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OPINIÃO

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Lutadores imploravam por apoio enquanto CBW era saqueada

Atleta olímpica, Aline Silva foi prata no Mundial de 2014 e agora é vice-presidente da CBW - Saulo Cruz/COB
Atleta olímpica, Aline Silva foi prata no Mundial de 2014 e agora é vice-presidente da CBW Imagem: Saulo Cruz/COB

Colunista do UOL

11/04/2022 13h00

Esta é a versão online da edição desta segunda-feira (11/4) da newsletter Olhar Olímpico, seu resumo sobre o que de mais importante aconteceu e vai acontecer nos esportes olímpicos durante a semana. Para assinar o boletim e recebê-lo no seu e-mail, clique aqui.

Aline Silva e outros lutadores da seleção brasileira tiveram que implorar, nas palavras dela, para que a Confederação Brasileira de Wrestling (CBW) alugasse uma casa perto do centro de treinamento da equipe, na Tijuca, no Rio, antes da Olimpíada de 2016, para que eles tivessem mais tempo de descanso. Também foi à base de muita saliva que eles conseguiram a contratação de uma cozinheira, porque até então a rotina era treinar, cozinhar, lavar louça, e descansar por um curto período antes de treinar novamente.

A melhor lutadora de wrestling do Brasil, medalhista de prata no Mundial de 2014, perdeu as contas de quantas horas passou chorando, se remoendo, perguntando se não teria sido diferente se tivesse tido o apoio que merecia.

É muito doloroso saber que a melhor oportunidade da vida passou e eu perdi. Eu cheguei àquela Olimpíada como uma das melhores do mundo e me preparei no perrengue. E a confederação podia pagar por um treinamento decente, por um parceiro de treinos, uma alimentação decente, para que a gente pudesse só treinar sem carregar compras e lavar louça, sem ter que ficar implorando para ter alimentação."

Quando ainda se preparava para sua última Olimpíada, em Tóquio, Aline foi eleita vice-presidente da CBW, em uma chapa de oposição àquela que geriu a confederação durante toda sua carreira esportiva, encabeçada pelo presidente Pedro Gama Filho, o Doca, e o superintendente Roberto Leitão Filho.

"Eu tinha condições de tentar ir para Paris, mas cansa muito ter que lutar para lutar", afirma Aline, que primeiro acreditava que poderia mudar as coisas dentro do seu esporte conquistando resultados, visibilidade e, consequentemente, voz para denunciar.

Até deu certo em alguns momentos, quando ela conseguiu que a confederação pagasse um auxílio para que ela tivesse um sparring na preparação para o Rio — no caso, o seu então marido —, depois de chamar atenção da mídia fazendo uma vaquinha online. Mas ainda assim era pouco para a estrela de uma confederação que, dentro do Plano Brasil Medalhas, recebeu quase R$ 12 milhões da Caixa justamente por causa dos resultados de Aline.

"A gente sabia que o contrato com a Caixa previa um salário para os atletas, mas a gente nunca recebeu. Teve uma competição em que eu acho que não usei camiseta da Caixa e o [Roberto] Leitão chamou dizendo que ele ia dar multa. Mas o contrato dizia que a multa era em cima do nosso salário. Multa em cima de zero é zero", lembra Aline, que não ganhou Bolsa Pódio de R$ 15 mil depois da medalha no Mundial porque a confederação, intermediária entre a atleta e o então Ministério do Esporte, não repassou as informações dela que o governo cobrava.

Enquanto Aline passava perrengue, Doca e Leitão, presidente e superintendente da confederação, tiravam, de acordo com a Polícia Federal, algumas dezenas de milhares de reais por mês da entidade através de falsos contratos de consultoria (cujos valores iam quase inteiros para eles), de funcionários fantasmas e de propinas cobradas de empresários, como mostrou a coluna em duas reportagens, que você pode ler aqui e aqui. Com o dinheiro desviado da confederação, Doca pagava empregadas (no plural), aluguel em área nobre do Rio e diversas viagens.

Aline tem certeza de que havia mais coisa, mais irregularidades, que só não viraram denúncias formais para não prolongar demais o processo. "No final da gestão deles, a gente [os atletas] estava se mobilizando por causa de um funcionário fantasma, um preparador físico que ninguém tinha visto. Abrimos um inquérito e quando fomos ver descobrimos que já tinha dois processos rolando e a instrução era: não forçar para abrir mais um porque poderia ficar eterno. Levaria muitos anos e eles não pagariam por nada que fizeram."

Hoje Aline está do outro lado do balcão, como dirigente, e age para que seu trabalho seja muito diferente do trabalho dos seus antecessores. "A gente está tendo uma gestão focada em atletas, mas a gente tem muito menos verba para gerir. Fica dificil porque os atletas falam: 'Naquela época tinha isso, tinha aquilo'. Com a verba que tinha antes dava para desviar e dar muito mais do que tem hoje", disse Aline, que está na vice-presidência de uma entidade que não tem patrocínio e deve receber cerca de R$ 3,3 milhões do COB via Lei Piva em 2022. "A gente está dando milhões de passos atrás para tentar corrigir."

Esportes olímpicos de neve rendem bons resultados

O snowboarder brasileiro Noah Bethonico - Divulgação/COB - Divulgação/COB
Imagem: Divulgação/COB

Vários esportes de verão do Brasil nunca tiveram, em nível olímpico no Brasil, resultados tão bons quanto os esportes de neve têm conseguido nesses últimos meses. Em 31 de março, Noah Bethonico ficou em 9º lugar na prova do snowboard cross no Mundial Júnior de Snowboard, disputado na Suíça, mesmo sendo o segundo atleta mais jovem da competição. Nas quartas de final, o brasileiro de 18 anos chegou a vencer o alemão que viria a ser campeão.

Recentemente, outro brasileiro, Sebastian Bowler, fez dois resultado top 10 no Mundial Júnior de Esqui Estilo Livre.

Ippon de David Moura, agora na política

David Moura, que se aposentou do judô no ano passado e vem tocando o Instituto Reação junto de Flávio Canto, foi anunciado na semana passada como secretário adjunto de Esportes do Mato Grosso. Natural de Cuiabá, ele ocupa o cargo que era do ex-técnico de natação Jefferson Neves, promovido a secretário. Entrando na política, David segue o caminho de Rogério Sampaio, Aurélio Miguel, Tiago Camilo, João Derly e outros ex-judocas.

Avancini e MTB são fenômenos no Brasil

Henrique Avancini é um fenômeno. O mountain bike no Brasil é um fenômeno. Duvida? Assista ao vídeo da chegada dele em um modesto 12º lugar na etapa de Petrópolis (RJ) da Copa do Mundo da modalidade, que marcou o retorno do Brasil à elite do calendário internacional após 17 anos.

"Foi o momento mais especial, intenso e marcante da minha carreira", disse Avancini. Vou além: poucos atletas tiveram momentos tão intensos na carreira.

Derrapada do skate olímpico

Penso que a Confederação Brasileira de Skate (CBSk) está errada ao sacar Kelvin Hoefler da seleção por ele não ter concordado com as contrapartidas cobradas de todos os atletas. A seleção existe por motivos técnicos, e o dinheiro é consequência. Kelvin é dos melhores do mundo e a CBSk deveria incluí-lo na seleção para acompanhá-lo de perto e dar a ele o suporte necessário, usando para isso outros recursos que não os da Caixa, ainda que não pague salário a ele como paga aos demais.

Letícia Bufoni também não entrou na seleção, porque não quis. Tinha resultados para isso. Diz ela que vai cuidar da vida pessoal este ano e, ano que vem, volta à seleção. Vejo um problema, porém: a seleção deve seguir critérios técnicos. Letícia saiu da seleção porque quis. Para voltar, precisa ter resultados. Sua volta precisa depender deles.

Menos é mais no vôlei em Paris

Uma equipe de vôlei precisará fazer dois jogos a menos do que em Tóquio para ser campeã olímpica em 2024. A FIVB divulgou o formato de competição das Olimpíadas de Paris, com três grupos de quatro equipes, e não mais dois hexagonais na primeira fase. Com isso, cada equipe fará três jogos antes das quartas de final, e não cinco, jogando dia sim, dia não. Haverá mais tempo de descanso, o que é bom para os atletas, sem reduzir a receita com ingressos. Continuam sendo três sessões por dia, mas agora nem todas serão com rodada dupla.

Verde e amarelo na natação

O nadador Stephan Steverink, de 17 anos, vai defender o Brasil pelo menos até 2024. Classificado para o Mundial de Esportes Aquáticos de Budapeste, que será disputado em junho, o garoto de dupla nacionalidade tinha planos de, terminando o ensino médio, mudar-se para os EUA ou para a Holanda, terra do seu pai, para estudar medicina paralelamente aos treinos e talvez representar o país europeu. No Brasil, a família entende que isso é inviável. Stephan vai permanecer no país, agora treinado por Carlos Matheus, o Carlão, ex-treinador do Corinthians, e competindo pelo Brasil.

Roupa nova no atletismo

Depois de 11 anos vestindo Nike, o atletismo brasileiro viu o contrato não ser prorrogado pela gigante norte-americana no ano passado. Mas tudo bem. Na semana passada, a CBAt assinou um contrato ainda maior com a Puma, até o fim de 2024, por cerca de R$ 10 milhões em enxoval e bônus por performance. A empresa alemã tem no seu portfólio seleções como a Jamaica e atletas como Usain Bolt e o recordista mundial do salto com vara Armand Duplantis. O fenômeno Paulo André, com mais de 6 milhões de seguidores no Instagram, e que usará Puma quando competir pelo Brasil (embora tenha patrocínio pessoal da Nike), não influenciou nas negociações, fechadas antes do BBB.

COB em banho-maria

A semana deveria ser agitada no COB. Amanhã é dia de assembleia, onde Paulo Wanderley deveria ser cobrado pela injustificável demissão de Jorge Bichara para promover pessoas próximas à sua família. Mas anota aí: ninguém vai se rebelar. Alguma emoção, talvez, só na eleição para o Conselho de Ética. Joanna Maranhão deve ganhar uma cadeira como membro não independente (porque ela é uma ex-atleta de natação, não por estar aliada a alguém). O advogado Alberto Murray tenta voltar como membro independente, mas sua reeleição parece difícil.

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