Criticado por Textor, Engenhão tem preço proibitivo para o atletismo

Em um dia em que o Estádio Nilton Santos era utilizado para uma competição de atletismo, a contragosto do Botafogo, pela primeira vez desde 2016, o dono majoritário da SAF do clube, John Textor, deu declaração criticando o formato do estádio, com pista de atletismo. E indicou pela primeira vez que pode abrir mão da concessão, que vai até 2025.

"Qualquer estádio construído com uma pista olímpica em volta não é um estádio de futebol", criticou o empresário, comparando o Engenhão ao estádio do clube inglês do qual também é proprietário. "O estádio do Crystal Palace é pequeno, não impressiona muito, mas a torcida está ali em cima. Tem uma energia, é uma maneira de se sentir conectado com o público, isso ajuda os jogadores. Ajuda na experiência de entretenimento dos torcedores, é disso que precisamos para o Botafogo", afirmou no Seleção SporTV.

Construído para os Jogos Pan-Americanos de 2007 e concedido para o Botafogo no ano seguinte, o Engenhão, depois renomeado Nilton Santos, foi reformado para os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio. O local tem a melhor pista de atletismo do país, única de primeiro nível, mas nunca mais foi utilizado em competições, por causa do alto custo de se realizar eventos lá.

Cinco anos da Olimpíada, o tabu só foi quebrado este ano, quando a CBAt pretendia realizar três eventos no estádio, com recursos da Lei Estadual de Incentivo ao Esporte do Rio, que acabaram não sendo captados. O GP Brasil foi transferido para São Paulo, o Pan-Americano Sub-23 foi cancelado, mas o Troféu Brasil saiu, e está sendo realizado desde quarta-feira, seguindo até amanhã, com o cuidado de não prejudicar o gramado — as provas de lançamento são na pista de aquecimento, do lado de fora.

No contrato de concessão, o Botafogo aceitou a condição imposta pela prefeitura, de ceder gratuitamente o estádio, por um número específico de dias, para que o município realize eventos de atletismo. Esse dispositivo foi acionado para o Troféu Brasil de 2009 e o GP Brasil em 2010, 2011 e 2012, mas nunca mais foi utilizado depois da Olimpíada.

Quando a CBAt procurou o Botafogo para utilizar o estádio este ano, foi informada de que teria que pagar R$ 150 mil por dia pelo aluguel, o que significaria R$ 525 mil pelos três dias e meio do Troféu Brasil, que no sábado só terá etapa pela manhã. No fim, o Botafogo acabou sendo obrigado a ceder o Nilton Santos de graça, mas não sem cobrar o chamado custo do "quadro móvel".

Nesta conta estão incluídas os serviços públicos de água, luz, refrigeração e gás (R$ 80 mil por dia), a manutenção hidráulica e elétrica (R$ 15 mil no total), o lanche dos funcionários do estádio (R$ 10 mil) e outros custos diversos que somam R$ 10 mil. No total, a CBAt terá que pagar R$ 318 mil para usar o estádio durante o Troféu Brasil. A verba veio de um termo de fomento (antigo convênio) com o governo federal.

Só graças ao dinheiro repassado pela Secretaria do Esporte é que a CBAt vai poder pagar por segurança, limpeza, sonorização, gradil, e outros custos que são maiores quando o palco da competição é muito maior do que o atletismo está acostumado.

Eventos nacionais como o Troféu Brasil e mesmo internacionais como o GP Brasil não têm ocupado nem mesmo as arquibancadas do Centro Olímpico de São Paulo, onde não cabem mais que 3 mil pessoas, muito menos do Engenhão. Quarta e quinta não havia quase ninguém nas arquibancadas do estádio, a não ser atletas e treinadores, pelo que se podia ver na transmissão.

O cenário põe em xeque o futuro do estádio. Para o atletismo, o Engenhão é muito maior e muito mais caro do que a necessidade para eventos locais. O uso misto contínuo é complexo, porque as provas de lançamento prejudicam o gramado, afetando a prática do futebol. E o Textor indicou que quer um novo estádio para o Botafogo. "Estou olhando terrenos, eu diria que essa é minha principal meta no longo prazo", afirmou ao SporTV.