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Pole Position

Calendário inchado já é problema para as equipes após apenas três provas

Equipe da Red Bull arruma carro de Max Verstappen após batida minutos antes do GP da Hungria - Mark Thompson/Getty Images
Equipe da Red Bull arruma carro de Max Verstappen após batida minutos antes do GP da Hungria Imagem: Mark Thompson/Getty Images

Colunista do UOL

24/07/2020 04h00

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Aconteceram duas cenas marcantes e significativas no GP da Hungria no domingo: o grupo de mecânicos da Red Bull debruçados sobre a parte dianteira do carro de Max Verstappen, fazendo, em 20 minutos e em pleno grid, um reparo na suspensão que normalmente levaria 90 minutos. E, horas após a bandeirada, o piloto da McLaren Lando Norris ajudava seus mecânicos a desmontar o carro para enviá-lo de volta para a fábrica.

Unindo estas duas cenas estão as reclamações de vários membros de equipe sobre a estafa causada pelas três corridas em finais de semana seguidos, ainda mais respeitando um protocolo anti coronavírus tão rígido como o adotado pela F1: de um lado, os mecânicos provam como é importante para as equipes contar com profissionais experientes e especializados, e o quão valiosos eles são. De outro, a compreensão de Norris, que podia ter voltado para casa com seu jato particular o mais rápido possível, como a maioria de seus colegas de grid fez, de que os membros de sua equipe também gostariam de terminar o quanto antes o trabalho para ir embora.

E esta é uma questão só vai se aprofundar ao longo da temporada. Há mais duas sequências de três corridas em finais de semana seguidos a caminho. E, no final do ano, duas etapas no Bahrein e uma em Abu Dhabi, também uma rodada tripla, deve encerrar o campeonato. Lembrando que isso só tinha acontecido uma vez na história, em 2018, por conta da Copa do Mundo, e que na época os chefes de equipe da F1 pediram à categoria para não se repetisse, temendo o esgotamento dos profissionais. Mas os planos tiveram que mudar por questões comerciais nesta temporada afetada pelo coronavírus.

Quanto um mecânico de F1 trabalha?

Para os pilotos, isso significa um dia de entrevistas na quinta-feira, e de atividades de pista na sexta, sábado e domingo, seguidas por três folgas. Mas para os mecânicos, cujo trabalho pode começar até na terça-feira, significa uma carga muito maior. Só para montar o carro, leva dois dias, como explicou Matt Scott, chefe dos mecânicos da Haas, à coluna Pole Position. "E quando eu digo dois dias me refiro a 12h por dia, com seis mecânicos trabalhando em cada carro."

Tudo isso acontece antes dos carros irem para a pista, o que só ocorre na sexta-feira, outro dia de 12h de trabalho para os mecânicos e que pode ser ainda mais complicado para os profissionais em um começo de temporada. "Os carros podem não parecer muito diferentes de um ano para o outro por fora, mas do ponto de vista mecânico eles são sempre um pouco mais complicados em relação ao anterior. Sempre vai ficando mais difícil, mais apertado, de trabalhar neles", explica Scott. Então significa que essa mão de obra foi ficando, a cada temporada, mais especializada também.

Chega o final de semana de corrida e, devido ao toque de recolher estabelecido pelas regras, os mecânicos não podem trabalhar por nove horas entre a noite de sexta-feira até três horas antes da última sessão de treinos livres, no sábado. E apenas após a classificação é que a carga de trabalho diminui, pois poucas mudanças podem ser feitas com o carro em regime de parque fechado, o que dura até a corrida.

Dentro de todo esse processo, eles não podem errar. E isso continua na corrida, já que são os mecânicos que fazem as paradas de box, focando sempre em trocar quatro pneus em menos de 2s. E, no caso de uma batida como a de Verstappen no domingo, ainda é esperado deles um esforço extra na última de três corridas seguidas dentro dessa maratona.

O fato desta mão de obra ser muito especializada e obviamente o custo, já que não são profissionais baratos, faz com que as equipes já evitem normalmente fazer rotações em seus times, para que o rendimento não caia. E, em tempos de coronavírus, isso nem é possível, já que um mesmo grupo tem de se manter dentro das mini-bolhas adotadas pela F1.

Com grandes chances de que o campeonato de 2020 tenha cinco rodadas triplas, essa já é uma questão que preocupa. "O estranho é não poder voltar para casa entre as corridas. No momento, pelo menos pelo que eu sei, não é um problema, mas eu posso ver isso se tornar extenuante nas próximas sequências que teremos", admitiu o líder do campeonato, Lewis Hamilton.

E Norris completou. "Eu me sinto muito bem e cheio de energia. Mas será bom dar uma parada [após o GP da Hungria]. É mais difícil para os mecânicos e engenheiros do que para os pilotos, porque eles ficam na pista por muito mais tempo. Eles têm de começar a trabalhar super cedo para deixar tudo pronto e depois no domingo têm de desmontar tudo e aprontar o carro para a corrida seguinte."

A Fórmula 1 volta para outras três corrida sem três finais de semanas seguidos a partir do GP da Grã-Bretanha, dia 2 de agosto.