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Coronavírus assusta Hamilton, e cumprir calendário vira desafio para F-1

Lewis Hamilton conversa com fãs  - Andreas Rentz/Getty Images for ZFF
Lewis Hamilton conversa com fãs Imagem: Andreas Rentz/Getty Images for ZFF

Colunista do UOL

17/03/2020 04h00

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A Fórmula 1 cancelou o início da temporada às pressas pouco antes dos carros irem à pista para o GP da Austrália e suspendeu o campeonato pelo menos até o final de maio devido ao coronavírus. A decisão, tomada sexta-feira passada, veio dois dias depois que a Organização Mundial de Saúde decretou estado de pandemia. De lá cá, as restrições a aglomerações e ao movimento de pessoas aumentaram exponencialmente e há mais dúvidas do que certezas a respeito do que vai acontecer com a temporada.

Há casos positivos no mundo da F-1?

Por enquanto, há dois casos confirmados: o funcionário da McLaren que testou positivo ainda na quinta-feira passada, em Melbourne, o que fez com que a equipe desistisse de participar do GP antes mesmo do cancelamento ter sido definido. A atitude do time, inclusive, foi vista como a catalizadora da decisão.

Ele segue em Melbourne junto de outros 14 membros da equipe McLaren que estão em quarentena em seus quartos de hotel porque tiveram contato com o funcionário infectado. O diretor de corridas, Andrea Stella, também decidiu ficar em solidariedade. De acordo com a McLaren, o funcionário infectado não apresenta mais sintomas e se sente bem. A quarentena, no entanto, só termina dia 29 de março, quando todos voltarão à Inglaterra.

Outro caso foi identificado no retorno do "circo" à Europa: um funcionário da Pirelli testou positivo para o coronavírus no início desta semana e, segundo a empresa, não teve contato com outros membros durante o período em que poderia já estar infectado em Melbourne. Houve outros casos suspeitos, mas apenas estes dois foram confirmados.

E os pilotos?

A confirmação de que o ator Idris Elba testou positivo para o coronavírus, assim como a esposa do primeiro ministro canadense, Grégoire Trudeau, gerou a preocupação de que Lewis Hamilton também pudesse estar infectado. O inglês participou, dia 4 de março, de evento com ambos em Londres e posou em foto abraçando Elba. Mas Hamilton parece estar se sentindo bem e decidiu permanecer por alguns dias na Austrália após o cancelamento tendo aulas de surfe, a exemplo de Charles Leclerc.

A maioria, no entanto, voltou rapidamente para casa. Sebastian Vettel e Kimi Raikkonen retornaram ainda na madrugada da sexta-feira, antes do cancelamento do GP da Austrália, mas depois que suas equipes, Ferrari e Alfa Romeo, tinham decidido não participar da prova. Outros voltaram no sábado à noite para suas casas, e Romain Grosjean apareceu nas mídias sociais buscando dicas de como entreteter e dar uma de professor para seus três filhos, que não podem ir à escola. O francês mora na Suíça com a família. Já Max Verstappen e Lando Norris, por sua vez, participaram de corridas virtuais promovidas por sites para compensar o vazio deixado por todas as competições que foram canceladas.

Como as equipes estão reagindo?

Foi recomendado a todos os membros de equipes que viajaram para a Austrália aguardarem duas semanas para retornar às fábricas dos times, que temiam que o vírus se espalhasse em caso de contaminação na viagem ou mesmo nos dias de trabalho no paddock em Melbourne.

Mas a Ferrari teve de tomar medidas mais drásticas com o fechamento total da Itália, parando as atividades tanto da fábrica de carros de passeio, quanto das atividades da Fórmula 1, pelo menos até o dia 27 de março.

As demais equipes continuam em operação, contando com os funcionários que não viajaram a Melbourne, pelo menos até determinação contrária dos governos locais. A maioria dos times tem base na Inglaterra, onde há a recomendação de manter apenas os deslocamentos essenciais, mas não há o fechamento total ainda, na linha do que fizeram Itália, Espanha e França.

O que está cancelado e o que está adiado?

Até o momento, apenas o GP da Austrália foi cancelado e não vai ter uma nova data para este ano. Estão oficialmente adiados os GPs do Bahrein, Vietnã e China, e há a expectativa de que os adiamentos de Holanda e Espanha sejam anunciados em breve. Ambos os países têm restrições a eventos que gerem aglomerações e também a viagens não essenciais no momento mas, como as provas estão programadas apenas para maio, a Fórmula 1 deve esperar para oficializar estes adiamentos. A postura da categoria tem sido aguardar que os promotores decidam por adiamentos, a fim de proteger seus contratos.

Há muita discussão sobre como a Fórmula 1 irá remarcar seu calendário. Os chefes da categoria admitem que não será possível fazer as 21 corridas (o calendário original tinha 22 e era o mais longo da história) e trabalha com um campeonato de 17 ou 18 etapas. A decisão sobre quais corridas ficarão de fora vai depender muito de dois fatores: financeiro e logístico. GPs que pagam menos pela realização da prova, como Mônaco (corrida isenta de taxa) e Espanha, que tem um contrato de um ano fechado de última hora, devem ficar de fora caso não seja possível realizá-las em suas datas originais, enquanto espera-se um esforço para que os GPs da Holanda - que estava programado para voltar ao calendário - e do Vietnã, que estreiaria neste ano, sigam adiante.

Caso seja possível começar o calendário entre o fim de maio e o início de junho, o GP da Holanda seria realizado em agosto e o do Vietnã iria para alguma data próxima das etapas da Rússia, Singapura e Japão. Também é importante comercialmente para a Fórmula 1 fazer a etapa chinesa. Porém, incluir tantas etapas na já inchada segunda parte do campeonato pode significar que a temporada acabe apenas em dezembro.

Algo que está sendo estudado, inclusive, é deixar a programação do final de semana de corrida, que geralmente tem quatro dias (um de entrevistas, outro para treinos livres, o terceiro para classificação e o quarto, para a corrida) para três ou dois para permitir que mais provas sejam adicionadas em sequência.

Quando o vai começar o campeonato?

Essa é a pergunta mais difícil de ser respondida no momento, especialmente com a Europa sendo atingida tão fortemente pelo coronavírus. A expectativa mais otimista é que seja possível correr em Mônaco, no último final de semana de maio. O Principado, que está incrustado entre dois dos países mais afetados pelo vírus, Itália e França, ordenou nesta segunda-feira o fechamento de todos os serviços que não sejam essenciais.

A segunda opção seria iniciar o campeonato no Azerbaijão, no início de junho. Até o momento, o país foi pouco afetado pela doença, não tendo registrado casos de contaminação dentro de seu território. Todos os casos vieram de viajantes do Irã.

No entanto, como não se sabe quanto tempo vai demorar para que pandemia seja controlada, é difícil fazer qualquer prognóstico. O fato é que a Fórmula 1 se tornou bastante dependente do dinheiro vindo dos promotores de GP e, quanto menos etapas forem realizadas, maior o golpe financeiro na categoria em um ano no qual os times planejavam investir pesado, uma vez que está programada para 2021 uma mudança de regulamento importante.