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Olhar Olímpico

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Daniel Nascimento bate recorde e vira o melhor não-africano da maratona

Daniel Nascimento concede entrevista antes da São Silvestre de 2021 - BRUNO ROCHA/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO
Daniel Nascimento concede entrevista antes da São Silvestre de 2021 Imagem: BRUNO ROCHA/ENQUADRAR/ESTADÃO CONTEÚDO

16/04/2022 22h28

Daniel Nascimento se tornou já neste domingo (17), considerando o horário da Ásia, o melhor brasileiro e sul-americano na história da maratona, a prova mais tradicional do esporte. O resultado ganha em importância ao se considerar que o antigo recorde nacional, de Ronaldo da Costa, foi recorde mundial a seu tempo. A marca também é a melhor já feita por alguém que não nasceu na África.

Naquela que foi apenas a quarta maratona de sua breve carreira na distância, Danielzinho, de somente 23 anos, foi terceiro colocado na rápida Maratona de Seul, na Coreia do Sul, com o tempo de 2h4min49 (não-oficial), apenas oito segundos atrás do etíope Mosinet Geremew, que venceu com recorde da prova.

Atleta de destaque no Brasil nas categorias de base, correndo em provas de fundo nas pistas, Danielzinho ficou um tempo afastado do esporte e voltou no fim de 2019 sendo o melhor brasileiro na São Silvestre daquele ano. Em movimento raro no atletismo, migrou para a maratona ainda muito jovem, aos 21 anos — Eliud Kipchoge, o melhor do mundo, por exemplo, estreou na distância aos 29.

Em 2021, em Lima, o corredor de Paraguaçu Paulista fez a melhor estreia de um brasileiro em maratonas e se classificou para a Olimpíada, onde chegou a liderar a prova, antes de sofrer com dores e abandonar. Em dezembro, em Valência (Espanha), registrou o tempo de 2h6min11s, assumindo o segundo lugar do ranking histórico do país.

Agora, em Seul, baixou em mais de um minuto sua antiga melhor marca, um feito muito significante para quem ainda não comemorou o primeiro aniversário de sua maratona de estreia. Mas, ainda mais marcante é o fato de ele ter quebrado o recorde brasileiro que era de Ronaldo da Costa, de 2h06min05s e que vinha desde 1998.

Quando registrou essa marca para vencer em Berlim, Ronaldinho quebrou um recorde mundial que já durava 10 anos. Essa marca foi estraçalhada nos anos seguintes por diversos africanos, mas seguiu por quase um quarto de século como recorde brasileiro, até hoje. Mesmo grandes corredores como Vanderlei Cordeiro de Lima e Marilson Gomes dos Santos não o bateram.

Agora, Danielzinho não só supera esse recorde histórico como recoloca o Brasil entre os principais países na maratona. Só seis países têm, na história, resultados melhores do que fez o corredor brasileiro hoje: Quênia, Etiópia (cada um com mais de 30 atletas entre os 70 melhores de todos os tempos), Eritreia, Bélgica, Turquia e Bahrein. Esses últimos três, porém, têm como recordistas africanos naturalizados.

Grande dia

O dia de sábado (considerando o horário brasileiro) já havia entrado para a história do atletismo brasileiro porque, mais cedo, nos Estados Unidos, Alison dos Santos, o Piu, correu os 400m rasos em 44s54, assumindo o segundo lugar do ranking nacional histórico.

Piu, que é especialista nos 400m com barreiras e foi bronze nesta prova em Tóquio, tem conhecida capacidade de correr bem também os 400m rasos, mas poucas vezes compete nesta prova, para focar na sua especialidade. Hoje ele mostrou que pode ter resultado em ambas.

A marca de Piu nos EUA só não é melhor, no Brasil, do que o 44s29 que Sanderlei Parrela fez para ser medalhista de prata no Mundial de 1999. No mundo, Piu agora é o 107º melhor da história. Com esse tempo, ele teria superado as duas baterias eliminatórias e chegado em sexto na Olimpíada de Tóquio.