulos mundiais à frente do time - Steve Etherington/Mercedes
Toto Wolff é chefe da equipe Mercedes desde 2013 e venceu oito títulos mundiais à frente do time Imagem: Steve Etherington/Mercedes

Colunista do UOL

21/12/2021 11h16

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A decisão do título de pilotos da Fórmula 1 na última volta da última prova de 2021 a favor de Max Verstappen deixou a Mercedes e Lewis Hamilton com um sabor tão amargo na boca que o inglês ainda não se pronunciou após o pódio do GP de Abu Dhabi, e tanto ele quanto o chefe da equipe, Toto Wolff, não compareceram à cerimônia oficial para receber seus respectivos troféus. E, com isso, deixaram de celebrar um feito inédito e impressionante do time: o oitavo mundial de construtores seguido.

É uma frustração compreensível depois que Hamilton dominou a última prova até seis voltas para o final, quando um acidente provocou a intervenção de um Safety Car que mudou a história da corrida. Apostando que não seria possível reiniciar o GP ou que, pelo menos, não haveria tempo para que os retardatários que estavam entre o líder e Verstappen pudessem recuperar a volta perdida, a Mercedes optou por deixar o inglês na pista mesmo com pneus muito desgastados. Mas a decisão do diretor de prova, Michael Masi, foi deixar apenas os pilotos que estavam entre os rivais passarem e reiniciar a prova logo em seguida, a uma volta do fim. Foi quando Verstappen passou Hamilton e foi campeão.

Teoricamente, o diretor de prova pode decidir quando tirar o Safety Car da pista e como fazê-lo, mas é válido também o argumento de que as decisões de Masi vão contra uma das regras, de acordo com a qual todos os retardatários têm de recuperar a volta e a relargada só pode ser dada uma volta depois que isso ocorre, o que não aconteceu em Abu Dhabi.

A bronca da Mercedes, no entanto, vem de antes da decisão. Wolff contou algumas vezes ao longo do ano a história de que, no meio do campeonato do ano passado, teve uma conversa informal com o chefe de monopostos da FIA, Nikolas Tombazis, em que ele perguntava, em tom de brincadeira, onde poderia mexer no regulamento para prejudicar a Mercedes e evitar que eles fossem tão superiores. Eis que, utilizando um pedido da Pirelli para tornar os carros mais lentos em 2021 e evitar problemas nos pneu, a FIA fez mudanças no regulamento, que focaram justamente na área do carro que prejudicaria mais a Mercedes: na região do assoalho que fica logo atrás dos pneus traseiros. É dali que os carros da Mercedes, que seguem uma filosofia própria, só copiada pela Aston Martin, produziam grande parte da sua pressão aerodinâmica, que é o que permite que os carros fiquem estáveis nas curvas.

O regulamento de 2021 previa um recorte justamente nesta área, e isso tornou o carro da Mercedes muito instável e sem equilíbrio entre dianteira e traseira. Isso, em um ano no qual havia alguns obstáculos para a recuperação: um regulamento totalmente novo para 2022, fazendo com que a maior parte dos recursos já estivessem alocados para o próximo carro; a estreia do teto de gastos e da alocação de desenvolvimento aerodinâmico dependendo da posição no mundial de construtores (ou seja, a líder pode testar menos no túnel de vento) e as fichas de desenvolvimento (que limitam muito o desenvolvimento de peças não aerodinâmicas no carro).

Foi esta combinação que permitiu que todas as equipes (à exceção da Aston Martin, também afetada pelas regras) se aproximassem da Mercedes. E a Red Bull, que terminou 2020 como a segunda melhor, passou a rivalizar com os então heptacampeões.

silverstone - Joe Portlock/Formula 1 via Getty Images - Joe Portlock/Formula 1 via Getty Images
Lewis Hamilton celebra vitória no GP de Silverstone de Fórmula 1 em 2021
Imagem: Joe Portlock/Formula 1 via Getty Images

Eles, então, passaram a trabalhar em duas frentes: o time de engenharia de pista tinha que entender o que poderia ser explorado em termos de acerto para evitar os problemas de superaquecimento dos pneus que vinham da falta de estabilidade da traseira. E, na fábrica, eles tinham uma chance de acertar, com um único grande pacote que faria sua estreia em Silverstone, em julho.

Não foi simples extrair o máximo desse pacote, voltado a mudanças no assoalho, mas pouco a pouco o carro foi melhorando. E, com a ajuda de um motor novo nas últimas etapas, se tornou o conjunto a ser batido nas últimas quatro corridas.

No final, o time perdeu o mundial de pilotos mas, por 28 pontos, conquistou o oitavo título seguido de construtores, algo nunca antes alcançado na história da Fórmula 1. Como tantas outras dinastias, a Mercedes viu regras sendo alteradas para chacoalhar a relação de forças, e mesmo assim triunfou. Essa chacoalhada será ainda maior ano que vem, com um regulamento totalmente novo, mas essa campanha deve dar confiança ao time para permanecer no topo.