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Vôlei: Jogadoras da seleção reagem a fala homofóbica de campeã olímpica

Seleção feminina de vôlei em último treino antes do Mundial - Reprodução/Instagram
Seleção feminina de vôlei em último treino antes do Mundial Imagem: Reprodução/Instagram

09/09/2022 16h06

Algumas das principais jogadoras da seleção brasileira feminina de vôlei reagiram, nesta sexta-feira (9), a um vídeo postado no Instagram por Tandara, com forte teor homofóbico. Suspensa por doping, condenada por ter sido flagrada com substância proibida antes dos Jogos Olímpicos de Tóquio, ela é candidata a deputada e busca viabilizar seu nome através de pauta preconceituosa.

No vídeo, a ex-jogadora, que recentemente aderiu à retórica conservadora, critica a notícia de que um desenho animado passará a ter um casal lésbico. "Nossos filhos não estarão mais seguros", diz ela, entre diversas falas homofóbicas.

A fala vem de uma ex-jogadora que conviveu anos com mulheres lésbicas e bissexuais no vôlei. Algumas assumem isso publicamente, enquanto outras escondem seus relacionamentos do grande público por medo de comportamentos como o dessa própria ex-atleta. E ela sabe disso.

Nas redes sociais, ninguém deu visibilidade para a candidata, mas muitas se posicionaram compartilhando uma postagem de Sheilla, atleta recentemente aposentada, mas que segue muito presente no dia a dia da seleção brasileira. "Coincidência ou não, ontem minha filha me perguntou por que duas meninas se casam, e eu respondi por que se amam. E ela sorriu. Crianças são puras, nós que poluímos a cabeça delas. Espero que o mundo um dia aceite toda forma de amor", escreveu a agora ex-jogadora no Twitter.

A mensagem foi compartilhada, depois, pelo Instagram, por boa parte da seleção. "Nossa sociedade não é segura por causa do seu preconceito", complementou Carol Gattaz, assumidamente bissexual. "Família é onde se tem amor, se tem respeito. São duas pessoas que escolhem se amar, que são fiéis e livre dentro da individualidade de cada um", ressaltou Gabi.

A ponteira, atual capitã da seleção brasileira, foi além, compartilhando também a definição para "hipocrisia": "A arte de exigir do outro o que não se pratica". Não deu maiores detalhes, mas a sequência de posts indica que ela se referia a Tandara, que é casada com um homem.

Companheira de seleção brasileira em diversas ocasiões, inclusive nas Olimpíadas de Tóquio, Bia foi nos comentários da postagem de Tandara para lembrar do caso de doping: "Deus curte quem tira vantagem sobre o próximo", ironizou, com emoji de palmas.

Desde que se lançou candidata, Tandara vem adotando discursos conservadores. Inicialmente, criticando o direito de uma mulher trans competir entre mulheres, uma forma de atacar diretamente a ex-colega de time Tiffany.

Agora, ela deu um passo além na retórica, atacando também a possibilidade de um personagem LGBT em um desenho, em clara tentativa de seguir a trajetória que levou Maurício Souza à fama e à provável eleição como deputado federal. Por enquanto, tem gerado o oposto: em dois dias, ela já perdeu mais de 10 mil seguidores no Instagram. Contando o último mês, são 20 mil seguidores a menos.

Suspensa por doping por quatro anos, até 2025, ela vem tentando se defender e entrou com recurso na Corte Arbitral do Esporte, na Suíça. O técnico José Roberto Guimarães inclusive já indicou que, se ela conseguir voltar ao vôlei, poderia retornar à seleção. Agora, com esse discurso homofóbico, o ambiente para um possível retorno ficaria desfavorável.