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Times querem que rivais paguem a conta por acidentes. Mas isso faz sentido?

Carro da Mercedes dirigido por Bottas segundo após chocar com Lando Norris e Sergio Perez - Peter Kohalmi / POOL / AFP
Carro da Mercedes dirigido por Bottas segundo após chocar com Lando Norris e Sergio Perez Imagem: Peter Kohalmi / POOL / AFP

Colunista do UOL

05/08/2021 08h45

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Nas últimas duas corridas, a Red Bull teve um carro quase todo destruído por um acidente pelo qual Lewis Hamilton, da Mercedes, foi considerado predominantemente culpado, e depois teve seus dois carros danificados por outra batida, causada por Valtteri Bottas. Do lado da Ferrari, foi Lance Stroll, da Aston Martin, quem causou danos extensos no carro de Charles Leclerc. Ter um prejuízo milionário por incidentes causados por rivais sempre fez parte da Fórmula 1 ou de qualquer outra categoria do automobilismo. O problema é que, a partir deste ano, as equipes têm de respeitar um limite de gastos.

É aí que entra a ira dos chefes das duas equipes, que estão propondo que a Federação Internacional de Automobilismo encontre alguma forma de compensá-los pelo prejuízo. Do lado da Red Bull, a ideia parece ser descontar do teto de gastos o que vier de reparos de acidentes. Já a Ferrari acredita que isso pode ser difícil de ser policiado, e defende que o rival que causou a batida deveria ser o responsável por pagar pelo reparo, quase como se fosse um acidente de rua.

"É muito frustrante e obviamente brutal por conta do teto orçamentário", disse o chefe da Red Bull, Christian Horner. "Isso reafirma que, quando você tem um acidente que não é seu, você está pagando um preço significativo por isso. É algo que não estava no orçamento e é algo que precisa ser olhado em mais detalhes pela FIA."

Chefe da Ferrari, Mattia Binotto concorda em partes com o inglês. "Seria importante discutir isso com os outros chefes de equipe, a FIA e a F1. Obviamente, se você não é culpado, ter um dano tão grande dentro do teto orçamentário tem uma consequência ainda maior agora. Será que podemos ter isenções? Não sei se é a solução. Pode ser muito difícil de se policiar. Mas acho que o que podemos considerar é que, se um piloto tem culpa, sua equipe deveria pagar pelo que foi danificado e que terá de ser reparado. Isso tornaria os pilotos mais responsáveis."

Mas será que isso é viável? Primeiro é preciso entender que nem todas as equipes precisam se preocupar com o teto orçamentário, pois nem chegam a gastá-lo em sua totalidade em uma temporada normal. Durante décadas, o grande drama para estas equipes era não ter a capacidade de repor peças por conta de limitações naturais de seu orçamento. E dentro deste contexto, esse tipo de compensação nunca foi discutido.

O teto orçamentário é de 145 milhões de dólares por ano, excetuando-se os salários dos pilotos, dos três funcionários mais bem pagos e os custos de marketing. E já há outras concessões relacionadas ao número de etapas por ano (1.2 milhão de dólares são adicionados por GP quando o calendário é maior que 21 corridas, como deve ocorrer em 2021), e a abandonos nos sprints (algo do qual a Red Bull se beneficiou em Silverstone, levando 100 mil dólares por Perez não ter completado a corrida que serviu para definir o grid naquela prova). E também existe uma tolerância de 5% neste que é o ano de implementação.

verstappen - Twitter/Fórmula 1 - Twitter/Fórmula 1
O carro de Verstappen após a batida no GP da Inglaterra
Imagem: Twitter/Fórmula 1

Voltando à questão da cobrança dos acidentes, é difícil entender como isso funcionaria de maneira prática, já que muitos acidentes são julgados como predominantemente sendo causados pelo piloto X, e sempre haverá atenuantes (como no caso de Bottas e Stroll, a condição de pista). Então haveria a possibilidade de pagar uma porcentagem dos danos se a culpa fosse dividida?

E, por fim, se já vemos tanta pressão das equipes tentando encontrar justificativas para seus pilotos por punições de tempo nas corridas, imagine a politicagem que não estaria envolvida se eles, além disso, tivessem que pagar a conta pelos acidentes? Isso sem falar na desconfiança de que mais peças que não foram danificadas também entrarem na conta.

Na verdade, chega a surpreender que essa questão dos danos por acidente só entre em pauta agora, mas talvez haja um motivo forte para isso: sua impraticabilidade. É claro que os chefes de Ferrari e, principalmente, Red Bull, ficaram irritados com o desfecho do GP da Hungria (no caso dos ex-líderes do mundial de construtores, das duas últimas corridas), mas a proposta parece ser mais algo falado no calor do momento do que algo que tenha base para seguir adiante.