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CBV busca saída diplomática para sofrer sanções sem perder Banco do Brasil
As diversas partes envolvidas na punição aplicada à Confederação Brasileira de Vôlei (CBV) na terça-feira (2) têm tentado buscar uma saída diplomática para a entidade, que está suspensa do Comitê Olímpico do Brasil (COB) por seis meses. O COB até poderia livrar a CBV de punição, chamando uma assembleia geral para discutir o gancho, mas o governo federal já alertou que isso faria o Banco do Brasil retirar seu patrocínio ao vôlei.
A porta aberta para a CBV está fechada a Wallace. Todas as partes envolvidas na negociação concordam que ele só escapa de punição e volta a jogar se conseguir uma vitória na Corte Arbitral do Esporte.
Procurada, a CBV, que na terça disse que se via "obrigada a "tomar todas as medidas jurídicas cabíveis para garantir seus direitos", hoje disse que "continua buscando caminhos para resolver a questão, sempre dentro da legalidade".
Na quarta, Radamés Lattari, representando a CBV, e Paulo Wanderley Teixeira, presidente do COB, voaram do Rio a Brasília e se reuniram tanto com Ney Bello, desembargador do TRF-1 e relator do caso no Conselho de Ética do COB (CECOB), quanto com a ministra do Esporte, Ana Moser.
Nos encontros, foi apresentada uma saída para a CBV: reconhecer que a suspensão aplicada pela CECOB a Wallace nunca deixou de ser válida e que, por isso, a partida final da Superliga Masculina, em que o Sada/Cruzeiro venceu o Itambé/Minas com ele marcando o ponto final, é nula.
A confederação ficou de pensar e dar uma resposta até ontem (4) à noite, o que não aconteceu. A entidade alega que está reunida permanentemente com seus advogados em busca de uma solução, que não será a anulação do jogo.
A CBV alega que não tem como anular uma partida, função que é STJD, órgão muito influenciado pelo campeão Sada/Cruzeiro -- vide a punição ínfima aplicada a Lopez por dar um tapa na cara de um adversário, inicialmente de três jogos e depois ampliada para quatro. Além disso, isso geraria uma enorme crise interna que favoreceria exatamente o grupo de oposição que provocou a confusão escalando Wallace.
Negociações
De qualquer forma, é condição obrigatória que a CBV assegure a aplicação da suspensão de cinco anos a Wallace e de um ano a Radamés Lattari, seu principal dirigente.
O Conselho de Ética reconhece que a diretoria do COB tem a possibilidade legal de chamar uma assembleia geral para discutir a suspensão ou não da CBV. Nesta hipótese, o esperado seria uma ampla maioria contra o gancho e a favor da CBV. Mas, aí, outros interessados, que por enquanto estão assistindo a tudo a um passo de distância, entrariam na conversa.
Nos bastidores, ainda que o entendimento majoritário (senão unânime) seja de que a CECOB pegou pesado demais na punição, ele também é de que Ney Bello costurou muito bem sua decisão, incluindo nela o Ministério da Justiça, o Banco do Brasil e o Tribunal de Contas da União (TCU), todos listados para serem oficiados sobre a punição à CBV.
Dado que a infração ética cometida por Wallace foi incitar um tiro na cara do presidente da República e que o processo foi instaurado por pedido da Advocacia Geral da União (AGU), é interesse direto do governo que haja punição tanto para Wallace quanto para a CBV, que permitiu uma óbvia afronta. Menos de 90 dias depois de fazer o que fez, ainda durante sua suspensão, o oposto entrou em quadra para marcar o último ponto da Superliga, ser festejado pelos companheiros e levantar a taça, passando imagem de impunidade.
A CBV está ciente de que terá suspenso (senão encerrado) o patrocínio do Banco do Brasil caso não venha a não cumprir a suspensão aplicada pela CECOB. E aí não haverá nada que a ex-jogadora Ana Moser, por enquanto a interlocutora pelo governo, possa fazer. O Banco do Brasil estará, afinal, cumprindo uma recomendação do Conselho de Ética.
O COB também não tem nenhum interesse em comprar a briga da CBV, que tem, do outro lado, o Ministério do Esporte, o Ministério da Justiça, a AGU e um presidente da República ofendido.
Caso a CBV não tope as condicionantes para uma negociação e tenha sua suspensão mantida pelo COB pelos próximos seis meses, outra negociação vai se iniciar: o que fazer com o vôlei. Ao longo dos últimos anos, o COB foi uma espécie de interventor de diversas confederações proibidas de receber recursos públicos, mas todas muito menores do que a CBV. Assim, essa é uma dor de cabeça que o COB fará de tudo para evitar.
Para o Ministério do Esporte, a prioridade é que os atletas não sejam prejudicados. O repasse ordinário do COB à CBV deveria bancar a ida das seleções de base para os respectivos Mundiais e a participação de duplas de vôlei de praia no Circuito Mundial — o que elas podem, em última instância, fazer por conta.
Wallace e Radamés na reta
As tentativas de saída diplomática começaram há cerca de três semanas. À CBV foi apresentada a sugestão de adiar a final da Superliga para depois do dia 3, quando se encerrava a suspensão de Wallace, e aí não faria diferença se o oposto jogasse. Mas a confederação, que tinha acordo para transmissão do jogo na Globo e contrato com a cidade de São José dos Campos para a promoção da partida, não topou.
Até a possibilidade de Wallace se encontrar com o presidente Lula e pedir desculpas publicamente a ele, saindo por cima da confusão, foi apresentada, mas nem ele nem o Sada toparam — o clube pertence a Vittorio Medioli, prefeito de Betim (MG), bolsonarista, e que ganhou notoriedade por um editorial do jornal O Tempo, também de sua propriedade, defendendo separar o Nordeste do resto do Brasil por ter votado majoritariamente em Lula.
Amparado pelo clube, Wallace parece não ter entendido das implicações da sua participação na final da Superliga. A AGU queria que o oposto fosse preso por incitar violência contra Lula, mas foi convencida de que a punição viria esportivamente. Wallace até ficou 87 dias suspenso, perdeu 17 partidas do Sada, mas, ao voltar durante a suspensão para fazer o ponto do título, foi como se nunca tivesse sido punido esportivamente. E aí, a AGU pode voltar a ser proativa na busca por uma condenação judicial.
Quem também está fadado a cumprir suspensão é Radamés Lattari, que era presidente em exercício da CBV no domingo, na final da Superliga, voltou a ser apenas vice e CEO na segunda, mas foi suspenso por um ano na terça, na terça, de suas funções como presidente — o que a CECOB não sabia que ele havia deixado de ser. Isso significa que a punição imposta pelo Conselho de Ética tem efeito nulo, já que nada impede ele de ser vice-presidente ou CEO.
O Conselho de Ética, porém, não abre mão de responsabilizar Radamés pela autorização dada a Wallace para descumprir a punição, tendo ao apoio de outras partes envolvidas na negociação. Independente do cargo, é ele quem toca a confederação, que até alterou seu estatuto no mês passado para garantir que ele vire presidente no caso de Toroca falecer ou renunciar. Aos 89 anos, o presidente da CBV está mal de saúde e tirou três meses de licença, que terminou na segunda.
Havia a expectativa de que Toroca renunciasse, Radamés virasse presidente, e fosse convocada uma eleição para escolha de um novo vice. E o candidato natural seria Gustavo Toroca, presidente da Federação Alagoana e filho do Toroca pai. Agora, sem Radamés, o xadrez pode mudar.
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