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Ferrari muda estratégia e tenta abordagem democrática com Leclerc e Vettel

Charles Leclerc tem contrato com a Ferrari até 2024 - Ferrari/Dilvulgação
Charles Leclerc tem contrato com a Ferrari até 2024 Imagem: Ferrari/Dilvulgação

Colunista do UOL

09/03/2020 09h00

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Quando se fala nas táticas da Ferrari de disputar o mundial de pilotos, logo se pensa em jogos de equipe e primeiro piloto definido, como nos tempos de Michael Schumacher ou, mais recentemente, de Fernando Alonso. Mas o chefe da equipe, Mattia Binotto, vai tentar uma estratégia diferente neste ano: depois que Charles Leclerc estreou muito bem na Scuderia ano passado, superando o tetracampeão e, em teoria, primeiro piloto ferrarista, Sebastian Vettel, o foco do time para esta temporada se tornou procurar dar chances iguais aos dois pilotos.

Prova disso é o próprio projeto do carro. Desde o lançamento, a Ferrari vem falando em trabalhar em duas frentes: aumentar a pressão aerodinâmica, para tornar o equipamento mais forte nas curvas, o que aparentemente foi obtido, e fazer com que o carro seja mais flexível a diferentes acertos. Isso porque, ano passado, o time sofria muito com instabilidade na parte dianteira na maioria das pistas e tinha que compensar isso comprometendo o acerto do carro.

E há outro problema: Leclerc e Vettel gostam de carros com estilos completamente diferentes. O monegasco não se importa de ter a traseira mais arisca, em um estilo muito usado no kart, enquanto o alemão precisa justamente do contrário para ter mais confiança. Não por acaso, rodou várias vezes ano passado, perdendo a traseira no meio das curvas.

Com um carro mais flexível, cada um pode ir no caminho que cada piloto preferir em termos de acerto e render o melhor possível.

Além dessa questão técnica, Binotto afirmou que, na Ferrari versão 2020, as ordens de equipe só serão utilizadas quando a equipe tiver algo a ganhar com isso, e não para beneficiar quem quer que seja. "Acho correto que ambos comecem a temporada no mesmo nível. Acho que eles entendem também que a equipe tem a prioridade. Então pode ser que sejam adotadas ordens de equipe para o benefício do time. Mas tem de ser em uma situação clara."

A abordagem não é muito diferente do que aconteceu principalmente na segunda metade do ano passado, quando já estava claro que Leclerc teria um campeonato melhor do que Vettel. E isso trouxe algumas dores de cabeça para Binotto, especialmente no GP do Brasil, quando os pilotos bateram entre si. Para o monegasco, contudo, agora eles se conhecem melhor e podem ter uma relação mais produtiva para a Scuderia. "Espero que não joguemos fora mais oportunidades. Ano passado eu cometi erros e sei disso. Quero evitá-los. Estou tentando ser perfeito e a equipe também."

O piloto de 22 anos, porém, começa o ano com uma vantagem em relação a Vettel: tem contrato até 2024, enquanto a renovação do acordo do alemão tem sido colocada constantemente em dúvida. O contrato atual de Vettel com a Ferrari vai até o final deste ano. "Fiquei feliz pela renovação dele. Acho que desde o começo tive uma boa relação com Charles, acho que nos damos bem. Obviamente, ele está em um estágio muito diferente da carreira em relação à minha. Tenho consciência disso. Mas não acho que isso significa muita coisa", disse o piloto de 32 anos.

Carro "nota 6"

Além da dinâmica entre os pilotos, a Ferrari chega para a primeira corrida, na Austrália, neste final de semana, com muitas interrogações acerca de seu rendimento. Binotto deu "nota 6" para o desempenho do time nos testes e garantiu que eles não esconderam o jogo e estão mesmo muito atrás da Mercedes e da Red Bull, e talvez disputando com alguma equipe média para ser a terceira força em Melbourne. Mas a velocidade de reta menor até que a cliente Alfa Romeo indica que os ferraristas poderiam ser mais velozes, ainda que não o suficiente para ameaçar o time de Lewis Hamilton.

Para completar, o time chega a Melbourne também no centro de uma briga entre a Federação Internacional de Automobilismo e sete das dez equipes do grid - todas que não usam motor Ferrari - depois que a entidade reconheceu não estar convencida de que o equipamento era totalmente legal ano passado, mas decidiu chegar a um acordo confidencial para evitar um processo litigioso.

Sem títulos desde o mundial de construtores de 2008, a Scuderia começa o ano com vários motivos para ser o centro das atenções na estreia do campeonato, com largada às 2h10 do domingo. As atividades começam com os treinos livres, às 22h desta quinta-feira.