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Dança das cadeiras da F1: Por que a Ferrari escolheu Carlos Sainz?

Carlos Sainz ainda fará a temporada 2020 por sua atual equipe, a McLaren - William West/AFP
Carlos Sainz ainda fará a temporada 2020 por sua atual equipe, a McLaren Imagem: William West/AFP

Colunista do UOL

14/05/2020 11h45

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O anúncio de que Carlos Sainz Jr. vai substituir Sebastian Vettel na Ferrari a partir de 2021 e ser companheiro de Charles Leclerc na Scuderia era esperado depois que o tetracampeão e a equipe italiana não chegaram a um acordo para a renovação do contrato, mas, ao mesmo tempo, era uma hipótese em que poucos apostavam há alguns meses. Falou-se na tentativa da Ferrari atrair Lewis Hamilton ou contratar Daniel Ricciardo, que estava há anos no radar ferrarista, mas o espanhol de 25 anos acabou ficando com a vaga.

Mas por que a Ferrari escolheu Sainz?

Espanhol vem em plena ascensão

Carlos Sainz foi votado pelos próprios pilotos como o quarto melhor do grid no ano passado, ficando atrás apenas de Hamilton, Verstappen e Leclerc. Foi um ano, realmente, de um grande salto para um piloto que, pela primeira vez, teve a chance de liderar uma equipe, na McLaren. Mesmo não tendo começado muito bem, foi o sexto no campeonato, melhor posição possível para um piloto do meio do pelotão, em campeonato coroado pela atuação no Brasil, quando saiu de último para ser terceiro.

sainz pódio - Steven Tee/McLaren - Steven Tee/McLaren
Sainz foi terceiro no GP Brasil do ano passado depois de largar em último
Imagem: Steven Tee/McLaren

Piloto cai como luva no time de Leclerc

O contrato mais curto e de menor valor oferecido para Sebastian Vettel deixou claro que a Ferrari vê Charles Leclerc em condições de liderar a equipe a partir do ano que vem. Afinal, ele superou o tetracampeão em seu ano de estreia na Scuderia, em 2019. Dentro deste contexto, o time italiano precisava de um piloto consistente, mas que não chegasse em Maranello visando, pelo menos num primeiro momento, lutar pelo título. Isso aconteceria, por exemplo, com Ricciardo, que tem sete vitórias em 10 anos de carreira.

Experiência x expectativas

Obviamente, Sainz também sonha com o título, mas no momento está alguns passos abaixo de Ricciardo na carreira. Ele tem apenas um pódio, então suas expectativas chegando em Maranello são completamente diferentes. Além disso, mesmo com a pouca idade, é um piloto experiente, que já trabalhou com três equipes - Toro Rosso, Renault e McLaren - e chegará à Ferrari tendo disputado seis campeonatos na F1.

Piloto bom de corrida

Faz tempo que a Ferrari não tem um carro que domina as corridas da ponta e, mesmo que isso venha a ser o caso nos próximos anos, a opção da Scuderia naturalmente recairia sobre Leclerc para ocupar esse papel. Sainz não é um piloto tão forte em classificação, mas raramente não ganha posições durante as corridas. Esse é um ponto forte importante para a Ferrari neste momento, e inclusive para ajudar na formação de Leclerc, cuja deficiência, segundo ele mesmo, é justamente no ritmo de corrida. Ele e seu engenheiro na McLaren inclusive costumam cantar "Smooth Operator" (operador suave), da cantora Sade, clássico dos anos 1980, justamente como referência ao estilo de pilotagem de Sainz.

Bom (também) fora das pistas

Sainz é um piloto que aprendeu com o pai, o campeão de rali Carlos Sainz Sr., que é preciso trabalhar duro também fora das pistas, representando bem os patrocinadores em eventos e cuidando da imagem nas mídias sociais. Na McLaren, ele era considerado um ótimo representante da marca e a Ferrari espera o mesmo. Além disso, politicamente, os Sainz sempre souberam se impor dentro das equipes sem criar um clima interno pesado.

F1 vive renovação

Os fãs mais antigos podem estranhar ver uma equipe como a Ferrari com pilotos que terão 23 e 26 anos em 2021, mas essa é uma tendência do esporte em geral e que também é sentida na F1. Com a profissionalização cada vez maior e mais precoce do kart, os pilotos jovens estão chegando mais bem preparados e precisando de menos tempo para ganharem chances em times grandes, vide o caso do próprio Leclerc, na Ferrari desde que tinha 21, e de Max Verstappen, que chegou à Red Bull aos 18 anos.

Pensando a longo prazo

No comunicado em que a contratação foi confirmada pela Ferrari, o chefe Mattia Binotto citou a necessidade da equipe adequar-se aos novos cenários das regras da F1. Ele se referia a dois pontos que foram alterados por conta do coronavírus: o novo regulamento seria adotado em 2021 e o teto orçamentário ficaria para 2022, com um limite de 175 milhões de dólares. Agora, o cenário é bem distinto: o teto deve ser aprovado em 145 milhões já para 2021 e as novas regras ficaram para 2022. Para uma equipe como a Ferrari, que gasta acima dos 400 milhões, isso significa a necessidade de uma série de mudanças estruturais. Então, apostando em uma dupla jovem, a ideia é que Leclerc e Sainz possam dar estabilidade a médio prazo para o time fazer as mudanças necessárias.

Toda a dança das cadeiras da Fórmula 1 noticiada nos últimos dias é para a temporada 2021 e está acontecendo antes mesmo dos carros entrarem na pista para o campeonato deste ano, que deve ter a primeira etapa na Áustria, dia 5 de julho.