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Cannabis ajuda corintiano com Síndrome de Tourette a ser campeão brasileiro

Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

16/05/2022 13h00

Esta é a versão online da edição desta segunda-feira (16/5) da newsletter Olhar Olímpico, seu resumo sobre o que de mais importante aconteceu e vai acontecer nos esportes olímpicos durante a semana. Para assinar o boletim e recebê-lo no seu e-mail, clique aqui.

Basta um breve contato cara a cara com alguém desconhecido para Tomás Levy dar seu cartão de visitas. "Eu tenho Síndrome de Tourette, você sabe o que é? Por isso que eu tenho esses tiques nervosos, espero que você me entenda", costuma dizer. Agora, ele pode adicionar no breve perfil o título de campeão brasileiro de remo no single skiff, a prova que define o melhor atleta do país.

A Síndrome de Tourette é, nas palavras do médico Drauzio Varella, "um distúrbio neuropsiquiátrico caracterizado por tiques múltiplos, motores ou vocais". Em alguns casos, está associada a sintomas obsessivo-compulsivos (TOC) e ao distúrbio de atenção com hiperatividade (TDAH). "É uma vergonha a pessoa me vendo sem saber o que eu tenho. Eu acabo querendo provar que tenho Tourette. É um ponto frágil meu, é um ponto delicado", diz Tomás.

Paulistano de 20 anos, o remador do Corinthians é o paciente padrão desta síndrome, que para ele veio com "pacote completo". Teve os primeiros sintomas aos 4 anos, a fase mais aguda a partir dos 12, chegou a se contorcer no chão durante a adolescência, quando também desenvolveu síndrome do pânico, e voltou a melhorar aos 16.

Mas os tiques faciais (piscadas, franzir de testas, mexidas repentinas de cabeça), os tiques vocais (fungar e limpar a garganta) e o TOC continuam presentes, suavizados pelo consumo medicinal de princípios ativos da maconha, vendidos em forma de óleo.

"Eu tomo vários remédios, mas o THC e o CBD juntos funcionam como nenhum igual. Quem está do meu lado percebe nitidamente a diferença, principalmente dos tiques. Eu me sinto mais calmo. Eu sou ligado no 220, sou meio impulsivo, de 'ai meu Deus, preciso fazer isso daqui'. Com a cannabis, acabo refletindo melhor sobre as coisas, tenho foco maior. Eu também tenho um pouco de Déficit de Atenção, não conseguia focar, na escola era uma desgraça. Quando eu estou sob o efeito (da medicação), eu viro outra pessoa", conta.

No remo desde os 12 anos, Tom, como é chamado, perdeu alguns campeonatos na base porque simplesmente parava de remar no meio da prova. "Eu ficava nervoso e simplesmente largava a prova. O [Fernando] Melo ficava louco. Eu estava na frente e parava", lembra, falando do técnico do Corinthians, com quem treina desde que voltou de Brasília para São Paulo, em 2016.

Os tiques, em si, nunca foram um problema nas provas, uma vez que, extremamente concentrado, Tom não os tem em competições — o mesmo acontece quando ele toca piano ou medita. Mas a Tourette também gera muita ansiedade, o que a cannabis medicinal ameniza.

"Melhora meu rendimento e minha qualidade de vida. Está tudo muito ligado, porque se eu estiver em uma fase ruim, o treino vai ser um cocô. A cannabis me ajuda muito e acho que é um passo superimportante. Não é que tomo e viro um super-herói. Mas é, dos remédios, o que está me fazendo melhor", detalha.

Pelo código antidoping atualizado, o CBD, um dos princípios ativos da maconha, é permitido todo o tempo. Mas o THC, substância psicostimulante da cannabis e responsável pelos efeitos principais da droga (o que dá barato), não é autorizado durante o período de competição.

Quando vai competir, Tomás tem que parar com o THC. Aconteceu recentemente, quando o atleta do Corinthians venceu o Campeonato Brasileiro de Barcos Curtos no single skiff, tanto no adulto quanto no sub-23. "Duas semanas antes, eu estava com THC ainda, estava me sentindo muito tranquilo. Mas tive que parar e comecei a piorar. Agora vou voltar a tomar".

Também apaixonado por música, e produtor musical nas horas vagas, Tom sonha em, futuramente, ser DJ. Como não dá para conciliar apresentações à noite e treinos logo cedo pela manhã, o foco está no remo, onde ele tem a oportunidade de dar visibilidade à causa das pessoas com Tourette. "Imagina um menino que tem Tourette ver alguém com Tourette que foi campeão brasileiro, foi para as Olimpíadas. Tem também a questão do diagnóstico. Muita gente não sabe que tem Tourette."

Ainda esperando por Paulo André, Brasil tem bons resultados nos 100 metros

Felipe Bardi e Erik Cardoso - Carol Coelho/CBAt - Carol Coelho/CBAt
Felipe Bardi e Erik Cardoso
Imagem: Carol Coelho/CBAt

Meu sentimento, hoje, é que Paulo André não voltará tão cedo a ser um atleta de alto rendimento. Ele poderá até correr uma prova ou outra, mas priorizar as necessidades do corpo de atleta, treinar dois períodos e dormir cedo, acho que ou nunca mais, ou não neste ciclo olímpico. É o que eu supunha desde o início do BBB 22: a tentação da fama é muito grande.

Enquanto isso, os amigos Felipe Bardi e Erik Cardoso vêm protagonizando ótimas disputas nas provas de 100 m. No sábado, em uma competição meio da CBAt, meio universitária, Felipe Bardi venceu a distância em Bragança Paulista com 10s07, melhor tempo da vida. Erik ficou em segundo, com 10s14, mesmo tempo que havia feito na semifinal.

FIVB investe em Márcio Araújo para desenvolver vôlei de praia

Medalhista olímpico no vôlei de praia, Márcio Araújo foi contratado pela Federação Internacional de Vôlei (FIVB) para ser o treinador chefe de um projeto que pretende desenvolver a modalidade em países sem tradição no esporte. Seu primeiro desafio será trabalhar por seis meses na Bolívia. Papel parecido cumpriu Luizomar Moura, no vôlei de quadra, quando treinou o Quênia nos Jogos de Tóquio.

Outro medalhista olímpico — neste caso, um campeão olímpico — que iniciou trabalho como treinador de vôlei de praia é Ricardo. Aposentado há pouco tempo e até então morando nos EUA, ele voltou ao Brasil para trabalhar, desde o mês passado, com Evandro e Álvaro Filho. O convite foi de Alvinho, que foi sparring de Ricardo no início de carreira e, depois, formou dupla com ele. Os dois são tão próximos que, quando Alison ficou sem dupla, Ricardo ofereceu 'ceder' Alvinho para o Mamute.

Gustavo Xavier aparece como o futuro do MTB brasileiro

Gustavo Xavier começa a dar mostras de que o Brasil terá um substituto para Henrique Avancini na elite do mountain bike. Paulista de Ibiúna (SP), mas radicado na vizinha Piedade (SP), Gustavo fez um segundo e um quarto lugares nas últimas duas etapas da Copa do Mundo, na categoria sub-23. Detalhe: ele tem só 20 anos. Ao que tudo indica, um enorme futuro pela frente.

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