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Seleção feminina de vôlei perde meio time, mas não perde brilho

Wander Roberto/Inovafoto/CBV
Imagem: Wander Roberto/Inovafoto/CBV

Colunista do UOL

04/07/2022 13h00

Esta é a versão online da edição desta segunda-feira (4/7) da newsletter Olhar Olímpico, que destaca os bons resultados da renovada seleção feminina de vôlei, o inédito desempenho dos saltos ornamentais em Mundiais e as dificuldades para o skate no ciclo olímpico de Paris. Para assinar o boletim e recebê-lo no seu e-mail, clique aqui. Para receber outros boletins exclusivos, assine o UOL.

Em qualquer outra seleção do mundo, a saída repentina de meio time campeão exigiria alguns passos atrás. Mesmo em um clube endinheirado, que pode resolver o problema contratando novos atletas, a solução demora. Mas, em uma seleção, é pior. É convocar quem antes não era convocado, escalar quem antes não era escalado, e tentar buscar desempenho do nível de quem já ganhou o mundo.

A missão de José Roberto Guimarães era duríssima, ainda é, mas vem sendo bem-sucedida. Sem Natália, Carol Gattaz, Camila Brait, Fê Garay e Tandara, todas cotadas entre as melhores do mundo e peças-chave da seleção em Tóquio, e já tendo perdido também Thaisa ano passado, o treinador achou um novo time.

Em 12 jogos na primeira fase da Liga das Nações, o Brasil venceu 10. Terminou em segundo, só atrás dos EUA, repetindo a classificação da Olimpíada do ano passado, quando mais da metade da equipe estava na casa dos 30 anos. Exceto Ana Cristina, que pouco jogou, ninguém tinha menos de 27 anos e dois ciclos olímpicos nas costas. Agora, de 18 jogadoras utilizadas, 11 têm 23 anos ou menos.

É verdade que a fase de classificação da Liga das Nações é só um estágio para a fase final, na próxima semana, em Ancara, na Turquia. Por causa de um critério bizarro que beneficia a seleção dona da casa, transformada em cabeça de chave número 1, o Brasil vai enfrentar o forte time do Japão já nas quartas de final.

Mesmo que não vença, mesmo que caia na semifinal, mesmo que termine sem medalha, mesmo assim o objetivo neste começo de ciclo olímpico da seleção feminina de vôlei parece cumprido.

Zé Roberto se planejou por anos para o momento em que a renovação não seria uma opção. No seu time em Barueri (SP), onde muitas vezes tirou dinheiro do bolso para pagar salários e despesas das mais diversas, ajudou a lançar boa parte das meninas em que agora confia a seleção. Nyeme, Natinha, Kisy, Diana, Lorrayne, Lorena, Karina, Mayany e Lorenne passaram com destaque pelo projeto, saíram para clubes mais ricos, mas agora reencontraram o técnico na seleção.

Ao longo de três semanas, o treinador rodou o elenco, deu boas oportunidades para todo mundo que tinha à disposição, e colheu os frutos. O time foi melhorando e saiu invicto da última etapa, na Bulgária — fase em que, é preciso reconhecer, enfrentou adversárias mais fracas.

Em Sofia, Julia Kudiess, de 19 anos, fez seus primeiros jogos como titular. Foi bem em todos, e sentou na janelinha do time que deverá jogar a fase final, uma vez que Diana, por lesão, está fora. Julia Bergmann, de 21, também mostrou bola para ser titular, mas contra ela pesam a concorrência de Rosamaria, preservada por Zé Roberto, e o fato de que não estará disponível para o Mundial — ela vai ficar nos EUA terminando a faculdade.

O desempenho mostra que o treinador acertou na estratégia de renovação. Contando com só cinco das mais experientes integrantes do time de Tóquio (Carol, Rosamaria, Macris, Roberta e Gabi), poderia ter corrido atrás de jogadoras de destaque do país, mas que até então estavam descartadas. Com esse perfil, só chamou Pri Daroit, de 33 anos, que havia pedido dispensa no passado, mas reconquistou a confiança do treinador.

O sangue novo não apenas manteve o Brasil no topo, com derrotas para Itália e EUA na fase de classificação, como permitiu à seleção ser abraçada pela torcida, encantada com esse novo time. O momento é de olhos brilhando.

Já na seleção masculina, a coisa não anda tão boa e as críticas são pelo contrário: a falta de renovação. O Brasil de Renan Dal Zotto é só sexto colocado, com cinco vitórias em oito jogos, e corre risco real de não se classificar para a fase final.

Nesta semana, a seleção joga em Osaka, no Japão. Enfrenta a Alemanha (quarta, às 3h40 de Brasília), o Canadá (quinta, às 6h), a França (sexta, às 3h40) e o Japão (domingo, às 7h10). Franceses e japoneses têm campanha melhor que o Brasil, que precisa muito vencer alemães e canadenses.

Alan, maior pontuador do time, rompeu o tendão de Aquiles do tornozelo direito no jogo contra o Irã e vai ficar fora das quadras por seis meses. Não joga o Mundial e desfalcará o Blumenau, que investiu uma bolada para contratá-lo, durante a maior parte, senão toda, a fase de classificação da próxima Superliga.

Eu avisei, e saltos ornamentais fizeram a melhor campanha em Mundiais

Ingrid Oliveira fez o melhor resultado do Brasil na história - Nikola Krstic/BSR Agency/Getty Images - Nikola Krstic/BSR Agency/Getty Images
Ingrid Oliveira foi a 4ª colocada na plataforma de 10m no Mundial de Esportes Aquáticos, em Budapeste
Imagem: Nikola Krstic/BSR Agency/Getty Images

Escrevi aqui, antes de o Mundial de Esportes Aquáticos começar, que existia a possibilidade de o Brasil ter campanha melhor nos saltos ornamentais do que na natação. Não foi para tanto, mas o time de saltos fez, de longe, a melhor campanha da história.

Ingrid Oliveira foi quarta colocada na plataforma de 10 metros, melhor resultado da história dos saltos do Brasil em Mundiais, e por muito pouco não beliscou medalha. Rafael Fogaça, de só 19 anos, fez a segunda final do Brasil na plataforma masculina (Cesar Castro foi quinto em 2009), e terminou em décimo.

O país nunca tinha disputado uma final em provas sincronizadas olímpicas, tabu quebrado por Isaac Souza Filho e Kawan Figueiredo, que alcançaram um inédito nono lugar, entrando na briga por uma também inédita vaga olímpica — são oito, e o Brasil só participou dos Jogos em prova sincronizada quando convidado, em 2016. Depois, Luana Lira e Ana Lucia dos Santos também pegaram final no trampolim sincronizado, terminando em décimo. Luana ainda conquistou o melhor resultado do país no trampolim feminino, um 14º lugar.

Campeão mundial júnior no ano passado, Kawan não estava na melhor forma física no Mundial, porque teve covid recentemente, e não passou nem à semifinal na plataforma masculina. Mas Isaac passou e foi 15º, terminando a oito pontos de uma final inédita.

Excelente trabalho de Ricardo Moreira, Hugo Parisi e toda turma deles, que montaram um clube especializado na modalidade, o Instituto Pro Brasil, e uma confederação que segue no mesmo sentido, a Saltos Brasil. É também a única bola dentro da Secretaria Especial do Esporte, que financia o projeto.

Sensação em Tóquio, skate brasileiro pode ter dificuldades em Paris

O Paulo Anshowinhas, que entende tudo de skate, escreveu que os brasileiros devem se cuidar, que o pódio olímpico não tem vaga reservada. Assisti às semifinais e finais do torneio de Roma válido para o ranking olímpico do street, e tive essa leitura, também. No feminino, as notas vão de 0 a 100 e cinco japonesas andaram regularmente acima de 80 pontos. Se Rayssa Leal e Pâmela Rosa quiserem brigar por medalhas, vão ter que cravar as linhas, pontuando de 80 para cima também, para tentar fazer a diferença nas manobras — a pontuação final soma duas manobras e uma linha. A estratégia vai ter que mudar.

Camilla Gomes coloca ginástica de trampolim como possível pódio em 2024

A lista de modalidades em que o Brasil pode ir ao pódio em Paris agora inclui a ginástica de trampolim. Não que o talento de Camilla Gomes seja novidade. Mas a ginasta, que se mudou para os EUA para treinar há alguns anos, está na melhor fase da carreira. No Pan, no Rio, fez apresentação de 55,600 pontos, que daria a ela o ouro em três das quatro etapas da Copa do Mundo deste ano (e prata na outra). A nota foi melhor do que a medalhista de bronze olímpico Bryony Page, britânica, tirou para ganhar o Campeonato Europeu, em junho. O Mundial é em novembro, na Bulgária.

Seleção de basquete abre mão de Yago e perde nas Eliminatórias

No futebol, o torcedor se irrita quando um jogador desfalca seu time no Estadual para jogar um torneio importante de base. No basquete, a comissão técnica da seleção achou de bom-tom abrir mão do armador Yago em jogos das Eliminatórias da Copa do Mundo para ele disputar amistosos com a seleção sub-23 em um torneio amistoso para atletas em "desenvolvimento". Sem seu principal garçom, a seleção conseguiu a façanha de perder da Colômbia, na casa deles, por 104 a 98, ontem. O Brasil já estava classificado, mas carrega a derrota para a fase final.

A última etapa das Eliminatórias tem dois grupos com seis seleções, com os três primeiros times se classificando para o Mundial e o quarto colocado jogando repescagem. O Brasil não enfrenta Uruguai e Colômbia, que já pegou na primeira fase, e começa com cinco vitórias e uma derrota. Serão seis jogos diante de México, EUA e Porto Rico. Americanos e mexicanos têm uma derrota cada, no confronto direto. Porto Rico já perdeu três e hoje enfrenta o México.