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FIA aposta em vistoria aleatória após GPs para coibir irregularidades na F1

Carro de Valtteri Bottas, da Mercedes, foi o primeiro a ser sorteado para a nova vistoria - ANDREJ ISAKOVIC / AFP
Carro de Valtteri Bottas, da Mercedes, foi o primeiro a ser sorteado para a nova vistoria Imagem: ANDREJ ISAKOVIC / AFP

Colunista do UOL

06/04/2021 04h00

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Engana-se quem pensa que a Federação Internacional de Automobilismo controla com detalhes a legalidade dos carros da Fórmula 1 ao longo da temporada. Os mecanismos para fazer isso existem, e a FIA consegue limitar, por exemplo, as horas de uso dos túneis de vento, tem poderes para colocar seus funcionários dentro das garagens das equipes ou mesmo pedir todo o projeto para determinado time se quiser. Mas, como os equipamentos são extremamente complexos, não há tempo hábil para checar totalmente os 20 carros do grid. Porém, uma mudança que começou a valer na primeira etapa deste ano, no Bahrein, visa aumentar o poder de vigilância: a FIA vai sortear um carro após cada prova para que seja feita uma vistoria minuciosa.

"Todas as equipes têm muitas suspeitas de seus rivais, de que talvez a equipe X ou Y esteja fazendo algo. E tenho certeza de que, ocasionalmente, talvez algumas coisas tenham passado batido por nós", admitiu o chefe de monopostos da FIA, Nikolas Tombazis. "É uma prática positiva começar a checar os carros mais cuidadosamente."

Até 2018, a FIA vistoriava todos os carros, mas focando apenas em alguns pontos, como dimensões, peso e flexibilidade das asas. Depois, a entidade passou a fazer apenas as pesagens, disponibilizando suas balanças e "réguas" de precisão para as próprias equipes verificarem seus carros nas quintas-feiras anteriores aos GPs. As pesagens, inclusive, são constantes ao longo do final de semana, e é por isso que os pilotos sempre passam por uma balança antes de irem ao pódio, por exemplo, já que o peso mínimo é determinado pela somatória do carro e piloto.

Porém, nenhuma checagem é tão extensa como a que começou a ser feita no Bahrein, etapa na qual o carro sorteado foi o de Valtteri Bottas, da Mercedes. Segundo o documento da FIA que foi enviado às equipes, o carro selecionado após cada GP será "desmontado de maneira profunda para a checagem de conformidade às regras e revisões de software e sistemas", ou seja, será um pente fino muito mais rigoroso do que antes.

Esse processo começará com duas ou três pessoas e acabará com cinco ou seis, depois que os demais terminaram as revisões corriqueiras feitas nos outros carros, o que representa um aumento de investimento, sem o qual a novidade não seria possível. "Por vezes nós queríamos fazer um trabalho melhor, mas não tínhamos recursos. Sim, ainda confiamos em denúncias, esse mecanismo sempre existiu, então tudo o que acontecia antes ainda é possível. Só achamos que isso dá um elemento extra."

Tombazis se refere à prática comum de a FIA investigar um carro depois que um rival aponta alguma suspeita. Foi assim, por exemplo, que a entidade fechou o cerco à unidade de potência da Ferrari no final de 2019, depois que Mercedes e Honda, por meio da Red Bull, cobraram uma inspeção mais minuciosa. E também há o caminho oficial, do protesto, como a Renault fez com a Racing Point ano passado.

Essas denúncias seguem sendo importantes porque nem essa nova revisão é completa. "Um carro tem 15 mil peças e não dá para checar 15 mil peças. Mas podemos selecionar 50 peças aleatórias para nos certificarmos de que eles estão andando na linha", acredita o ex-projetista de Ferrari e aerodinamicista com passagens também pela McLaren e Benetton.

A próxima etapa da Fórmula 1 será em Imola, na Itália, dia 18 de abril. Lewis Hamilton venceu a etapa de abertura, disputada dia 28 de março, no Bahrein.