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F1: Briga forte no meio do pelotão faz equipes diminuírem folga dos grandes

Yuki Tsunoda, da Alpha Tauri, durante teste da pré-temporada da Fórmula 1 -  Clive Mason/Getty Images
Yuki Tsunoda, da Alpha Tauri, durante teste da pré-temporada da Fórmula 1 Imagem: Clive Mason/Getty Images

Colunista do UOL

17/03/2021 04h00

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Os últimos campeonatos da Fórmula 1 foram marcados tanto pelo domínio da Mercedes, quanto por uma disputa muito forte no meio do pelotão. Ano passado, McLaren, Racing Point, Renault e Ferrari andaram muito próximas entre si, e isso obrigou estes times a continuarem atualizando seus carros até o final. E essa tendência está se repetindo nesta temporada de 2021: os times que mais inovaram são justamente os que estão envolvidos nesta batalha. Tanto, que o chefe da ex-Renault e agora Alpine, Marcin Budkowski, já avisou: "Agora não há mais ?meio do pelotão?, é um só".

Alguns fatores colaboram para isso: com exceção da Ferrari, estes times do ?ex-meio do pelotão? trabalham bem mais próximos do teto orçamentário de 145 milhões de dólares do que Mercedes e Red Bull, então estão sofrendo menos para se adaptar. Além disso, Aston Martin (ex-Racing Point), Alpine e McLaren têm investido muito em infraestrutura, algo que fica fora do teto orçamentário, e o time dos carros laranja contratou muito bem na parte técnica nos últimos anos. Some-se a isso o fato de um acabar forçando o outro a melhorar, já que são times que estão em um nível muito parecido, e dá para entender por que a tendência é que eles estejam mais próximos das vitórias neste ano.

E há também uma questão técnica envolvida: o regulamento deste ano prevê mudanças que visam uma perda de 10% da pressão aerodinâmica total gerada pelos carros, a fim de torná-los mais lentos, e isso costuma punir mais os times que têm carros mais rápidos — e, com isso, geram mais pressão aerodinâmica.

A temporada 2020, na verdade, já foi um prenúncio do que pode acontecer, com 13 pilotos diferentes subindo ao pódio, algo que não acontecia desde 2012. Neste ano, a julgar pelas novidades trazidas por estes times, mesmo em um ano com regulamento relativamente estável, é de se imaginar que essa tendência se acentue.

Novidades nos carros do "ex-meio do pelotão" chamaram a atenção

A McLaren foi quem mais chamou a atenção, com uma interpretação diferente das novas regras. Eles continuam usando placas mais longas no fim do difusor, embora elas tenham sido limitadas em 5cm. Isso porque elas vêm do assoalho e não mais do próprio difusor. O diretor-técnico do time inglês, James Key, se disse surpreso por outras equipes não terem seguido o mesmo caminho, diminuindo a perda de pressão aerodinâmica. Além disso, a McLaren agora tem motor Mercedes, bem mais forte que o Renault que o time usava até o ano passado.

Já a Aston Martin agora tem a basicamente toda a parte mecânica de sua traseira igual à da Mercedes do ano passado, o que é sinônimo de um carro estável. Eles são os únicos do grid que possuem um chassi novo para este ano, com entradas de ar e sidepod (as laterais do carro, onde ficam os radiadores) bastante modificados, algo que só puderam fazer porque se aproveitaram de uma brecha no regulamento, por serem clientes.

comparação - Reprodução/F1TV - Reprodução/F1TV
Comparação entre o carro da Racing Point (esq) e da Aston Martin (dir)
Imagem: Reprodução/F1TV

Outra que deve dar um salto é a Ferrari, que finalmente pôde mexer em seu motor, grande ponto fraco de 2020. Eles já recuperaram pelo menos 30 cavalos de potência de acordo com as primeiras estimativas, e também atualizaram sua suspensão traseira, que vinha gerando muita instabilidade e alto gasto de pneus. Nos testes, eles pareciam tranquilos, e o chefe Mattia Binotto disse que todos os dados da fábrica foram confirmados na pista.

Provavelmente a grande surpresa da pré-temporada, a AlphaTauri aparenta ter dado um salto considerável em relação a 2020, quando não estava sempre neste grupo do meio do pelotão. O time agora está usando a suspensão dianteira da Red Bull e apareceu até à frente de Ferrari e Alpine nas simulações de corrida.

Por fim, a Alpine de Budkowski surgiu com uma novidade bem visível durante o teste, com um carro mais "gordo" na parte em que fica o motor, e mais compacto na lateral. "Foi uma decisão técnica. Vimos que diminuir as laterais funciona, o que não é um conceito novo. E tivemos que realocar coisas atrás da tomada de ar em cima da cabeça do piloto. Há um comprometimento do centro de gravidade, mas o que se ganha em aerodinâmica compensa para nós", explicou o diretor executivo da ex-Renault.

Agora que a pré-temporada já acabou, o jeito é esperar pela primeira corrida, no Bahrein, dia 28 de março, para comprovar se as novidades trazidas por estes times serão suficientes para que eles se aproximem de Mercedes e Red Bull.