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Decisões polêmicas de diretor de prova irritam pilotos: "Tolerância zero"

Condições de pista eram complicadas na classificação do GP da Turquia - XPB/F1 Pool
Condições de pista eram complicadas na classificação do GP da Turquia Imagem: XPB/F1 Pool

Colunista do UOL

18/11/2020 04h00

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Os pilotos já demonstram estar perdendo a paciência com as decisões do diretor de provas da Fórmula 1, Michael Masi, e Sebastian Vettel falou que deve haver "tolerância zero" para situações que coloquem em risco a segurança dos pilotos e dos fiscais de pista. A declaração de um dos presidentes da associação dos pilotos, a GPDA, veio depois de duas intervenções questionáveis de Masi em dois finais de semana seguidos.

"Acho que todos somos humanos e erros acontecem. Mas um erro como esse deve ser tratado com tolerância zero". O alemão se referia a um lance que aconteceu no início da segunda parte da classificação do GP da Turquia, que vinha sendo muito complicada devido à baixa aderência do asfalto e à chuva. Masi decidiu liberar a pista para os carros enquanto ainda havia um trator na área de escape fazendo a recuperação do carro de Nicholas Latifi, que tinha rodado.

Masi explicou que tinha sido avisado de que o trator sairia da pista a tempo, mas depois ele sofreu um atraso, e o australiano julgou que, ainda assim, colocando uma bandeira amarela dupla, a situação estaria contornada.

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Carro de Latifi é retirado durante a classificação do GP da Turquia
Imagem: F1TV/Reprodução

"Ele estava bem perto da barreira, saindo da pista, e nos asseguraram que a pista estaria livre. Diante de tudo, eu estava mais do que confortável com o que os fiscais me asseguraram", disse Masi, que salientou ainda que os pilotos não estavam em alta velocidade, pois tinham acabado de ser liberados dos boxes. "Agora olhando em retrospecto, você poderia fazer algo diferente, mas baseado em toda a informação que eu tinha naquele momento, essa foi a nossa decisão".

O ocorrido foi menos de um dia depois de os pilotos terem discutido outro lance de perigo durante o GP de Emilia Romagna, duas semanas antes: Masi liberou os seis pilotos que tinham de descontar uma volta em relação ao líder para voltar às suas posições enquanto fiscais de pista ainda estavam limpando a pista e as câmeras onboard captaram imagens assustadoras de carros em alta velocidade com os fiscais não muito longe.

Um dos pilotos que estava recuperando uma volta era justamente Vettel, que disse via rádio que aquilo era "muito, muito perigoso", e pediu que quem viesse atrás fosse avisado. Duas semanas depois, ele reforçou sua preocupação. "No passado tivemos pilotos tentando alcançar o pelotão, e em outras categorias também, batendo e isso não é algo seguro de acontecer quando a corrida está neutralizada. Além disso, como testemunhamos em Imola, há pessoas trabalhando na pista e fazendo um favor para nós, limpando a pista, removendo um carro. Acho que temos de focar em uma solução", disse Vettel, lembrando que os pilotos só têm de dar essa volta para que o software possa contabilizar em que giro eles estão. "Estamos em 2020 e deve haver uma solução tecnológica para isso."

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Fiscais trabalham perto da pista durante período de SC em Imola na frente de Stroll
Imagem: F1TV/Reprodução

Por um lado, Masi precisa cumprir a regra de só reiniciar uma corrida neutralizada com o Safety Car depois que os carros descontem uma volta, algo adotado para evitar que carros que lutam por posição fiquem separados por retardatários. Por outro, há a pressão dos líderes (como Lewis Hamilton e Max Verstappen no GP de Eifel, reclamando veementemente da demora para liberar a corrida porque seus pneus estavam muito frios).

Esse é um dos motivos da pressa do australiano: especialmente depois da nona etapa, em Mugello, a F1 passou por corridas em que a temperatura ambiente não ultrapassava os 20ºC - em Eifel, não chegava nos 10ºC - e torna-se difícil para os pilotos andarem especialmente com pneus usados em ritmo lento atrás do SC sob essas condições. E o trabalho de retirada dos carros tem sido mais lento que o normal, embora Masi venha negando desde o início da temporada que a F1 esteja trabalhando com um número reduzido de fiscais devido à pandemia.

Na classificação da Turquia, especificamente, o pôr do sol seria 2h45 depois do início da sessão, e a primeira parte do classificatório durou quase uma hora devido a interrupções. Alex Albon, da Red Bull, inclusive citou isso logo após o incidente. "Dá para entender que estavam com pressa por causa do pôr do sol, mas podiam esperar cinco minutos. Apressar é bobagem."

São fatores que explicam a pressão, mas não justificam ignorar protocolos de segurança. A questão especialmente do trator 'coberto' por uma bandeira amarela dupla e com uma condição de pista difícil é particularmente sensível para os pilotos porque é semelhante à do acidente fatal de Jules Bianchi no GP do Japão de 2014.

"Nem precisa mencionar o que aconteceu no passado com esse tipo de situação", afirmou Charles Leclerc, referindo-se justamente ao acidente de seu padrinho Bianchi. "Acho que todos ficamos chocados em ver aquilo e provavelmente vamos falar juntos sobre isso na próxima reunião para evitar esse tipo de situação."

Ou seja, será mais uma sexta-feira de queixas dos pilotos em relação à direção de prova na próxima etapa, que será realizada no Bahrein dia 29 de novembro. Masi, que assumiu o cargo no começo do ano passado após a morte repentina do experiente e muito querido pelos pilotos Charlie Whiting, às vésperas da etapa de abertura na Austrália, já está se acostumando a elas.