Topo

Olhar Olímpico

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Natação feminina do Brasil evolui e mulheres viram protagonistas no Mundial

Stephanie Balduccini, nadadora brasileira - Fina
Stephanie Balduccini, nadadora brasileira Imagem: Fina

22/06/2022 16h50

Há dois anos, quando as instalações esportivas reabriam depois da primeira onda de Covid, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) levou a elite do esporte brasileiro para treinar em Portugal. Na natação a delegação tinha 14 homens e uma mulher. A justificativa dada à época foi que o programa visava treinar atletas em condições de obter bons resultados em Tóquio, e só duas nadadoras se encaixavam: Viviane Jungblut (que viajou) e Etiene Medeiros (preferiu ficar no Brasil).

Na época, as mulheres da natação brasileira se uniram, protestaram, e argumentaram que, por terem menos investimento ao longo dos anos, era natural que não se encaixassem mesmo. E disseram que essa situação só mudaria quando elas também tivessem apoio para apresentar resultados.

Dito e feito. No primeiro Mundial do ciclo olímpico até Paris, a única medalha em prova olímpica conquistada pelo Brasil até aqui veio com os homens — mais especificamente com Guilherme Costa, nos 400m livre —, mas é da natação feminina que vem o protagonismo na competição em Budapeste até aqui. Se no masculino só Guilherme, conhecido como Cachorrão, competiu acima do que está acostumado, no feminino uma série de feitos históricos já foi alcançada.

Nesta quarta-feira, nenhum homem brasileiro caiu na água na sessão noturna, de finais e semifinais. Só mulheres. Nos 100m livre, Stephanie Balduccini, de somente 17 anos, foi a décima colocada das semifinais, com o tempo de 54s10, ficando a sete centésimos de bater o recorde sul-americano e mais uma vez melhorando sua melhor marca pessoal, tirando meio segundo do que fez no Troféu Brasil.

Depois, ela voltou à piscina, para sua quarta caída na água no dia, desta vez com o revezamento 4x200m livre, que foi sexto na final, a meio segundo da Hungria, que terminou em quinto. A marca (7min58s38) ficou um pouco aquém do esperado, mas a expectativa sobre as nadadoras brasileiras já mudou.

Até então, em toda a história da natação do Brasil, só um revezamento feminino, o 4x100m medley, havia chegado uma vez à final de um Mundial, em 2009. Em Budapeste já são duas finais, dois sextos lugares, com o 4x200m e com o 4x100m livre, e com diversas meninas jovens, como a própria Stephanie, Giovana Medeiros (18 anos recém-completados) e Ana Carolina Vieira (21).

Anteontem, também pela primeira vez na história, duas mulheres disputaram uma mesma final de Mundial. Nos 1.500m, Beatriz Dizotti foi sexta colocada, com recorde brasileiro, e Vivi Jungblut terminou em sétimo, também melhorando, em Budapeste, seu antigo recorde nacional.

Exceto Cachorrão, único brasileiro com desempenho fora da curva em provas olímpicas no Mundial, com uma medalha nos 400m livre e um quinto lugar nos 800m livre, só mulheres mostraram evolução no Mundial. Stephanie Balduccini fez o melhor da vida nos 200m medley (terminou em 19º) e nos 200m livre (12º, na semifinal) e Giovanna Diamante registrou seu PB nos 100m borboleta (ficou em 10º, chegando na semifinal).

Enquanto isso, o desempenho no masculino é decepcionante. Nos 100m livre, o Brasil não só encerrou uma série de sete Mundiais chegando à final como não conseguiu nem se classificar para a semifinal. O 4x100m livre, que brigou por ouro em 2017, nesta mesma piscina, ganhando a prata, terminou em um modesto sétimo lugar.

Medalhista em Tóquio, Fernando Scheffer ficou em nono nos 200m livre, longe do seu melhor, assim como Leonardo de Deus, finalista da última Olimpíada, que terminou só em 14º nos 200m borboleta, ambos eliminados na semifinal.

Já os demais brasileiros nem das eliminatórias passaram: Breno Correia (22º nos 200m livre), Guilherme Basseto (17º nos 100m costas), Felipe França (24º nos 100m peito), Stephan Steverink (16º nos 400m medley), Gabriel Santos (25º nos 100m livre), Marcelo Chierighini (26º nos 100m livre), Vinicius Lanza (23º nos 200m medley) e Caio Pumputis (desclassificado nos 200m medley e 19º nos 200m peito).

O Brasil vem de um Mundial, em 2019, em que colocou cinco nadadores homens em finais individuais de provas olímpicas, além de ter alcançado 13 classificações entre os 16 primeiros (semifinais na maioria das provas, exceto as mais longas). Até aqui, são duas finais e só cinco Top16.

A programação ainda tem Bruno Fratus como candidatíssimo a uma medalha nos 50m livre, onde Luiz Gustavo Borges também compete, Vini Lanza e Matheus Gonche inscritos nos 100m borboleta, e Guilherme Costa afiado para os 1.500m livre.

O Brasil, é bom ressaltar, ganhou também uma medalha nos 50m borboleta, com Nicholas Santos. Mas esta prova não faz parte do programa olímpico e não faz parte do planejamento da CBDA e do COB. O mesmo vale para Etiene Medeiros, única brasileira medalhista em Mundiais de piscina longa, em provas de 50m costas. Ela estava machucada na época do Troféu Brasil e não participa da competição em Budapeste.