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F1: É fácil criticar Norris por jogar vitória fora, mas erro foi da McLaren

Hamilton (preto) passou para a liderança da corrida após Norris (laranja) sair da pista por conta de derrapada - Reprodução/Twitter
Hamilton (preto) passou para a liderança da corrida após Norris (laranja) sair da pista por conta de derrapada Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL

28/09/2021 04h00

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A McLaren esteve muito perto de vencer pela segunda vez seguida na temporada, no último domingo, na Rússia, depois de encerrar um jejum de oito anos sem chegar ao lugar mais alto do pódio duas semanas antes, na Itália. Mas a decisão de Lando Norris de continuar na pista com pneus de pista seca mesmo quando a chuva apertava em Sochi acabou com suas chances, a três voltas do final da prova.

Após a bandeirada, dada a Lewis Hamilton, que conquistou, assim, a centésima vitória da carreira, fica fácil condenar a escolha de Norris. Mas na abertura da volta 50, quando o time perguntou se ele queria colocar os intermediários, e ele respondeu, aos berros, que não, sua visão dentro do carro não era tão clara. E nem a informação da equipe McLaren.

"Em alguns momentos estava complicado, e eu estava saindo da pista em alguns pontos, mas ainda assim o pneu duro era o pneu correto", defendeu Norris. "É claro que eu era 10s mais lento, mas isso era em relação a uma volta normal com slicks. O pneu intermediário [para chuva leve] jamais seria 10s mais rápido. Então mesmo se Lewis conseguisse ser 5s mais rápido ou algo do tipo, eu ainda assim teria conseguido vencer."

As contas de Norris fazem sentido. Enquanto pilotos que estavam mais atrás e, com isso, tinham mais motivos para arriscar, tinham trocado os slick pelos pneus intermediários logo que a chuva começou a cair em alguns pontos do circuito, incluindo, crucialmente, Valtteri Bottas, companheiro de Hamilton e que começou a dar informações sobre os intermediários para a Mercedes, o ritmo dos dois não era muito pior. E um só estava marcando o outro, já que a vantagem de ambos para o terceiro colocado, Sergio Perez, era de 40 segundos com sete voltas para o final. O mais importante é que essa conta levava em consideração a condição que ele via na pista. Ao contrário de outras equipes, a McLaren não entendeu e, portanto, não disse a ele que a chuva pioraria. No domingo em Sochi, o time reconheceu que há "muito a aprender" com o ocorrido.

Na pista, Norris sabia que Hamilton, que disputa o título, tinha mais a perder do que ele, mas o fundamental desta história é que faltou uma informação ao jovem britânico. "Decidi ficar na pista porque a equipe disse que ia continuar só garoando como estava e a chuva não iria piorar. Por algum motivo, nós não antecipamos ou não vimos que choveria bastante. E esse foi o erro".

Norris afirmou que, se tivesse tido uma instrução mais incisiva da equipe, dizendo que a chuva apertaria, teria outra perspectiva em relação a sua decisão. "A situação mudou completamente de uma volta para a outra".

Hamilton também queria ficar na pista

norris - Dan Istitene - Formula 1/Formula 1 via Getty Images - Dan Istitene - Formula 1/Formula 1 via Getty Images
Hamilton cumprimenta Norris ao final do GP da Rússia: veterano elogia o piloto da McLaren sem parar
Imagem: Dan Istitene - Formula 1/Formula 1 via Getty Images

Hamilton, na verdade, também pensava o mesmo que Norris e inclusive reclamou da equipe quando foi chamado aos boxes, a cinco voltas do fim. Mas ouviu que a chuva apertaria e, mais importante, que Verstappen tinha parado. Isso porque o foco da Mercedes era copiar o que o rival estava fazendo para não correr o risco de perder a posição de pista "mesmo que isso deixasse a porta aberta para Lando vencer", reconheceu o chefe de engenharia da Mercedes, Andrew Shovlin.

O pit stop da Mercedes acabou acontecendo no momento exato: minutos depois, a pista já estava totalmente molhada. Todas as equipes recebem a mesma informação do radar de meteorologia. A diferença, como explicou Shovlin, é como cada equipe interpreta essa informação. E foi com base nesta informação e nos tempos de Bottas que a Mercedes ordenou que Hamilton parasse, mesmo contra sua vontade, porque, como explicou o chefe Toto Wolff, "nossos estrategistas tinham certeza de que choveria mais. Mas eu entendo por que essa decisão foi tão difícil para a McLaren. Quando você é o líder, tem muito a perder".

Wolff sabe bem do que está falando: no GP da Hungria, Hamilton, que era líder, foi o único a não trocar os pneus antes da relargada, quando a pista estava secando. Naquela ocasião, a opção da Mercedes foi justificada pelo temor de que, vendo o líder parar, os demais continuariam na pista. Como Hamilton não fez a troca, todos os demais foram aos boxes e o inglês foi parar em último.

Na Rússia, os dois não foram os únicos a avaliarem que era possível continuar com pneus slick mesmo com a chuva apertando. Alonso, Perez, Vettel, Gasly, Ocon, Giovinazzi e Leclerc também estavam na pista com os compostos de pista seca quando a chuva apertou, ou seja, esta foi a leitura de mais da metade do grid. E a decisão mais difícil a ser tomada era justamente de Norris, líder da prova. A McLaren, em momento algum, informou a ele que a chuva apertaria, e inclusive lhe disse que eles tinham que se comprometer a ficar na pista com os slicks depois que Hamilton parou. Isso, até que Norris escapou da pista e disse "está chovendo de verdade, eu preciso trocar, não vou conseguir!". Neste momento, sua corrida já estava perdida.

Quem comemorou a chuva no final foi Verstappen, que vinha em sétimo lugar depois de largar em 20º, e foi um dos primeiros a parar. Com isso, ele chegou em segundo e perdeu apenas sete pontos para Hamilton. O inglês reassumiu a liderança do campeonato, dois pontos à frente do rival, com sete corridas para o fim do campeonato.