Topo

Pole Position

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Por que as equipes da Fórmula 1 não inovam nos carros novos e nas pinturas?

Colunista do UOL

24/02/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Já é tradição nesta época de lançamento de carros da Fórmula 1 ver nas mídias sociais uma chuva de críticas ou comentários lamentando porque a equipe A não mudou o desenho de seu carro ou o time B repetiu a pintura. De fato, em 2021, há vários motivos para as equipes não buscarem inovações nos carros. E a reclamação sobre a falta de novidade em termos de pintura muito provavelmente tem data para acabar.

Carros de lançamento x carros na pista

O desenvolvimento de novas peças na F1 é contínuo, e quando um carro é lançado, é comum que a equipe já tenha um pacote de mudanças praticamente pronto para estrear na primeira corrida do ano. Então há peças usadas na especificação de lançamento que acabam nem indo para a pista para um GP.

Além disso, as equipes muitas vezes não usam fotos para divulgação dos carros, e sim imagens computadorizadas simplificadas, que ocultam detalhes. E também há truques, como não pintar as superfícies aerodinâmicas mais detalhadas dos carros, deixando-os em fibra de carbono preta. Toda a parte debaixo dos bicos, que é muito particularizada, assoalho e difusor são sempre pretos. São partes fundamentais para o bom funcionamento do carro, mas que dão a impressão de serem todos muito parecidos pelas imagens que são divulgadas.

Neste ano, como os países em que as 10 equipes estão sediadas - 7 na Inglaterra, 2 na itália e 1 na Suíça - estão com restrições por conta da pandemia, está ainda mais fácil esconder o jogo, já que mesmo quando os carros vão para a pista para testes privados só pessoas da própria equipe estão presentes.

Poucas mudanças permitidas

mclaren - Divulgação - Divulgação
Regulamento de 2021 obriga equipes a diminuir área do assoalho perto do pneu traseiro
Imagem: Divulgação

Mudanças aerodinâmicas estão liberadas, mas como os carros mostrados no lançamento geralmente não contam com o pacote que vai para a pista, as mudanças que podem ser vistas são mais mecânicas e estruturais - como o bico mais fino apresentado pela Alfa Romeo, por exemplo. O problema em 2021 é que estas mudanças estão limitadas pelas fichas de desenvolvimento, mecanismo criado durante a pandemia para frear os gastos. A McLaren, por exemplo, usou suas fichas para acomodar o novo motor Mercedes. Já a Ferrari vai mexer na suspensão. Então nem todas as alterações (que já são bem limitadas) são facilmente notáveis.

Mas, na verdade, todos os carros terão mudanças: na asa traseira e principalmente no assoalho (perto dos pneus traseiros). Isso porque as definições de dimensões mudam para este ano para tentar tirar pressão aerodinâmica (e, com isso, velocidade) dos carros.

Último ano de um regulamento 'velho'

Mesmo sem as fichas de desenvolvimento, não haveria a expectativa de grandes mudanças porque este é o último ano do conjunto de regras atual, adotado em 2017 (com as asas sendo modificadas em 2019). As equipes já estão perto do limite na exploração de novas soluções e sabe-se que pouco pode ser utilizado no carro do ano que vem, que é conceitualmente bastante diferente. Então não há muito a ganhar com algo que só vai funcionar por um ano.

O que se vê, na verdade, é o segundo ano de uma convergência para adotar a frente do carro mais parecida com a Mercedes.

Regras são mais rígidas

E é claro que, comparando-se com as regras de 30 ou mais anos atrás, o regulamento é muito mais específico. Essas tais mudanças na parte traseira e no assoalho para tirar pressão aerodinâmica são cortes de 5 e 10cm, respectivamente, então acabam não saltando aos olhos. E com o conhecimento muito maior dos fluxos de ar do que no passado, é inevitável que os engenheiros acabem chegando a resultados parecidos.

Pinturas não serão todas iguais

alphatauri - AlphaTauri/Divulgação - AlphaTauri/Divulgação
A AlphaTauri tem mais azul escuro que no ano passado, mas os carros mais diferentes ainda não foram lançados
Imagem: AlphaTauri/Divulgação

As pinturas dos carros são reflexo das marcas que controlam ou patrocinam as equipes, e não faz sentido mudar a identidade visual da marca repetidamente. Então, geralmente as mudanças nas pinturas vêm acompanhadas de novos donos, patrocinadores ou de uma nova identidade de marca. Isso não aconteceu com nenhuma das quatro equipes que lançaram seus carros até agora - McLaren, AlphaTauri, Alfa Romeo e Red Bull - ainda que tenha havido algumas mudanças em como as marcas AlphaTauri e Alfa Romeo estão destacadas em seus carros (o primeiro ficou menos branco e mais azul escuro, e o segundo ficou menos vermelho e mais branco).

Entre as equipes que ainda não lançaram seus carros, a Mercedes confirmou que vai manter a pintura preta que estreou ano passado, simbolizando a luta antirracismo, mas a Aston Martin (ex-Racing Point) e a Alpine (ex-Renault) vão vir completamente diferentes. A BWT, patrocinadora que fazia com que a Racing Point fosse predominantemente rosa, saiu do time, que vai adotar a identidade visual da montadora Aston Martin no lançamento marcado para dia 3 de março. E a Renault, que mostrará seu carro um dia antes, continua controlando a Alpine, mas o time será usado para dar visibilidade à divisão de esportivos da marca.

E há ainda dúvidas em relação ao visual de dois carros, também por troca de patrocinadores: a Haas agora contará com investimento considerável de empresas ligadas ao pai de Nikita Mazepin (Uralkali/Uralchem) e a Williams estava buscando novos parceiros, lembrando que a BWT está no mercado procurando clientes depois de perder espaço na Aston Martin. O carro da Haas não tem data para ser lançado, e o da Williams será mostrado dia 5 de março.

Os testes de pré-temporada da Fórmula 1 começam dia 12 de março, no Bahrein, que também será palco da primeira etapa do campeonato, dia 28 de março.