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Bottas desafia normas anti-covid da F1, que ficará enclausurada na Hungria

Valtteri Bottas, da Mercedes, cruza a linha de chegada do GP da Estíria - Joe Klamar / various sources / AFP
Valtteri Bottas, da Mercedes, cruza a linha de chegada do GP da Estíria Imagem: Joe Klamar / various sources / AFP

Colunista do UOL

14/07/2020 04h00

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Nem mesmo toda a reação negativa ao fato de ter decidido voltar para casa, em Mônaco, entre os dois primeiros GPs do ano fez o líder do campeonato, Valtteri Bottas, mudar de ideia. Ele não vê problemas em viajar e acredita que segue tomando os mesmos cuidados que tem na pista, como revelou logo após ser segundo colocado no GP da Estíria.

"Não acredito que haja motivos para esconder: vou voltar para casa novamente, assim como fiz depois da primeira corrida. Obviamente, vou ficar com as pessoas com quem acredito que deveria ficar, que são as mesmas que estavam na Áustria comigo, ou seja, minha namorada e meu treinador. Este é o plano. Acho que é bom para mim conseguir me desligar por um ou dois dias, fazendo os encontros virtuais com os engenheiros, algo que está tão popular hoje em dia."

Primeiro grande evento esportivo realizado durante a pandemia, a Fórmula 1 vem adotando um protocolo bastante rígido para afastar a possibilidade de que o coronavírus se espalhe entre os cerca de 2000 profissionais que estão viajando para as corridas. Isso inclui testes a cada cinco dias e restrições ao contato entre membros de equipes diferentes a não ser que a distância de 2m seja mantida, uso de obrigatório de máscaras o tempo todo, entre outras medidas.

E viagens como a de Bottas e também Charles Leclerc na semana passada em teoria não seriam permitidas, como explicou o chefe da Alfa Romeo, Frederic Vasseur. "A regra é clara: é permitido voltar para a fábrica por questões sérias. Não quero comentar sobre a história do Charles ou do Valtteri, mas é claro que você tem de ser testado novamente no retorno à pista."

Não existe uma punição definida nestas normas além da possibilidade de cancelamento do passe que dá acesso ao paddock. O fato de Bottas ter dedicido ir para casa novamente aponta que a F1 decidiu não tomar nenhuma medida drástica.

Bottas não é o único que demonstra acreditar que os protocolos da Fórmula 1 são excessivos, uma vez que seu chefe, Toto Wolff, apontou que é até estranho a F1 ter tanto cuidado mesmo tendo feito suas duas primeiras etapas em uma região da Áustria que não tem casos ativos de coronavírus no momento. E o companheiro de Bottas, Lewis Hamilton, disse que o uso de robôs para transportar os troféus na cerimônia era "muito OCD", referindo-se ao transtorno obsessivo-compulsivo, "porque todo mundo passa pelos testes e usa máscara o tempo todo".

De fato, como o chefe da Haas, Guenther Steiner, apontou, o paddock da F1 "parece ser o lugar mais seguro do mundo", mas existem bons motivos para isso: a categoria vem tentando fechar mais provas em seu calendário, algo importantíssimo para o retorno financeiro do esporte, e precisa demonstrar para as autoridades que estão dispostas a pagar para receber corridas, como China e Vietnã, que está mantendo um ambiente totalmente seguro. E até mesmo as negociações com os governos europeus, que vão receber pelo menos as 10 primeiras etapas, também são baseadas no respeito a estas normas rígidas de segurança sanitária. Sendo assim, ainda que Bottas, viajando com jatinho particular e mantendo-se com as mesmas pessoas com as quais convive no paddock, não corra grandes riscos de contágio, isso não é bom para a imagem da F1 no contexto destas negociações.

Cerco apertado na Hungria

A próxima etapa da Fórmula 1 será já neste final de semana, na Hungria, onde o governo impôs, de surpresa, restrições ainda maiores para os portadores de passaportes de fora da União Europeia. Apenas na sexta-feira à noite a categoria foi informada sobre tais restrições, que atingem a maioria do paddock, que é de cidadãos britânicos.

As restrições começam já na entrada no país: quem não tiver passaporte da União Europeia só pode passar na fronteira depois que sair o resultado do último teste de covid, que a maioria no paddock fez no domingo.

Já na Hungria, eles só poderão ir do hotel para a pista, e pelo menos as equipes terão escolta policial para assegurar que o corredor sanitário seja respeitado. Quem infringir as regras pode ser multado em 15 mil euros (mais de 90 mil reais) ou até ser preso.

Para alguns pilotos, como Lewis Hamilton e Sergio Perez, atingidos pelas medidas, isso não fará muita diferença, já que eles ficaram em seus próprios motorhomes na Áustria, dentro da pista. "Eu tenho a possibilidade de ficar na pista, mas é uma sorte que o pessoal do time não tem. Acho que tem sido fantástico como a equipe tem conseguido permanecer dentro de sua própria bolha até aqui", disse o britânico.

Outro britânico, Lando Norris, disse não se importar tanto em ficar preso em um quarto de hotel. "Contando que eu tenha serviço de quarto todo dia, possa assistir Netflix e jogar Call of Duty, estou feliz. Claro que há limitações, como não acho que poderei ir correr ou pedalar."