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Asa traseira da Red Bull x asa dianteira da Mercedes: F1 vive 'guerra fria'

4.jun.2021 - O piloto holandês da Red Bull, Max Verstappen, pilota seu carro durante a primeira sessão de treinos antes do Grande Prêmio de Fórmula 1 do Azerbaijão no Circuito da Cidade de Baku - Ozan Kose/AFP
4.jun.2021 - O piloto holandês da Red Bull, Max Verstappen, pilota seu carro durante a primeira sessão de treinos antes do Grande Prêmio de Fórmula 1 do Azerbaijão no Circuito da Cidade de Baku Imagem: Ozan Kose/AFP

Colunista do UOL

04/06/2021 12h52

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De um lado, as asas traseiras da Red Bull. De outro, as dianteiras da Mercedes. E as duas rivais estão vivendo uma espécie de guerra fria no GP do Azerbaijão. Depois de Toto Wolff ameaçar protestar o resultado da corrida deste final de semana se a Red Bull usasse o mesmo modelo de asa traseira do GP da Espanha, agora é Christian Horner que rebate, deixando implícito que, se o rival seguir adiante, a Red Bull já sabe como rebater. Questionando a asa dianteira dos carros de Lewis Hamilton e Valtteri Bottas.

Peguntado o que faria se fosse Wolff, Horner disse com todas as letras: "Se eu tivesse aquela asa dianteira no meu carro, eu manteria minha boca fechada."

É uma briga antiga. Ainda no ano passado, a Mercedes começou a questionar a flexibilidade exagerada da asa traseira da Red Bull que, quando o carro está em alta velocidade, faz um movimento de deslizamento para trás ao mesmo tempo em que fica um pouco mais paralela ao solo. Isso faz com que seja possível ter um carro com bastante carga aerodinâmica nas curvas, mas com menos arrasto nas retas. Encontrar esse equilíbrio entre pressão aerodinâmica e a resistência ao ar é o grande drama dos engenheiros para conseguir um carro rápido, então há anos se experimenta com a flexibilidade das asas.

No regulamento técnico, isso é coberto pelo artigo 3.8 do Regulamento Técnico, sobre influência aerodinâmica, segundo o qual qualquer parte da carenagem, a não ser o DRS, "precisa estar assegurado de forma rígida à parte inteiramente suspensa do carro (e assegurado de forma rígida significa não ter nenhum nível de liberdade)". Ou seja, em teoria, nenhuma peça da carenagem do carro deveria ser flexível. No entanto, com as forças que atuam em um carro de F1, a rigidez total é impossível, então o limite acaba sendo estabelecido pelos testes feitos pela FIA, nos quais uma determinada carga é colocada em alguns pontos da asa para checar se ela se movimenta.

A Mercedes acabou conseguindo que a FIA endurecesse esses testes, mas isso só será feito a partir da próxima etapa, o GP da França. Como a asa flexível faz muita diferença na pista do Azerbaijão, que tem uma zona de aceleração plena de mais de 2km, o time alemão estava insatisfeito com o prazo dado.

Não é uma mudança que afeta somente a Red Bull. Alpine, Ferrari e Alfa Romeo tiveram que rever seus projetos, mas pelo menos a Alfa agora acredita que seu equipamento vai passar pelos testes mais rígidos. Mas é claro que o foco da Mercedes é a rival Red Bull, que lidera o campeonato e ficou com os dois pilotos nas duas primeiras colocações nos primeiros treinos livres, disputados nesta sexta-feira em Baku.

Todos os olhos estavam voltados à asa traseira do carro do mais rápido do dia, Sergio Perez, e de seu companheiro e líder do campeonato, Max Verstappen, mas a flexão vista não foi tão evidente quanto no GP da Espanha, quando Lewis Hamilton começou a chamar a atenção para a peça. Isso indica que a Red Bull já adaptou sua peça para o novo teste.

Mas essa parece ser só parte da tática da Red Bull para evitar perder os pontos do GP do Azerbaijão caso a Mercedes proteste o resultado. Da mesma forma que a Mercedes está de olho na asa traseira da Red Bull, a Red Bull está de olho na asa dianteira da Mercedes que, nos treinos livres, estava flexionando bem mais do que a da rival.

"Eu ficaria mais interessado em dar uma olhada na parte da frente dos carros do que na parte traseira. Se você foi abrir um vespeiro, e é isso que esses testes fizeram, há testes muito precisos e os carros são projetados para passar esses testes", disse Horner, depois de ver as imagens da asa dianteira da Mercedes e dizer que era estava se comportando "pior que a nossa", em termos de flexibilidade, brincando que o logo do patrocinador até desaparece nas freadas de tanto que a peça se movimenta.

A McLaren é outra equipe que estuda um protesto, já que a Ferrari e a Alpine, suas rivais, usam asas com mais flexibilidade. Em entrevista dada antes dos treinos livres, o chefe do time inglês, Andreas Seidl, disse que "se virmos as asas se movimentando como em corridas anteriores, vamos tomar uma atitude."

De qualquer maneira, na pista, os dois pilotos da Mercedes sofreram com a falta de aderência, mesmo problema que tiveram em Mônaco. Lewis Hamilton fechou o dia em 11º e Valtteri Bottas foi apenas o 16º. "Não tive um dia ruim no carro, simplesmente o tempo não vinha", disse Hamilton.

Os equipes ainda têm mais um treino livre de uma hora, a partir das 6h da manhã, pelo horário de Brasília, antes da definição do grid de largada, que começa às 9h, mesmo horário da largada, no domingo.